Do crime a Hollywood

Depois de 25 passagens pela polícia na juventude, Mark Wahlberg revisita passado em 'Sem Dor, Sem Ganho'

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Por Elaine Guerini/ Los Angeles
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Desde a sua passagem pela prisão, aos 16 anos, o ator Mark Wahlberg jurou que "recomeçaria do zero", deixando para trás as drogas, os roubos e os atos de violência e vandalismo. Ele foi condenado a dois anos de reclusão (cumprindo apenas 45 dias) por agredir um vietnamita durante assalto, em 1987. "Para mudar de vida, é preciso ter disciplina, o que encontrei nos exercícios físicos", conta Wahlberg, que decidiu praticar musculação ao ingressar na Casa de Correção Deer Island, de Boston, cidade onde nasceu e cresceu. "Eu tinha 1m60 e 58 quilos quando fui parar em uma cadeia para adultos, um lugar nada recomendável para um garoto fracote como eu era.'' Foi nessa época que Wahlberg começou a esculpir o corpo, chegando aos 79 quilos de hoje - distribuídos em 1m73. "Ao me exercitar, adotei hábitos saudáveis, fazendo disso um estilo de vida", contou o ator de 42 anos ao Estado. E foi essa paixão pelo bodybuilding o encorajou a aceitar o papel do fisiculturista Daniel Lugo, de Sem Dor, Sem Ganho. Para estrelar a comédia de ação, que entrou este final de semana em cartaz, ele treinou ainda mais intensamente, ganhando para a filmagem (realizada no ano passado) 15 quilos só de músculos. "O mundo do fisiculturismo me fascina pelo comprometimento dos atletas. A vida deles é dedicada à malhação, à nutrição e ao descanso. Nada mais.''No filme, dirigido por Michael Bay, seu personagem usa o físico para enveredar pela criminalidade. Em parceria com dois grandalhões (Dwayne Johnson e Anthony Mackie), Daniel sequestra um cliente milionário (Tony Shalhoub), desencadeando uma série de eventos desastrosos. O drama é baseado em um caso real, ocorrido na Flórida, em 1994, envolvendo fraude, roubo, sequestro, tortura e assassinato - tudo relatado em série de artigos publicados no Miami New Times, entre 1999 e 2000. "Espero que Deus seja um cinéfilo para entender as coisas questionáveis que ainda faço nos sets. Não quero perder minha liberdade como ator", brincou.Casado com a modelo Rhea Durham e pai de quatro crianças (Ella, de 9 anos, Michael, de 6, Brendan, de 4, e Margareth, de 3), Wahlberg nunca mais quis saber de confusão na vida real. "Segui o caminho da delinquência por estupidez, arrogância da juventude e más companhias." O ator não culpa os pais - que se divorciaram quando ele tinha 11 anos - pelas escorregadas (foram 25 incidentes com a polícia de Boston). Nem mesmo a passagem pela banda do irmão mais velho, Donnie Wahlberg, do New Kids on the Block, conseguiu tirá-lo das ruas. Ele abandonou o grupo por considerá-lo "careta". "Fui criado de forma correta, apesar das dificuldades que meus pais tiveram para nos sustentar (Wahlberg era o caçula de família com nove filhos). Sempre soube diferenciar o certo do errado, ainda que fizesse escolhas ruins, das quais acabei me arrependendo depois."Hoje Wahlberg traz mais de 30 filmes na bagagem, muitos deles policiais, como Os Infiltrados, pelo qual o ator foi indicado ao Oscar de melhor coadjuvante, em 2007. "A minha experiência nas ruas me qualifica para enredos de máfia, crimes e lutas. Esses filmes sempre foram os meus preferidos." O título que teve maior impacto na sua infância foi Lutador de Rua (1975), com Charles Bronson. "Foi a primeira vez que meu pai (o motorista de caminhão Donald E. Wahlberg) me levou ao cinema."Wahlberg também atua como produtor, à frente da Leverage Management, de Los Angeles. Foi com essa empresa que ele realizou os 83 episódios da série Entourage (de 2004 a 2011), parcialmente baseada nas suas experiências como astro de Hollywood em ascensão. A versão cinematográfica do seriado está em pré-produção. "Como os fãs insistiram, os caras estarão de volta. Doug Ellin (o criador da série) está terminando o roteiro", disse, lembrando que a ação terá início seis meses após o último episódio da oitava temporada.Será que Wahlberg não sente falta de vida de solteiro e, consequentemente, das loucuras revisitadas por Entourage? "Não. A camaradagem eu ainda vivo nos sets, com os meus amigos. A vida desregrada acabava sempre em encrenca", contou, rindo.

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