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E esse tal de barroso...

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Falador, Lobão passou metade da vida dizendo a jornalistas suas verdades e absurdos. No sábado passado, antes da entrevista ao Estado, ele deu outra, especialmente entusiasmado. O foco não era a biografia, mas um dos maiores amigos que já teve, Júlio Barroso, cuja curta trajetória (1954-1984) vai virar filme de ficção de Roberto Santucci (de Bellini e a esfinge). "Júlio era "o" cara, estava anos-luz na frente de todos. Tinha uma erudição profunda sobre música brasileira. Éramos vistos como bicha, maconheiro e roqueiro, ou seja, o cocô do cavalo do bandido e, sem ele, não conseguimos". Lembrou episódios tão surrealistas que uma senhorinha que estava num sofá no lobby do hotel, por acaso perto de onde Lobão se sentava, ficou "encantada". "Quem é esse homem tão envolvente?", perguntava. Histórias como a da vez em que ele "roubou" a namorada de Júlio. A dor de corno foi curada com bebida e Roberto Carlos na vitrola. Quando se reviram, Júlio sugeriu uma "surubinha". Já o desespero profundo que Lobão sentiu com a perda de Júlio ele expurgou junto com Cazuza, cheirando "lagartas de cocaína" sobre seu caixão - é o relato do prólogo do livro, o que dá a medida da reverberação dessa morte nos anos que se seguiram.Nacionalmente conhecido com o festival MPB-Shell de 1981, o compositor de família rica, que queria "ficar velhinho fazendo música", como deixou registrado numa gravação, só lançou um LP, Essa Tal de Gang 90 & As Absurdettes, que começava com o superhit Nosso Louco Amor e tinha Perdidos na Selva e Telefone, tocados exaustivamente nas rádios e em programas de TV como o do Chacrinha. Quando se preparava para gravar o segundo, caiu do 11.º andar de seu prédio, em São Paulo. Como outros, Lobão assegura que não foi suicídio - não era a dele. "Minha gargalhada é a do Júlio. Tenho aflição enorme de ver o trabalho dele nesse lusco-fusco."Daí a empolgação com a entrevista a Santucci e a Eduardo Poyares, o idealizador do projeto. Antes, eles estiveram com o poeta Bernardo Vilhena, parceiro de Lobão em Vida Bandida, Essa Noite, Não e Chorando no Campo. E com Ezequiel Neves, já perto da morte - acreditam ter gravado sua última entrevista."Cada uma é mais estimulante que a outra. Pelo que os amigos contam, era um cara engraçado, carismático, atípico mesmo", diz Santucci. O diretor ainda está descobrindo o Júlio dos amigos, para depois formatar o filme, que reproduzirá seu círculo afetivo. Trechos poderão aparecer como extras.

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