Edu e Chico Buarque juntos em musical

Candidatos a participar da peça musical Cambaio, com estréia prevista para abril, estiveram segunda no Sesc Belenzinho. As músicas ainda não estão prontas. "Provavelmente em março ainda estaremos compondo", diz Chico Buarque. Perfeccionista, como Edu Lobo, mexe nas letras até o último minuto

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Por Agencia Estado
Atualização:

Oitenta jovens e desconhecidos, ou pouco conhecidos, atores, cantores, músicos e dançarinos - melhor para quem pudesse apresentar todos os dotes - mostraram as qualidades no palco do Sesc Belenzinho, na segunda-feira. Era a última etapa da seleção do elenco para a peça musical Cambaio, que tem estréia marcada para abril, no Sesc Vila Mariana, com patrocínio do Sesc São Paulo e da Petrobrás. Os pretendentes a um papel no espetáculo exibiram suas qualidades num teste que, unanimemente, consideraram muito difícil: afinal, na platéia estavam os autores do texto, João e Adriana Falcão (João será também o diretor da peça), os autores da música, Edu Lobo e Chico Buarque, e o diretor musical, o compositor Lenine. Na condução das apresentações estavam o preparador vocal Felipe Abreu e a preparadora corporal Tânia Nardini. Edu Lobo e Lenine deram notas. Chico Buarque eximiu-se da tarefa: "Isso é coisa para o Edu, que é bom diretor musical", disse. E disse também que achava muito, muito complicado fazer a seleção. "É espantoso como tem gente talentosa", comentou. A decisão sobre quem seriam os 14 escolhidos - os 3 protagonistas e os 11 integrantes do coro - não foi tomada ao fim da apresentação dos candidatos. Todas as perfomances foram gravadas em vídeo, para um segundo exame, uma quebra de dúvidas. O nome dos escolhidos será divulgado até o dia 1.º de dezembro, quando começam os ensaios. As inscrições foram feitas pessoalmente ou pela Internet. Apresentaram-se 3.801 pretendentes às 14 vagas. O exame de currículos reduziu o número inicial para 450. Testes realizados na semana anterior peneiraram os 80 da segunda-feira. O texto e as músicas de Cambaio ainda não estão totalmente escrito e compostas. João e Adriana Falcão têm o enredo (leia abaixo) e estão elaborando os diálogos, que devem estar prontos até o fim do ano. As músicas, não. "Provavelmente em março ainda estaremos compondo" - Chico Buarque ri de si mesmo. Perfeccionista, como Edu Lobo, mexe nas letras até o último minuto. Além do mais, a intenção é fundir texto e canções. "É a intenção, mais adiante vai haver isso, porque o texto está sendo feito ao mesmo tempo, mas ainda não compusemos nenhuma música assim", conta Chico. Ele e Edu têm quatro canções já prontas. "Edu já compôs uma quinta; estou devendo a letra", Chico ri de novo. E é porque a música e o texto vão se fundir que tudo está sendo feito ao mesmo tempo. "Na verdade, é tudo muito provisório", Chico explica. "Quando surgirem as novas músicas, mesmo os diálogos já escritos podem ser modificados", acrescenta. "Depois, eventualmente, nos ensaios, pode aparecer a necessidade - ou dar a tentação - de fazer músicas novas, que, por sua vez, vão interferir, mais uma vez, no texto do João e da Adriana", continua. Ter acompanhado a exibição dos candidatos aos papéis da peça deixou-o animado: "Você assiste a um teste desses e dá vontade de fazer mais música, de criar mais personagens - são apenas três protagonistas - e escrever outras músicas para os novos protagonistas", anima-se. Já foi dito que texto e canções vão se fundir, mas, por enquanto, o espaço das canções está sendo definido por João e Adriana Falcão. "Da última vez que eles trouxeram para mim e para o Edu o roteiro da peça, já havia dez situações com indicações musicais, com solicitação de intervenções musicais", segue Chico. Ele lembra que, no fim do ano passado, Edu Lobo estava com vontade de compor um musical - em parceria com Chico - sobre os 500 anos do Descobrimento, mas a coisa não foi adiante. Ficou a vontade. Chico lembrou, então, que João Falcão - que, na época estava apresentando o espetáculo A Máquina no Recife - lhe havia falado de uma idéia para outro musical. Tinha o esboço de uma história. Consultou-o. Começaram a trabalhar, antes mesmo de conseguir patrocínio. "Mas apareceu, da Petrobrás, com apoio do Sesc; se não aparecesse, não sei o que aconteceria, porque a bilheteria não paga uma montagem assim", diz Chico. "A montagem que o João está imaginando foge ao padrão do teatro musical brasileiro", conta, sem dar detalhes. "E ele tem a intenção de tomar vastas liberdades com a nossa música, tanto que chamou o Lenine para a direção musical - o universo musical do Lenine é diverso do meu e do de Edu", considera. As quatro músicas já prontas, com títulos provisórios - tudo é provisório, ainda - são uma valsa, Uma Canção Inédita; um samba-canção, Canção de Junho; um blues, Este não Sou Eu; e um baião pop (ou algo que o valha, os autores ressalvam), Cambaio. As músicas deverão ser lançadas em dois discos (ainda não há contrato com gravadoras): num, Chico, Edu e Lenine cantarão as músicas; noutro, o elenco da peça as cantará. Uma curiosidade: A letra de Uma Canção Inédita diz: " O público não acredita/ O crítico não crê/ Na inédita canção escrita/ Só pra você." Pois é, esta canção, com este título, não é mesmo inédita. A primeira parte da melodia foi aproveitada (com letra diferente) de Casa de João de Barro, que estava na trilha do balé Dança da Meia Lua, de 1988, e que foi gravada na trilha do espetáculo, por Cláudio Nucci.

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