PUBLICIDADE

Editora inglesa organiza festival literário em Paraty

Liz Calder, fundadora da Bloomsbury e editora de Harry Potter, quer reunir na cidade carioca, no ano que vem, grandes nomes da literatura mundial

Por Agencia Estado
Atualização:

Se tudo correr como o planejado, em julho de 2003 a cidade de Paraty (RJ) vai passar a ser sede de um evento literário de primeira grandeza. É o que afirmou a editora britânica Liz Calder, fundadora da Bloomsbury, que esteve em São Paulo nesta semana definindo os principais pontos do projeto. Na quarta-feira, Liz, seu marido Louis Baum, que foi por 20 anos editor do The Bookseller, uma revista especializada no mercado editorial britânico, e a editora Tassy Barham discutiram com Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, e com possíveis produtores do evento detalhes para que ele venha a se concretizar. Pelo projeto inicial, o festival deve receber de 12 a 15 autores estrangeiros e de 20 a 25 brasileiros - além de promover leituras e prever montagens teatrais. O orçamento do 1.º Festival Literário de Paraty, que tem até logotipo, é de cerca de R$ 1 milhão. "Achamos Paraty um lugar fantástico para reunir escritores", diz Liz, que passa férias na cidade há cerca de dez anos. A equipe organizadora conta ainda com a participação de Roberto Feith, da Objetiva, e Sonny Mehta, da editora nova-iorquina Knopf. Agora, falta fechar os patrocínios para que a cidade receba nomes como Umberto Eco, J.M. Coetzee, Amos Oz, José Saramago e outros - nenhum deles ainda confirmado por Liz, mas todos eles fortes candidatos a integrar a lista de participantes do evento. Ela, na verdade, conhece o Brasil desde 1964. Veio para cá com o primeiro marido e ficou até 1968. Trabalhava como modelo free lancer - e chegou a fazer fotos para a revista Cláudia. "Foi uma ótima forma de aprender português: conversar por horas sentada nas salas de espera", brinca. Voltando a Londres, ela começou, em 1971, a trabalhar como editora e, nos anos 80, fundou a Bloomsbury. Entre os autores que já publicou, estão a sul-africana Prêmio Nobel de Literatura Nadine Gordimer, os canadenses Michael Ondaatje e Margaret Atwood e o indiano Salman Rusdhie. Também é ela a editora da escocesa J.K. Rowling, criadora da série Harry Potter, o fenômeno. "Demos muita sorte", completa Liz, depois de provocada, como se fosse um Ronaldinho evitando falar de seu último gol de placa. Liz conta que a Bloomsbury cresceu num momento em que as grandes editoras inglesas passavam por fusões e concentração de mercado. "Acho que demos certo porque tínhamos mais agilidade, podíamos tomar decisões sem que um sócio alemão precisasse aprová-las com antecedência." Além disso, ela defende que a editora tornou-se uma das mais importantes de língua inglesa porque apostou em bons autores: "Bons livros vendem bem, um editor precisa acreditar nisto." Calendário - O encontro de Paraty, explica Liz, deve se inspirar em outros grandes festivais literários do mundo. Ela cita o de Adelaide (Austrália) e o de Toronto (Canadá). Mas a grande referência será mesmo o evento que ocorre a cada dois anos em Hay-on-Wye, na Escócia. Surgido há cerca de 15 anos, com uma semana de duração, o encontro já dura três semanas e deve contar, em 2002, com a presença do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela e de Bill Gates. Entre os autores de literatura, estarão presentes os brasileiros Patrícia Melo e Milton Hatoum - que tem seus livros Inferno e The Brothers (Dois Irmãos) lançados na Grã-Bretanha pela Bloomsbury e que vão participar de uma noite brasileira em Hay-on-Wye, junto com o jornalista Alex Bellos, correspondente no Rio de Janeiro dos jornais The Guardian e The Observer e autor de Futebol: The Brazilian Way of Life. Para Liz, Patrícia, que já teve outros dois livros publicados pela Bloomsbury, e Hatoum têm um atrativo especial para os leitores ingleses: contam histórias de lugares pouco conhecidos por eles - a favela carioca e a cidade de Manaus. "Os escritores levam vidas muito solitárias", acredita Liz, explicando porque razão acredita que o festival de Paraty vai passar a fazer parte do calendário dos mais importantes eventos de autores e porque acha que, em 2003, é possível esperar um encontro de Umberto Eco com José Saramago na cidade. "Depois que terminam seus livros, eles querem encontrar outros autores, que conhecem apenas pelos livros, e seus leitores." Ela diz ainda que Paraty, que fica no meio do caminho entre o Rio de Janeiro e São Paulo, está "perfeitamente situada". O prospecto que está levando aos candidatos a apoiar o projeto chama a cidade, cuja arquitetura é marcada pelo estilo colonial do século 18, de "jóia" na costa tropical do Brasil, circundada por mar, praias, ilhas e vegetação. Aliás, um dos primeiros livros de autor brasileiro publicado pela Bloomsbury foi Paratii - Entre Dois Pólos, do navegador Amyr Klink. Ela também publicou Estorvo e Benjamin, de Chico Buarque, Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos, de Rubem Fonseca, e Memórias Póstumas de Braz Cubas e Quincas Borba, de Machado de Assis. "É um conceito único no Brasil", afirma Liz, que integra a equipe de organizadores do festival escocês. "E nossa idéia não nasceu ontem, ela vem sendo gestada já há algum tempo." Na sua opinião, o evento em Paraty pode ajudar a pôr a língua portuguesa - e, em especial, os autores brasileiros - em maior evidência no mercado literário internacional. "As pessoas prestam pouca atenção não só à literatura brasileira, mas à arte brasileira em geral", emenda seu marido Louis Baum. "O festival pode mudar o nível da atenção à arte do Brasil, jogando uma luz sobre a literatura brasileira", completa ele.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.