24 de julho de 2014 | 02h06
Quatro anos mais tarde estávamos todos na Califórnia para a Copa americana. A presença do Dunga na seleção desagradava a quase todos. Durante os quatro anos entre a Copa na Itália e a Copa nos Estados Unidos sua imagem como símbolo de futebol feio se solidificara, o que não impediu que o Parreira o convocasse. Lembro da frase que entreouvi de um torcedor brasileiro um dia depois do jogo das oitavas de final contra os Estados Unidos: "Esse Dunga não acerta um passe!". No dia anterior, eu tinha visto o Dunga não só acertar a maioria dos seus passes e fazer lançamentos longos com a precisão de um Didi ou de um Gerson como dar o passe para Romário fazer o único gol da partida. Entendi então que havia dois Dungas, o Dunga real e o Dunga imaginado. O jogador e o símbolo. O Dunga como ele é e o Dunga como o veem. Dunga e o seu "doppelganger", uma palavra do folclore alemão que significa um duplo, uma cópia, e que pode ser uma aparição, a projeção de uma personalidade dividida ou apenas uma coincidência - alguém tão igual a outro que poderia ser seu gêmeo, mas, misteriosamente, não é. O "doppelganger" é uma figura reincidente na literatura. Talvez a explicação para os dois Dungas, o execrado e o convocado, o que uns veem e outros não, seja literária.
Não tenho a menor ideia do que a CBF pretende com o convite surpreendente ao Dunga. Tratando-se da CBF, boa coisa não deve ser. Mas como dunguista confesso - o Dunga que eu vejo é o capitão vitorioso de 94 e quase vitorioso de 98, se não tivesse dado Zidane contra - gostei.
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