"E Éramos Todos Thunderbirds", uma sátira da vida

Nessa peça, os personagens integram uma mesma família de ladrões de carro. Os mais velhos tentam "poupar" o mais novo da profissão, mas o autor não tem ilusões

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Por Agencia Estado
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Se a mediocridade é tamanha que não merece nem mesmo o esforço do bom debate, o melhor é usar as armas de ironia e do humor. Foi o que decidiu fazer Mário Bortolotto em E Éramos Todos Thunderbirds, espetáculo que estréia nesta sexta-feira, no Espaço Cultura Inglesa de Vila Mariana. "É a minha peça mais leve", diz Bortolotto, que assina o texto, a direção e ainda atua no elenco integrado por Fernanda d´Umbra, Aline Abovsky, João Fábio Cabral, Joeli Pimentel e Wilton Andrade. Ainda que sempre bem-humorado, Bortolotto costuma ser bastante ácido na crítica a idiotia consumista e à padronização do gosto médio imposto pela indústria cultural, temas que perpassam a maioria de suas peças. Entre as mais recentes, Leila Baby aborda uma relação amorosa destrutiva e Tempo de Trégua explora conflitos familiares. A violência como conseqüência de uma sociedade injusta está presente em Nossa Vida não Vale um Chevrolet, pela qual Bortolotto ganhou o Prêmio Shell de Teatro. Nessa peça, os personagens integram uma mesma família de ladrões de carro. Os mais velhos tentam "poupar" o mais novo da profissão, mas o autor não tem ilusões - não há saída para a grande maioria nesse Brasil que completou 500 anos de contínua e crescente desigualdade social. Paradoxalmente, a valorização do enriquecimento e da fama como fórmulas de felicidade espalha-se por todo o País e começa a influenciar até mesmo os mais resistentes. "Conheço muito garoto de 22 anos que se sente fracassado por não ter um carro", argumenta Bortolotto. Em E Éramos Todos Thunderbirds ele resolve ironizar esses valores e como seria de se esperar, radicaliza. Os personagens centrais da peça, quatro amigos, recusam o mundo do trabalho. Como sobreviver é preciso, resolvem traficar maconha, mas mesmo nisso "fracassam" uma vez que consomem o que deveriam vender. Ainda assim sofrem uma crise de abstinência - de videoclipes. O título da peça é uma brincadeira com o nome do apresentador da "MTV", Thunderbird. "Os personagens curtiam a época que a "MTV" passava clipe o dia inteiro. Atualmente o canal está cheio de programa de auditório, do tipo consultoria sexual, mulher falando dos problemas delas. Pode até ser legal, mas isso já tem demais em outros canais", critica Bortolotto. "Thunderbirds é uma comédia, na qual brinco com essas coisas." Ao contrário de seus personagens, Bortolotto trabalha compulsivamente. "Tenho quase 40 anos e não tenho carro, não tenho nada para deixar para minha filha a não ser os direitos autorais de minhas peças. Na visão predominante, isso não é ser bem-sucedido. Por ceder a esse tipo de cobrança, tem artista que esculhamba sua carreira. O conceito de fracasso é relativo, tem gente que não quer correr atrás de bens materiais e está bem assim." Serviço - E Éramos Todos Thunderbirds. Texto e direção Mário Bortolotto. Sexta e sábado, às 21 horas; domingo, às 19 horas. R$ 10,00. Teatro Cultura Inglesa da Vila Mariana. Rua Madre Cabrini, 413, tel. (11) 5549-1722. Até 5/5

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