Eleição na ABL pode não dar em nada

Três candidatos didivem igualmente a preferência dos imortais: o escritor Paulo Coelho, o cientista político Hélio Jaguaribe e o diplomata Mário Gibson Barbosa.Nenhum deles atinge os 19 votos mínimos para ganhar a vaga do economista Roberto Campos

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Por Agencia Estado
Atualização:

A eleição para a vaga do economista Roberto Campos, na Academia Brasileira de Letras (ABL), está tão equilibrada que corre o risco de não eleger um novo imortal. O pleito acontece na próxima quinta-feira, com nove canditatos, mas só três deles dividem os votos, segundo avaliações dos próprios acadêmicos: o escritor Paulo Coelho, o cientista político Hélio Jaguaribe e o diplomata Mário Gibson Barbosa. Cada um tem entre 11 e 15 votos, de acordo com os acadêmicos. O eleito precisa ter, no mínimo, 19 dos 37 votos válidos, segundo as normas da casa. De acordo com os estatutos, a eleição da Academia terá até quatro escrutínios e os votos podem mudar de dono em cada um deles, a não ser que tenham sido dados por escrito. Mas há um detalhe: o candidato que tiver menos de dez votos numa das votações, fica fora da próxima. Se ninguém conseguir votos suficientes nas quatro tentativas, a eleição é cancelada e o processo recomeça do início, inclusive com novas candidaturas. Isso aconteceu há 10 anos, quando o editor e poeta Álvaro Pacheco obteve 20 votos quando precisava de 21. A ?campanha? está acirrada desde o início, em outubro do ano passado, quando Campos morreu. Os três favoritos se inscreveram na mesma semana e, logo em seguida, Orlando Villas Bôas, autor de 14 livros contando sua experiência de sertanista, candidatou-se. ?Só concorro porque a literatura brasileira está muito urbana e precisa voltar-se para o sertão?, justificou-se na época. Não encontrou acolhida entre os acadêmicos e, ontem, só a secretária eletrônica atendia seu telefone, em São Paulo. O escritor Paulo Coelho também não foi localizado. Jaguaribe e Barbosa concordavam num ponto: a experiência profissional dos dois não conta nesta eleição. Para o primeiro, seu conhecimento de história e política tem pouca validade e, por isso, ele contrariou o ritual e não visitou todos os acadêmicos. ?Só aqueles com que tenho relações pessoais?, justificou. ?Não é uma eleição para cargo político, onde caberia fazer comício, ou para um clube social, que exigiria visitas aos eleitores. Mandei meus livros e currículos para todos e aguardo o resultado.? Por hábito profissional, Barbosa cumpriu a praxe e só não fez as visitas quando dispensado. Autor de um só livro, Na Diplomacia, o Traço todo da Vida, contando seus 50 anos de carreira diplomática, ele acha que qualquer prognóstico é pura suposição. ?Se minha carreira fosse política, talvez me ajudasse mais?, arrisca ele. ?Uma coisa é representar o Brasil nas Nações Unidas, onde cada embaixador age em função de seu governo. Outra, é buscar votos baseado em critérios pessoais, como acontece na Academia.? De qualquer forma, os três candidatos pretendem aguardar o resultado da eleição em casa, com champanhe e tira-gostos para os acadêmicos. A etiqueta manda os imortais os visitarem na vitória, para celebrar a imortalidade, ou na derrota, para consolá-los e incentivá-los para uma próxima oportunidade.

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