Duas OSBs e um só foco no futuro

Grupo formado por músicos demitidos e recontratados faz primeiro concerto

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Por Roberta Pennafort e RIO
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No concerto do último sábado no complexo de favelas do Alemão, o maestro Roberto Minczuk apresentou a Orquestra Sinfônica Brasileira "de todos". Mais do que uma referência à integração, pela música, da população local - até um ano atrás dominada por traficantes de drogas -, à cidade formal, "culta", ele prenunciava uma nova fase da OSB, que busca superar o conturbado 2011 para seguir em 2012 sua trajetória de 71 anos de sucesso. Foi um ano que começou muito mal, com a queda de braço entre parte dos músicos, alguns com décadas de casa, e a direção da orquestra, que instaurou um sistema de avaliação que eles consideraram humilhante. Seguiram-se seis meses de protestos e negociações no Ministério do Trabalho. O meio musical se solidarizou e se pôs contra a OSB. Artistas de renome, como Nelson Freire, cancelaram participações. Concertos? Só em agosto, e com parte dos músicos contratados temporariamente. Em abril, regendo a OSB Jovem, Minczuk, idealizador das provas, chegou a ser vaiado no palco do Teatro Municipal, do qual era diretor artístico. A distensão só veio em setembro, quando as partes assinaram acordo e o grupo que havia sido demitido por justa causa foi reincorporado. Como os instrumentistas não aceitavam mais trabalhar com o maestro, e não haviam passado pelas audições, criou-se a OSB Ópera & Repertório, novo corpo orquestral, com 37 integrantes, que vai se dedicar a um repertório operístico e apresentações de câmara.A estreia é hoje, com dois concertos, às 12h30 e 19 horas, no Centro Cultural Banco do Brasil, só com as 20 cordas do grupo. Amanhã, entram os metais. No domingo, os músicos todos, com coro, se apresentam na Igreja da Candelária. O programa dos três dias varia, mas todos têm clima festivo, com o Concerto de Natal, de Arcangelo Corelli, Jesus, Alegria dos Homens, de Bach, e a Cantata de Natal, de Ernani Aguiar."Estamos muito felizes, o clima está excelente. Criamos uma cumplicidade muito grande. E o fato de agora participarmos das decisões faz toda a diferença", contou a violinista Deborah Cheyne, que, como presidente do Sindicatos dos Músicos, conduziu as negociações. "São músicos de muita qualidade, que estão motivados para uma nova etapa", disse o regente convidado, o violinista Daniel Guedes.Os ensaios começaram há duas semanas, no Clube Israelita Brasileiro, em Copacabana, cerca de 20 quilômetros distante da Arena, na Barra, onde ensaiam os 68 instrumentistas da OSB - os remanescentes somados aos incorporados nos últimos anos (brasileiros, norte-americanos, europeus), em fase de adaptação. São dois grupos apartados, de regimentos internos e salários distintos, cujos repertórios vão se complementar, ressalta o presidente da Fundação OSB, Eleazar de Carvalho Filho. "Até março vamos divulgar a programação das duas orquestras. Queremos dar destaque a ambas. Foi um ano desafiador, mas conseguimos fazer 85 apresentações e estamos voltando ao caminho que queríamos. O tempo vai ajudar a cicatrizar."O esforço para pôr a OSB O&R para tocar ainda em 2011 é nítido. "Estamos muito ansiosos. Conseguimos resolver os problemas e colocar nossos corpos artísticos trabalhando a todo vapor", resumiu Fernando Bicudo, chamado em julho para a direção artística, com Pablo Castellar, no lugar que era de Minczuk. O regente titular, que não concede entrevista há meses, segue sem dar declarações.Segundo Ricardo Levisky, o diretor de negócios, a crise não maculou a imagem da OSB junto aos três mantenedores e 16 patrocinadores, que garantirão o orçamento de R$ 32 milhões, podendo chegar a R$ 40 milhões.

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