Eleito da TV Cultura abre mão da remuneração do cargo

Presidente do Conselho da Fundação Padre Anchieta, Belisário dos Santos Jr. foi eleito segunda

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Por Cristina Padiglione
Atualização:

Eleito por 26 votos a 15 para a presidência do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta, o advogado Belisário dos Santos Jr. pretende despertar nos telespectadores um interesse pela TV Cultura que seja compatível ao orgulho e à admiração que a sociedade tem de sua emissora pública paulista. Embora tenha uma programação de qualidade reconhecida pelo público, a Cultura amarga índices de audiência média inferiores a 1 ponto no Ibope da Grande São Paulo, onde cada ponto equivale a 60 mil domicílios. Para honrar um mandato tampão de 11 meses, Belisário abrirá mão do salário de R$ 18 mil atribuídos ao ocupante do cargo. Moacyr Expedito Marret Vaz Guimarães, titular do posto até anteontem, encerrou seu mandato de três anos antecipadamente porque sua condição de conselheiro teve o prazo expirado, sem alternativa de renovação. Belisário venceu Jorge da Cunha Lima, ex-presidente da Fundação Padre Anchieta e ex-presidente do Conselho, cuja oposição à administração do atual presidente da Fundação, João Sayad, tem sido abertamente declarada. Ao Estado, o novo presidente do Conselho disse que a vitória não foi conquista fácil - no mês passado, em uma primeira tentativa de votação, os dois empataram em 24 votos. "É uma eleição complicada. São muitas personalidades, juristas, secretários de Estado, ex-governadores, membro da Comissão da verdade... Meu oponente é uma pessoa de muitos anos de Fundação, de muitas relações, eu não tinha mais do que as minhas indicações e o meu passado", afirmou, Secretário de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo (1999/2000) e secretário da Administração Penitenciária do Estado (1995), Belisário é membro da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo e representa o Brasil na Comissão Internacional de Juristas, com sede em Genebra. Para colocar suas funções em prática, o advogado pretende usar o conhecimento de quem já esteve na outra ponta do fio que liga a TV Cultura ao governo de São Paulo - exatamente a dos recursos que sustentam a emissora - e a sabedoria de quem já frequenta o conselho da Fundação Padre Anchieta há sete anos, como membro do seleto grupo. "Sinto que há um diálogo difícil entre o governo e a Fundação porque, para o governo, muitas vezes a Fundação é um problema. A entidade produz bastante coisa e a TV Cultura tem uma programação de altíssimo nível, de uma qualidade absolutamente indiscutível", diz. Mas reconhece que falta ao público usufruir melhor esse conteúdo. "Nós temos algumas travas. Uma delas é a questão das TVs a cabo, a proliferação das TVs comunitárias e alguns problemas que enfrentamos, como decisões de redistribuidoras de sinal, que nos colocam numa posição um pouco acanhada." Em suas contas, o fornecimento de R$ 140 milhões por ano do governo equivaleria a R$ 3 por cidadão. "O problema é assegurar esse recurso, para pagar dissídio, por exemplo. São espaços importantes em que a questão fim é relativizada porque o meio não está garantido." O novo presidente do Conselho avisa que seu trabalho não se dará na programação, até porque, a seu ver, o conteúdo é algo muito bem resolvido pela atual gestão. "É lutar para que o Conselho seja um bom parceiro na TV Cultura e possa provar ao Estado e à sociedade que deve ter espírito elevado e que nós precisamos exigir que a TV se faça de uma forma ou de outra. Não se pode encher a programação de anúncio nem baixar o nível da programação." Mantra que norteia as TVs públicas, mas nem sempre alcança seu objetivo final, a Cultura "deve fazer o que as televisões comerciais não conseguem ou não querem fazer, que é um entretenimento de altíssima qualidade, de educação, de vários contrastes e não de uma linha editorial só". Belisário faz apenas a ressalva de que é preciso fazer com que isso chegue ao público e, para isso, lembra dos progressos feitos com a Osesp, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, nos concertos que hoje lotam a Sala São Paulo. "É preciso chamar toda a sociedade de alguma forma para mostrar a ela, por exemplo, 'olha o que você perdeu nos últimos 30 dias'."

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