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Diretor faz reflexão sobre a própria herança colonial

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Há um mistério da palavra que percorre (e desafia o espectador) no cinema de Abdellatif Kechiche. Fale com suas atrizes - Sara Forestier (L"Esquive), Hafzia Harzi (La Graine et le Moullet), Yahima Torres (Vênus Negra). Todas vão repetir que o diretor é capaz de repetir a cena 100 vezes em busca da tonalidade exata. Ele cria uma espécie de cerimonial para reconstituir a oralidade ancestral e, dessa maneira, como "estrangeiro" na França - nasceu na Tunísia -, não deixa de refletir sobre a herança colonial.Vênus Negra radicaliza o processo de Kechiche. A história da mulher exibida como curiosidade de circo impressiona pela violência.Saartjie (Yahima) é vítima do racismo da ciência e do senso comum do século 19. O relato a acompanha em Londres e Paris. Em Londres, ela protesta em diferentes línguas. Em Paris, reduz-se ao silêncio. Mesmo quando ele substitui a palavra de sua Vênus pelo gesto, a dança, o silêncio, para um autor tão interessado na palavra, é cruel. Kechiche denuncia o colonialismo, mas, na França foi acusado de repolitizar, do interior, uma estrutura que o aprisiona na denúncia que quer fazer, sem chance de emancipação. Sua Vênus é genial e esse é o seu filme mais polêmico.

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