Conheceram-se na queima de fogos em Copacabana, no fim de 2017. Começaram a conversar ali mesmo, na areia da praia, e só pararam quando acabaram os fogos. Ele pediu o endereço dela e ela – já se afastando, puxada pela mãe impaciente – gritou “é longe!”
E ele: “Onde?”. E ela: “No interior. Longe!”. Ele:
– Ano que vem! Aqui mesmo! Quinze pra meia-noite!”
E ela:
– Tá! * Claro que ela não ia se lembrar. Mas se lembrou! Fogos de 2018 em Copacabana e lá estava ela, 15 para a meia-noite, no mesmo lugar, mais linda do que um ano antes, com a mesma mãe atenta.
– Oi.
– Oi.
– Pensei que você tivesse...
– Esquecido? Passei o ano inteiro pensando neste encontro.
– Eu também!
E quando viram estavam de mãos dadas. Seria possível que ele tinha encontrado a mulher da sua vida, daquele jeito, por acaso, na rua, numa noite de Ano Bom? Essas coisas não acontecem, pensou ele.
– Como foi o seu ano?
– Legal.
– Fora o Temer, né?
– Quem? * O ano dele também tinha sido legal. Viajara bastante. Estivera em Nova York e visitara o local das torres gêmeas.
– Torres?
– As torres do World Trade Center, que vieram abaixo. Os atentados.
– Eu não fiquei sabendo.
Foi quando ele pensou: era bom demais para ser verdade. Não era a mulher dos seus sonhos. Paciência. À meia-noite se abraçaram, não se beijaram porque a mãe estava de olho, mas ele já sabia que não ia dar certo. Não tinha nada contra a moça ser do interior. Mas não tão do interior assim. * – E o que você está achando do Bolsonaro?
– Em que novela?
Pronto, pensou ele. Fim das ilusões. Mas espera um pouquinho! Uma mulher completamente desinformada. Uma mulher sem opinião, que não estaria sempre pedindo a dele... Uma mulher ideal.
E linda. Ainda mais com o rosto iluminado pelos fogos de artifício de Copacabana.