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"Duelo de Sol" é western melodramático

Jennifer Jonnes, mulher do produtor David Selznick, interpreta a mestiça Pearl Chavez, que provoca paixões destrutivas nos homens de sua vida

Por Agencia Estado
Atualização:

Jennifer Jones pode ter sido uma grande canastrona, mas faz parte da história do cinema. Não apenas ela ganhou o Oscar por A Canção de Bernadette, de Henry King, de 1943, sobre a pastora que teve a visão da Virgem Maria, como estrelou um dos maiores filmes de King Vidor: em A Fúria do Desejo, de 1952, fez uma sublime Ruby Gentry, provocando uma paixão mortal no personagem interpretado por Charlton Heston. Seis anos antes, trabalhando pela primeira vez com o rei Vidor, Jennifer criou outra heroína endiabrada - a Pearl Chavez de Duelo ao Sol. O western de King Vidor está sendo lançado em DVD pela Classicline. Se você curte o gênero que os americanos chamam de ?horse opera? não pode perder a história da mestiça que provoca o antagonismo entre dois irmãos, numa retomada da saga bíblica de Caim e Abel. Nada menos tradicional, ou clássico, do que esse bangue-bangue. King Vidor distancia-se dos cânones do gênero, subvertendo códigos que respeitaria em Homem sem Rumo, de 1955, com Kirk Douglas no papel do caubói errante para quem as cercas que começam a definir as propriedades no Velho Oeste representam uma restrição ao seu conceito mítico de liberdade. Na verdade, mais do que um western Duelo ao Sol talvez seja um melodrama - um soberbo melodrama que o produtor David Selznick, o mesmo de ...E o Vento Levou, patrocinou para oferecer um papel sob medida à sua mulher. A história de Hollywood poderia ter sido outra se Selznick tivesse conhecido Jennifer antes. Ela teria temperamento para fazer a lendária Scarlett O?Hara e ele, provavelmente, lhe daria o papel, mas se o fizesse teria privado o público da antológica interpretação de Vivien Leigh. Duelo ao Sol trata da guerra entre clãs no Velho Oeste. Algumas das cenas mais intensas do filme mostram as ruidosas cavalgadas de bandos rivais a caminho do combate. Não são dois nem três cavaleiros. São dezenas, centenas. Para Selznick, tudo tinha de ser grandioso. O elenco de Duelo ao Sol é a prova disso. Ao redor de Jennifer, sua amada, ele colocou Gregory Peck, Joseph Cotten - na sua fase de galã - e também figuras míticas como Lionel Barrymore, Herbert Marshall, Walter Huston, Butterfly McQueen (de ...E o Vento Levou), Charles Bickford e a estrela do cinema silencioso Lilian Gish, dos filmes do pioneiro David W. Griffith. As cenas iniciais de Duelo ao Sol, uma dança sensual na taverna, já antecipa o clima do filme - mas a cena, ao que consta, não foi realizada por Vidor. Como em ...E o Vento Levou, no qual manipulou um batalhão de diretores, Selznick fez apelo aqui a outros realizadores e a referida cena teria sido dirigida por William Dieterle. Faz sentido: são imagens que evocam o barroquismo de O Corcunda de Notre-Dame, a versão com Charles Laughton, que Dieterle assinou. Nunca houve um western como esse. Bizarro seria um bom adjetivo para defini-lo. Levando o melodrama ao limite, Vidor subverte a mais cara tradição do gênero, o duelo final, ao fazer com que homem e mulher - os amantes - se defrontem a tiros, no desfecho. É sublime ou ridículo, dependendo do seu olhar para o que o diretor propõe. Serviço - Duelo ao Sol (Duel in the Sun). EUA, 1946, DVD da Classicline. Nas lojas, R$34,80.

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