Dossiê aponta causas da crise na TV Cultura

Ex-diretora superintendente da fundação elaborou documento apontando indícios de irregularidades na atual gestão na instituição

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Por Agencia Estado
Atualização:

Às vésperas da entrada de seu novo presidente, a TV Cultura vive uma nova crise institucional. Relatório financeiro preparado pela ex-diretora superintendente da emissora, Julieda Puig Paes Pereira, entregue no dia 25 a conselheiros da Fundação Padre Anchieta (ocasião em que ela pediu demissão), contradiz declarações da atual gestão da TV e aponta indícios de irregularidades na instituição. "A crise da Cultura não é uma crise de receitas, como comumente se diz, mas uma crise de despesas", afirma o texto do relatório, obtido com exclusividade pelo Estado. Segundo o documento, a emissora teria tido um prejuízo de R$ 50 milhões no exercício de 2003 - oficialmente, a direção da TV diz que as finanças da fundação estão equilibradas. O prejuízo foi detectado após a diretora superintendente ter feito um ajuste de R$ 51 milhões no balanço do ano passado, "explicitando passivos até então ignorados", segundo afirma Julieda no documento. A afirmação dá a entender que os balanços da emissora vinham sendo maquiados para ocultar prejuízos consecutivos. Outros dados do levantamento mostram que a receita da TV Cultura subiu 25% nos últimos três anos, em comparação com o período de maior crise, entre 1995 e 1997. O principal motivo foi o incremento de publicidade. Ainda assim, a audiência caiu 40% e o total de horas inéditas na programação caiu 41%. A ex-diretora superintendente afirma que conseguiu recolocar 35% dos profissionais da emissora demitidos durante o período da mais grave crise, além de elevar a produtividade em 61%. Também o patrimônio líquido, que registrava anualmente um saldo negativo de R$ 5 milhões, tornou-se superavitário, com R$ 10 milhões positivos. Ainda assim, a emissora continuou sem fazer investimentos significativos em programação, e teve de pedir ajuda ao governo estadual para fazer reparos de emergência na estrutura de uma caixa d´água da sede da emissora, que ameaçava desabar. O presidente da fundação, Jorge da Cunha Lima, recebeu o documento no mesmo dia que os outros 44 conselheiros da instituição, mas não o comentou. Em seguida, viajou para Barcelona, onde tinha um compromisso oficial, e voltaria hoje ao País, segundo informou a Assessoria de Imprensa da TV Cultura. Julieda Paes também viajou, segundo informações obtidas pela reportagem, logo após a entrega do relatório e de um dossiê apontando a causa dos problemas na fundação. O deputado Ênio Tatto (PT-SP) disse ontem que pretende convidar Julieda para uma audiência pública no dia 14, para ouvir sua versão dos fatos e procurar saber qual é o conteúdo do dossiê que entregou para a direção da fundação e ao presidente do Conselho, Antonio Carlos Caruso Ronca. Segundo Tatto, a Assembléia Legislativa tentou obter uma cópia do documento, mas o conselho da fundação "simplesmente não retornou" o pedido. A existência de um "dossiê secreto" causa certa apreensão entre conselheiros e funcionários, além de especulações sobre o seu conteúdo. Jorge da Cunha Lima deixa a TV Cultura no dia 12, para ser substituído pelo presidente eleito da fundação, Marcos Mendonça. Ele assumirá um cargo recém-criado na instituição, o de presidente remunerado do Conselho, e consta que negociou a permanência de alguns de seus principais auxiliares na nova gestão - o que aumentou o descontentamento da então diretora superintendente, Julieda Puig. As novas funções de Cunha Lima só foram ratificadas após reformas no Estatuto da fundação, mudanças que são consideradas "casuísticas" e "pouco democráticas" pelos funcionários. O representante dos funcionários, Maurício Monteiro, votou contra, mas foi voto vencido.

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