PUBLICIDADE

Doris Lessing, de 87 anos, ganha o Prêmio Nobel de Literatura

Nascida no Irã, filha de britânicos, ela é a mais idosa a levar o prêmio, com obra influenciada pela vida na África

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

A romancista Doris Lessing venceu o Prêmio Nobel de Literatura 2007, informou nesta quinta-feira, 11, a Academia Sueca. Nascida na Pérsia (atual Irã) em 22 de outubro de 1919, filha de britânicos, ela é a mais idosa ganhadora do Nobel de Literatura e a 11.ª mulher a ganhar o prêmio. A última havia sido a austríaca Elfriede Jelinek, em 2004, e a primeira, a chilena Gabriela Mistral, em 1945.   Veja também:    O bibliófilo José Mindlin comenta o Nobel de Literatura de Doris Lessing  Especial Prêmio Nobel Doris é uma escritora com grande alma, diz italiano Umberto Eco Leia trecho do livro 'O Sonho Mais Doce', de Doris Lessing Doris diz que Nobel completa seu 'royal flush' de prêmios    Segundo a academia, a autora receberá o prêmio por transmitir a "experiência épica feminina", que descreveu "com ceticismo, paixão e força visionária" a divisão de uma civilização.   "Trata-se de uma das decisões mais meditadas que já tomamos", disse o diretor da Academia, Horace Engdahl, após divulgar o resultado.   Doris estava entre os favoritos ao Nobel havia décadas. Em 1979 era considerada uma das maiores escritoras de língua inglesa, mas seu nome desapareceu das listas do Nobel exatamente por conta da pecha dos "candidatos eternos".   Doris Lessing não soube imediatamente que havia ganhado o Nobel. Segundo seu representante, Jonathan Clowes, ela havia saído para fazer compras e quando voltou, ao ver os inúmeros repórteres em sua rua disse "pensei que estavam gravando um programa de televisão". Sentou-se no degrau na entrada de sua casa e conversou com os jornalistas: " Recebi todos os prêmios da Europa, todos". Agora, com o Nobel "formei um 'royal flush', disse, referindo-se à uma seqüência máxima de cartas num jogo de pôquer.   Biografia   Doris Lessing é uma escritora que levou boa parte de sua experiência de vida na África a suas obras. Assim fez em seu primeiro romance, The Grass Is Singing, em 1950, que já na estréia lhe garantiu reconhecimento mundial. Nesse romance, examina a relação entre a esposa branca de um fazendeiro e seu empregado negro, que segundo a Academia, era "tanto uma tragédia baseada no amor e no ódio, como um estudo dos conflitos raciais".   Doris nasceu em Kermanshah, na antiga Pérsia, ela foi criada na Rodésia do Sul (atual Zimbábue), na África, para onde se mudou quando tinha cinco anos, passou a infância e a juventude e estudou em um colégio de freiras católicas. Em 1949, passou a viver na Inglaterra e, a partir de então, iniciou sua carreira na literatura.   Em 1962, publicou o romance que a tornou famosa, The Golden Notebook (O Carnê Dourado), e depois consolidou sua fama com uma série de títulos de temática africana. Seu compromisso político a levou a criticar abertamente os governos racistas da Rodésia e da África do Sul, sendo impedida de entrar nesses países.   O florescente movimento feminista o considerou um trabalho pioneiro, e a obra figura entre um punhado de livros que registra a forma como era vista a relação entre homens e mulheres no século 20, disse a academia em seu anúncio oficial.   No Brasil   Doris já esteve no Brasil, a convite do editor Alfredo Machado, já morto, da editora Record, de 23 a 30 de abril de 1987. A editora publicou inúmeros livros da autora, inserindo o Brasil entre os vários países do mundo que liam suas obras. No Rio, Doris participou de concorridas sessões de autógrafos de seu livro A Terrorista e chegou a ter um encontro com Kerena, líder indígena, usando o crítico de literatura do Estado Leo Gilson Ribeiro, já falecido, como intérprete.   Nesta mesma oportunidade, a escritora veio a São Paulo e participou de uma mesa redonda a no auditório do Estado, em 28 de abril, ao lado do bibliófilo José Mindlin, da jornalista Miriam Paglia Costa e do então editor do Caderno 2, Luiz Fernando Emediato, além de Léo Gilson Ribeiro. Na ocasião, Dóris criticou o ensino da literatura para crianças, defendendo que o melhor seria aliar os romances a outras disciplinas, e esquivou-se de comparações com Proust: "É um erro comparar um escritor a outros".   Apesar de muitos de seus livros terem sido lançados no País na década de 80, ainda existem várias obras da autora disponíveis nas livrarias, como O Sonho Mais Doce, Companhia das Letras (2005); Debaixo da Minha Pele - Primeiro Volume da Minha Autobiografia, Companhia das Letras (1997); Andando na Sombra - Segundo Volume da Minha Autobiografia, Companhia das Letras (1998); Os Agentes Sentimentais, Nova Fronteira (1988); As Experiências de Sirius, Nova Fronteira (1980).   Sua última obra, publicada este ano, é The Cleft. A editora Companhia das Letras que publicou mais recentemente um romance da escritora, O Sonho Mais Doce, e tem programado para novembro o lançamento de mais um título: As Avós. Publicado originalmente em 2003, traz quatro histórias sobre uma família pouco convencional.   Outras obras   Entre os dois livros mais importantes de Doris Lessing, o primeiro, The Grass Is Singing (1950), só saiu no Brasil em 1980, com o título de A Canção da Relva, enquanto O Carnê Dourado, que a tornou famosa em 1962, foi publicado no Brasil em 1983, ambos pela editora Record, dona dos direitos autorais sobre o maior número de títulos da escritora.   A Record publicou nos anos 80 a série Os Filhos da Violência, com cinco títulos: O Sonho de Martha Quest, Um Casamento sem Amor, O Eco Distante da Tormenta, Exilada em seu País, A Cidade de Quatro Portas. E ainda, Memórias de Um Sobrevivente (1976), O Verão Antes da Queda (1977), O Quarto 19 (1982),  A Tentação de Jack Orkney (1982), A Terrorista (1987).   Pela Nova Fronteira saiu sua coleção de livros de ficção científica Canopus em Argos: Arquivos, com quatro títulos: Shikasta, Os Casamentos Entre as zonas 3, 4 e 5, As Experiências de Sirius e O Planeta 8: Operação Salvamento.   Outros títulos da autora em português:  Eclesiastes, Objetiva (1998); Amor, De Novo, Cia. das Letras (1997); Prisões Que Escolhemos para Viver (Bertrand Brasil, 1996).   Este foi o quarto Nobel concedido neste ano, depois dos prêmios às áreas de medicina, física e química. Os da paz e economia ainda serão entregues.   O prêmio é de 10 milhões de coroas suecas (R$ 3 milhões).  

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.