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Diversificar foi a idéia fixa do mercado editorial

Por Agencia Estado
Atualização:

A diversificação, que muitas vezes se transformou em banalização, foi a grande idéia fixa do mercado editorial brasileiro no ano 2000, perspectiva que, com suas qualidades e defeitos, serve de pista para o que virá no próximo milênio. Vendeu-se muito gato por lebre, é verdade, e o leitor se viu afogado muitas vezes num circuito de lançamentos desordenados que nem mesmo os mais atentos puderam digerir. Por isso, se destacaram, em primeiro lugar, as coleções, que têm a vantagem de oferecer ao leitor uma certa ordem. Seja a Literatura e Morte, da Companhia das Letras, com os excelentes livros de Moacir Scliar sobre Kafka e de Bernardo Carvalho sobre Sade; seja a coleção Metrópoles, que a Record começou a lançar no fim do ano, com estudos sobre Porto Alegre e o Rio de Janeiro; seja ainda, e sobretudo, o filão dos best sellers em série, como os três volumes de A Pedra da Luz, de Christian Jacques, da Bertrand. Isso sem falar nos três volumes da série Harry Potter assinados pela inglesa J. K. Rowling, da Rocco, que venderam em oito meses, juntos, 500 mil exemplares no Brasil, e ao todo, perto de 67 milhões de exemplares em todo o mundo. Destacaram-se, também, as antologias, sendo a mais celebrada delas, sem dúvida, a estupenda Cem Melhores Contos Brasileiros do Século, organizada pelo crítico Ítalo Moriconi para a Objetiva. Na área da ficção, o grande lançamento nacional foi, sem dúvida, o magnífico romance Dois Irmãos, de Milton Hatoum, pela Companhia das Letras, editora responsável também pelo principal título de ficção estrangeira, A Caverna, de José Saramago. Tivemos boas revelações, como o aparecimento dos gaúchos Altair Martins, autor de Como se Moesse Ferro, da WS Editor, e Max Mallmann, autor de Síndrome de Quimera, Rocco. Houve a afirmação nacional do paranaense Wilson Bueno, com Meu tio Roseno a Cavalo, Editora 34, e do suíço, radicado em Londres, Alain de Botton, com Nos Mínimos Detalhes, Rocco. E ainda o lançamento de Fogo nas Entranhas, a novela do premiado cineasta espanhol Pedro Almodóvar, com o selo da pequena Dantes. A Civilização Brasileira prosseguiu em seu esforço de recuperação da obra de Lúcio Cardoso, com O Desconhecido, e também foi responsável pelo grande lançamento do ano no campo da poesia, Ensaios Fotográficos, de Manoel de Barros; sendo obrigatório citar ainda, nessa área, a edição de Toda a Poesia, de Ferreira Gullar, pela José Olympio. Inevitável registrar também a reedição da obra de Frans Kafka, que vem sendo traduzida por Modesto Carone para a Companhia das Letras, que nos brindou, esse ano, com uma edição impecável de O Castelo. No campo dos ensaios e da reflexão crítica literária, o destaque ficou para Inútil Poesia, de Leyla Perrone-Moisés, Companhia das Letras. Um grande livro de entrevista, Quatro Autores em Busca do Brasil, de José Geraldo Couto, da Rocco, reúne estupendas reflexões sobre o país na fala de Jurandir Freire Costa, José Murilo de Carvalho, Renato Janine Ribeiro e Roberto Damatta, quatro de nossos mais destacados pensadores. Outro importante ensaio lançado em 2000 foi Freud: Conflito e Cultura, coletânea de estudos organizada por Michael S. Roth, reunindo ensaios, entre outros, de Peter Gay, Harold Bloom e Oliver Sachs, acompanhado por uma grande exposição sobre o criador da psicanálise em São Paulo que, em 2001, chega ao Rio. Entre as grandes biografias se destacou a de Glenn Gould, Uma Vida e Variações, assinada por Otto Friedrich, da Record. Uma reedição importante, com o selo da mesma editora, foi a do ensaio Devassos no Paraíso, de João Silvério Trevisan. O livro de referência mais ambicioso talvez tenha sido o Dicionário Mulheres do Brasil, organizado por Shuma Shumaher e Érico Vital Brazil, Jorge Zahar. É obrigatório citar ainda o novo livro de Fernando Moraes, Corações Sujos, Companhia das Letras, e o estudo de John Cormwell, O Papa de Hitler, sobre o polêmico pontificado de Pio XII, Imago. Mais ainda lembrar do novo livro de Paulo Coelho, O Demônio e a Srta. Prym, Objetiva, considerado mesmo por seus desafetos como seu melhor romance e que já bateu a casa dos 250 mil exemplares vendidos. Mas as grandes vitoriosas no ano 2000 foram, provavelmente, as editoras universitárias, à frente delas as da USP e da Unesp, que se expandiram, sofisticaram seus produtos e, assim, saltaram os muros da academia, conquistando o grande público com ensaios de grande qualidade. No 2001, teremos finalmente o lançamento do esperado Dicionário Houaiss, pela Objetiva, programado para agosto, com duas mil páginas e 220 mil verbetes, duas vezes as dimensões do consagrado Aurélio. A violência íntima será o tema de dois ensaios polêmicos como Sexo e Negócios, de Shere Hite, e Assédio Moral, de Marie-France Hirigoyen, ambos prometidos pela Bertrand. Vem aí também o primeiro romance de Rubens Figueiredo, Barco a Seco, pela Companhia das Letras, que também lançará A Carta Histérica, de Arturo Perez Reverti. Na área das biografias, a grande promessa é O Arquiteto do Impossível, relato da vida do presidente Juscelino Kubitscheki, assinada por Cláudio Bojunga para a Objetiva. A Jorge Zahar anuncia ainda O Circo Eletrônico, o esperado livro sobre a televisão brasileira de Daniel Filho. No que diz respeito aos clássicos brasileiros, a Artium promete para 2001 a Obra Reunida de Lima Barreto, organizada por Beatriz Resende e Rachel Valença.

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