Einstein na era do pop

Einstein in the Beach, do início da carreira de Robert Wilson e Philip Glass, volta à cena 20 anos depois

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Por JOHN ROCKWELL e NOVA YORK
Atualização:

Algumas obras de arte tornam-se míticas porque são importantes ou porque poucas pessoas realmente as conhecem. Einstein on the Beach, ópera de quatro horas e meia ininterruptas de 1976, de Robert Wilson e Philip Glass, qualifica-se nas duas condições. Quando Einstein estrear para temporada na Brooklyn Academy of Music, no dia 14, será a primeira vez que Nova York a vê em 20 anos.Perguntas não faltam: um clássico do passado, cheio de referências à cultura pop, não poderia parecer obsoleto hoje? E os que amam a obra em suas encenações anteriores, em que medida as apresentações com elenco renovado no Brooklyn testarão a força de nossa nostalgia? Criadores e alguns intérpretes estavam se reencontrando de novo com a obra, desde que começaram os preparativos para a atual temporada, no fim de 2011. Glass e a coreógrafa Lucinda Childs, colaboradora fundamental, nunca mais viram a obra desde que a interpretaram.Einstein on the Beach representa o ápice da primeira fase da obra de Glass e Wilson. Glass tornou-se talvez o mais prolífico e popular de todos os autores contemporâneos, com particular paixão por ópera; o sucesso de Einstein levou empresários europeus a encomendar-lhe outras óperas, como o termo é mais entendido, a começar por Satyagraha, na Holanda, em 1979. Wilson já estava começando a transcender o amadorismo do SoHo. Einstein selou sua transição para diretor e designer internacional, que combina obras originais com encenações estilizadas e controversas de óperas e peças clássicas. Além disso, ele atua, desenha móveis, faz videoartes extraordinárias, coleciona objetos de todo o mundo e supervisiona seu ambicioso Watermill Center em Long Island.Einstein foi talvez o produto de maior orgulho do fabuloso cenário de artes cênicas de Lower Manhattan dos anos 1970. Sua beleza onírica, pictórica; as durações místicas; a música hipnótica; as alusões aos brilhos e perigos da obra de Einstein sem nunca parar a mera narrativa de uma história: tudo falava a uma geração que ainda exerce uma poderosa influência nas artes de vanguarda americanas e globais. Einstein foi chamada de ópera porque Wilson gostava de chamar de óperas todas suas peças grandes (The Life and Times of Joseph Stalin, Deafman Glance e outras). Não foi composta para orquestra, mas para o Philip Glass Ensemble, que consistia de dois teclados elétricos, três instrumentos de sopro e uma soprano solo sem palavras, tudo amplificado por uma mesa de som estilo de rock. Havia um coro, mas não cantores líricos.A peça foi encomendada por Michel Guy e o Avignon Festival e teve suas primeiras cinco apresentações ali. Seguiu depois para um tour por seis cidades europeias e desembarcou nos EUA em 22 e 29 de novembro de 1976 num Metropolitan Opera House lotado. Não porque o Met tivesse uma antevisão da sua importância. Ele alugou a casa por duas noites de domingo em que esta estaria desocupada. Wilson e Glass ganharam prestígio, mas perderam muito dinheiro. Wilson ficou endividado e Glass voltou a dirigir um táxi pouco depois de agradecer diante da cortina do Met.Em 1984, Harvey Lichtenstein e a Brooklyn Academy produziram um revival. A ideia era fazer uma turnê, mas esta não ocorreu. Houve outro revival em 1992, de novo na Brooklyn, e dessa vez em seis cidades europeias, mas em nenhum outro lugar dos EUA.A turnê atual levou alguns anos para ser montada. Houve entendimentos em 2001, mas os ataques em 11 de setembro desse ano em Nova York enterraram o assunto. Linda Brumbach, agente Glass, conseguiu montar um ambicioso itinerário para 2012. O elenco foi formado e começou a ensaiar no Baryshnikov Arts Center em Manhattan, mas a turnê na verdade começou em Montpellier, França, em março, e continuou em Reggio Emilia, Itália; Londres; e Toronto. Após o Brooklyn vieram Berkeley, Califórnia; Cidade do México, Amsterdã e Hong Kong. Há conversas sobre estender as apresentações até 2014, em cidades como Melbourne, Los Angeles, Buenos Aires e São Paulo e talvez Bahrein, Berlim e Paris.Nenhum esfoço foi feito para atualizar a peça. Ainda há muitas referências a eventos e à cultura pop da metade dos anos 70. Mas Wilson acredita que ela ainda funciona bem. "Estava curioso sobre como ela se sairia", disse. "Uma razão é que a estrutura é boa." Ele mesmo fez a dança solo frenética na penúltima cena da explosão nuclear, contrabalançando o violinista de cabelos crespos que aparece como Einstein. "Queria um visual demoníaco", disse Wilson. "Não o doce judeu velho no qual nos costumamos a pensar."Glass e Wilson ainda gostam de trabalhar juntos; os dois realizaram vários projetos desde Einstein e há rumores sobre outro projeto para o Brasil, para o qual foram realizados workshops no centro de artes de Wilson em Long Island neste verão americano, mas sem revelar datas. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIk

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