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Edição de luxo para José Lins do Rego

Pureza foi o título escolhido pela Confraria dos Bibliófilos do Brasil (CBB), para fazer parte de um catálogo especial de livros tratados como obra de arte

Por Agencia Estado
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O leitor comum, mesmo quando apaixonado por literatura, interessa-se primordialmente pelo conteúdo de um livro e menos pelo formato. Desde que permita uma leitura confortável, sem folhas caindo ou letras muito pequenas, uma encadernação simples já satisfaz. Mas existem os apaixonados pelo objeto livro, os bibliófilos. Mineiro morador de Brasília há mais de 30 anos, José Salles Neto é um desses aficionados por livros que, para ele, devem ser também obras de arte. Traduzindo, um livro produzido artesanalmente, ilustrado com xilogravuras, impresso em papel especial e de capa dura. Disposto a compartilhar essa paixão, Salles Neto fundou em 1996 a Confraria dos Bibliófilos do Brasil (CBB), cujo estatuto prevê edições numeradas de romances de reconhecido valor literário em edições de luxo, numeradas e com tiragem limitada a 200 exemplares. O Quinze, de Rachel de Queiroz, e A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa, este último ilustrado com xilogravuras assinadas por Poty Lazzarotto, foram as primeiras publicações, atualmente esgotadas. A CBB lança agora o seu nono título, uma bela edição de Pureza, de José Lins do Rego, ilustrada pelo paraibano Flávio Tavares. José Mindlin, José Sarney, Marco Maciel e Ricardo Semler estão entre os sócios da Confraria que acabou aumentando sua tiragem, a partir da terceira publicação, Juca Mulato, de Menotti Del Picchia, para 250 exemplares numerados, por causa da grande procura de candidatos a sócios. Nós fazemos uma espécie de seleção. Acho que não existem cem bibliófilos em todo o Brasil. Mas procuramos pelo menos ter sócios que realmente gostem do objeto livro. Proprietário de uma biblioteca de mais de 12 mil volumes e de 2 mil livros de arte, Salles confessa perder o sono por mais de duas semanas caso encontre um riscadinho em um de seus livros. Foi para pessoas como ele que fundou a CBB. Com o aumento de tiragem ainda há vagas para 30 sócios, diz Salles. Para ficar sócio, é preciso adquirir o último volume editado - Pureza - e a confraria ainda facilita a aquisição dos exemplares ainda não esgotados, entre eles uma belíssima edição de Vidas Secas, a única edição de luxo desse romance de Graciliano Ramos. Cada volume custa R$ 130,00. É pouco; no mercado, um livro como esse não custaria menos do que R$ 300,00, garante Salles. Mas está no estatuto - o valor de cada volume jamais poderá ultrapassar R$ 150,00. Relevo - A escolha de cada autor seguiu uma lógica especial. No caso de José Lins do Rego, ano passado, quando o volume deveria ter sido lançado, comemorava-se o centenário de seu nascimento. "A edição atrasou porque faltou chumbo. Impressão artesanal em tipografia é coisa que quase não se faz mais. E, para ser feita, é preciso uma liga de chumbo e antimônio, um chumbo especial, diferente do que é usado em pneus de carro ou material de pesca", esclarece Salles. "Consegui quem fizesse para mim em São Paulo e já encomendei uma tonelada, para prevenir", diz. "O resultado vale a pena. Só de passar a mão na página, a gente nota a diferença. O tipo entra no papel; fica um alto relevo no verso." A impressão é feita em face única. "Acho que a maioria dos sócios da Confraria lê o romance em outras edições. Esta é só para ser apreciada", exagera Salles. Como sempre, Pureza foi escolhido a partir de uma votação dos sócios entre alguns títulos sugeridos por Salles. "A argumentação foi de que era um bom romance, menos conhecido do que Fogo Morto ou Menino de Engenho. Assim, a Confraria teria também o papel de chamar a atenção sobre ele. E é um dos meus prediletos", confessa. José Lins do Rego nasceu na Paraíba em 1901 e morreu aos 56 anos. Perdeu o pai quando tinha 1 ano e foi criado longe da mãe. Pureza foi lançado em 1937. O personagem central, Luiz, perde os pais e sua irmã mortos pela pneumonia. Para recuperar-se da perda, é enviado a Pureza, uma cidade pequena, onde praticamente só existe a estação ferroviária. Lá vai se apaixonar pelas filhas do homem que cuida da estação. "É o livro sobre o ritual de passagem de um garoto para a idade adulta." Flávio Tavares, o criador das inúmeras ilustrações do volume é também paraibano. "Isso é algo que temos perseguido e alcançado - ter sempre um ilustrador da mesma região do autor." Salles já adianta o próximo lançamento da CBB. A Polaquinha, de Dalton Trevisan, fruto de uma longa negociação, mais de dois anos de conversas." Os interessados em associar-se à CBB devem entrar em contato com Salles pelos telefones (61) 3815605 ou (61) 3681792; pela Internet através do endereço conbiblibr@yahoo.com.br; ou ainda pelo correio, através da Caixa Postal 8631, CEP 72312-970, Brasília, DF.

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