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Eder Santos é parte da história da videoarte no Brasil

O videoartista é candidato ao Prêmio Multicultural Estadão 2002, pelo mérito de ter criado uma linguagem pessoal usando o vídeo como meio de expressão, o que já faz escola

Por Agencia Estado
Atualização:

É impossível falar sobre a história da videoarte no Brasil sem mencionar Eder Santos, também candidato ao Prêmio Multicultural Estadão 2002, e sua produtora Emvídeo, responsáveis ao longo das duas últimas décadas pela criação de uma linguagem absolutamente pessoal neste campo de criação e que acabou fazendo escola, transformando Belo Horizonte em um dos pólos de jovem criação audiovisual do País. Muitos podem pensar que esse destaque se deva ao cuidado técnico, à obtenção de elevados standards de qualidade plástica. Muito ao contrário: o que caracteriza de maneira bastante diferenciada a obra de Santos é o fato de ele se apropriar dos defeitos, da sujeira, dos excessos e desvios da linguagem do vídeo, transformando-os em elementos constitutivos de seu trabalho, tanto em termos plásticos quanto simbólicos, fazendo das impurezas uma crítica à colonização cultural a que somos submetidos. Nos cerca de 30 vídeos e videoinstalações criados por ele - com a ajuda inevitável do companheiro Marcus Vinicius Nascimento e de seus outros sócios, o que segundo ele faz com que essa indicação seja bem mais do que um reconhecimento apenas a seu trabalho pessoal - não está presente nem o desejo de criar um produto de qualidade pasteurizada para a televisão nem a necessidade de questionar esse padrão, buscando o caminho da anti-TV. A idéia de televisão é abandonada e o vídeo torna-se apenas um meio de expressão poética e visual, tanto que na maioria de seus trabalhos de expressão pessoal, o formato tradicional do monitor é abandonado e as projeções são feitas em superfícies bem maiores do que as utilizadas tradicionalmente. O vídeo surgiu quase que naturalmente, pela facilidade do veículo e tornou-se rapidamente a linguagem do jovem estudante de artes plásticas, que já vinha desenvolvendo alguns trabalhos com equipamento de super-8. A formação artística mais clássica, aliás, continua bastante presente na sua obra. "Às vezes, a edição de um vídeo é como uma pintura. O processo de construção de imagem é parecido com o ato de pintar; nem sempre a coisa é coordenada, roteirizada", explica. Mas, mais importante do que o aspecto formal da criação artística de Santos é seu conteúdo crítico. A idéia de reforçar as falhas da gravação não apenas tem um efeito plástico, às vezes pictórico, como põe em relevo o caráter de manipulação da imagem, a idéia de que muitas vezes engolimos sem crítica o discurso hegemônico. Em obras como Não Vou à África Porque Tenho Plantão, por exemplo, ele explora a questão das legendas da tradução. Ao fazer o que chama de "defeitos especiais", põe em destaque aquilo que estamos o tempo todo tentando esconder, nossa formação cultural colonizada, nossa dificuldade em estabelecer bases que nos permitam compreender quem realmente somos e, sobretudo, para onde queremos ir. Em alguns momentos ele chega a incorporar imagens outras não captadas por ele, trechos de filmes velhos encontrados ao acaso. "Uso essa imagem ruim e a faço ficar bonita", mostrando que seu interesse está além de standards banais e generalizados de "qualidade estética" e talvez por isso, por essa pesquisa genuína, que se pretende brasileira, venha conquistando tanto reconhecimento internacional. Na verdade, Santos divide seus trabalhos em vídeo em duas categorias básicas: aqueles críticos, como o já citado Vou à África, Europa em 5 Minutos e Enredando as Pessoas, e aqueles mais poéticos e oníricos, como Mentiras & Humilhações e Tumitinhas. Também convém mencionar as performances, realizadas em parceria com Paulo Santos, do grupo Uakti, as videoinstalações e também os trabalhos desenvolvidos normalmente por sua produtora. Neste momento, por exemplo, a Emvídeo está tocando o projeto Conto à Meia-Noite em parceria com a TV Cultura de São Paulo, com o intuito de criar um novo espaço para a literatura na televisão. Infelizmente, poucos são os lugares em que o público pode ver seu trabalho, principalmente as investigações mais poéticas. Isto é, o público brasileiro, já que há obras de Santos em acervos estrangeiros importantes, como o dos museus de arte moderna de Nova York (MoMA) e de Paris (Centro Georges Pompidou), enquanto que nenhum museu brasileiro tem cópias de seus filmes. Para vê-los, é possível recorrer apenas à associação VideoBrasil (curiosamente outra das indicadas para o Prêmio Multicultural Estadão, mas na categoria de fomentador). Santos está preparando para setembro do próximo ano sua primeira mostra em uma galeria comercial paulistana, a Brito Cimino, e vem desenvolvendo uma série de projetos. Recebeu sua segunda bolsa Vitae para escrever seu segundo longa-metragem (o primeiro foi Enredando as Pessoas, com co-produção dinamarquesa), que tem o título provisório de The Blue Desert e deve ser rodado em 2003, e também se prepara para filmar um novo curta, com patrocínio da Petrobras. Paralelamente, ele se prepara para realizar uma retrospectiva de sua obra na Holanda, onde mostrará seis videoinstalações, em homenagem aos 20 anos de sua produtora.

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