PUBLICIDADE

Ela voltou

Após mais de uma década sem dançar, Márcia Milhazes volta ao palco e se consagra como coreógrafa na Itália

Por Maria Eugenia de Menezes e RIO
Atualização:

Há mais de 11 anos um incidente tirou Márcia Milhazes do palco. Com o joelho machucado, a bailarina foi deixando de dançar. O que não significa, de maneira nenhuma, que a dança a tenha deixado. À frente da companhia que leva seu nome, construiu uma sólida trajetória como coreógrafa e diretora. E agora, passada mais de uma década, voltou a aventurar-se como intérprete.Como convidada do programa Encontros Notáveis, Márcia esteve em São Paulo para apresentar a obra Observações e Tentativas de Uma Coreógrafa - 2012. "É uma coisa despretensiosa, uma aula-espetáculo para brincar com algumas questões", disse ela. "Hoje não tenho mais a disciplina nem a forma daquela época, mas acredito que algo no corpo permanece. Se eu quisesse, acho que ainda dava. Mas outras coisas foram surgindo."No Rio de Janeiro, cidade onde vive, Márcia conversou com o Estado e revelou parte da agenda movimentada que a mantém feliz, mesmo afastada dos holofotes. "As pessoas esquecem que para você ser um artista acumula coisas um dia atrás do outro. É um trabalho contínuo, ininterrupto", pontua.Márcia está de malas prontas para a Itália, onde é convidada do festival internacional de Trento e apresenta duas coreografias: Meu Prazer, de 2008, e Camélia, sua obra mais recente.Exibido no CCBB de Brasília no início deste ano, esse último trabalho sinaliza um novo momento na trajetória de sua companhia. Marca uma forma diferente de se apropriar dos espaços, abandonando o confinamento das salas de espetáculo. Assim como acontece em todas as suas criações, Márcia conta com o cenário assinado por sua irmã, a festejada artista plástica Beatriz Milhazes. "Mas, aqui, a obra dela está ainda mais tridimensional", observa a coreógrafa.No evento italiano, Camélia irá ocupar o átrio central do Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Trento (Mart). Em São Paulo, poderá ser vista em setembro, integrando as atividades da próxima Bienal Internacional de Arte. Mudam os espaços, mas não a obsessão da dançarina pelo Brasil e sua música. "Na minha primeira coreografia, criada em 1983, eu já usava Villa-Lobos", recorda. "Acho que o meu percurso é completamente coerente. Coerente e difícil. A busca por um repertório raro, por uma musicalidade complicada. E jamais isso foi um pretexto para eu me dar bem."Ao longo dos anos, o compositor das Bachianas mereceu novos companheiros. Nomes como Francisco Mignone, Henrique Oswald e Francisco Alves passaram a visitar as trilhas da coreógrafa e a emprestar à sua arte uma dimensão que ela nomeia como política. "Isso tem um sentido. Trabalhei na Inglaterra, adoro os ingleses. O que não quer dizer que colocaria uma música deles na minha obra", argumenta. "Não preciso fazer panfletagem maquiada para me dar bem na Europa. Não preciso falar de pivete. Às vezes, trazer o Villa-Lobos é muito mais complicado que isso. Abrir mão das palavras em um mundo que as banalizou. Valorizar o gesto."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.