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Duas gerações, a mesma visão

As atrizes Nydia Licia e Karen Coelho falam sobre os mesmos papéis que ambas já defenderam no teatro

Por Maria Eugenia de Menezes
Atualização:

Vivências. Em uma tarde, um passeio por muitos marcos do teatro paulista no último século

 

 

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Ela está certa de ter nascido na época errada. Aos 25 anos, Karen Coelho parece sentir saudade de um tempo que não viveu. Imagina-se andando pelos corredores do TBC - o Teatro Brasileiro de Comédia. Pensa, às vezes, em como seria ver Franco Zampari, o grande mecenas e produtor italiano, levantando o velho teatro da Rua Major Diogo, e no deslumbre de ser dirigida pelos encenadores que ele importou da Europa naqueles anos: Ruggero Jacobbi, Adolfo Celi, Flaminio Bollini.

 

Em cartaz com Olhe para Trás com Raiva, peça que carrega todo o desencanto do pós-guerra na década de 1950, Karen paira como uma estranha no ninho da cena teatral contemporânea.

 

Devota dos densos dramas do teatro realista do século 20, discorre com desenvoltura sobre a psicologia das personagens, tece elucubrações sobre as intenções do texto e passa ao largo das discussões sobre o teatro pós-dramático ou os novos paradigmas da dramaturgia. "Às vezes, não consigo conhecer gente da minha idade com quem conversar. É uma cumplicidade muito rara", diz a atriz, explicando ter encontrado uma interlocutora em Nydia Licia, a italiana que nasceu em 1926 e foi uma das grandes damas dos anos de ouro do TBC, ao lado de Cacilda Becker, Cleyde Yáconis e Tônia Carrero.

 

A convite do Estado, Karen esteve na casa de Nydia na última semana e, finalmente, concretizou seus planos de conhecê-la. O desejo era antigo, acalentado desde o ano passado, ao perceber uma coincidência em suas trajetórias. Ainda durante os ensaios de Zoológico de Vidro, ela descobriu que, na primeira versão brasileira para o texto de Tennessee Williams, havia sido Nydia quem interpretara o seu papel: a frágil e doente Laura. Neste ano, quando Karen estreou Olhe para Trás com Raiva, lá estava Nydia Licia de novo. Na única vez em que o texto foi montado no Brasil, coube justamente à atriz do TBC encarnar a submissa Alisson, protagonista do drama de John Osborne. "Desde então, tenho muito vontade de encontrá-la. Mas não sabia onde ela estava, o que estava fazendo e nem podia imaginar que estivesse ainda tão atuante: dando aulas, preparando atores."

 

Regada a café, a conversa entre as duas - a jovem e a veterana atriz - atravessou uma tarde inteira e passeou por muitos dos marcos do teatro paulistano do últimos século: o método preciso com que Ziembinski conduzia suas peças e seus atores, a estreia de Nydia no Teatro Municipal dirigida por Alfredo Mesquita, o casamento com Sergio Cardoso e a companhia que construíram juntos.

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