Diretor agora mira no tema da violência política

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Crítica: Luiz Zanin OricchioJJJJ ÓTIMOJJJ BOMDe início, parece o filipino Mendoza reencontrando-se com sua evidente vocação para cenas violentas. A referência, claro, é a Kinatay, talvez um dos filmes mais insuportáveis dos últimos tempos, e isso não porque seja ruim. Pelo contrário, é muito bom porém implacável ao mostrar, com toda a crueza de detalhes, o assassinato de uma prostituta pelos bandidos de Manila. Mendoza, diga-se também, dedicou sua atenção a temas não tão sanguinolentos, e nem por isso menos pungentes, como a avó que tem o neto assassinato e vê-se na contingência de negociar a reparação com a família do criminoso. Esse era Lola, talvez ainda seu trabalho mais consistente. Há pouco, em Veneza, abriu o leque de seus interesses com Thy Womb (O Útero), história da mulher infértil que consente ao marido encontrar outra esposa capaz de dar um filho. Agora, em Em Nome de Deus (Captive), estamos em plena violência, de ordem política e religiosa. Um grupo de pessoas, entre nativos, turistas e a missionária Thérèze Bourgouin, interpretada por Isabelle Huppert, é sequestrado por extremistas islâmicos, parece que obedientes à Al-Qaeda, de Osama Bin Laden. Pelo menos eles comemoram intensamente o atentado ao World Trade Center, que acontece durante a narrativa. O grupo exige resgate e mantém os reféns por um período interminável. As cenas de abertura já são de uma brutalidade extrema. Câmera na mão, o diretor coloca o espectador no centro da ação quando o barco em que viaja o grupo é abordado pelos extremistas, com metralhadoras em punho. Tem a tensão de uma reportagem, sem nenhum tipo de rebuscamento formal. Há gritos, tiros, mortes. Pavor. Será sempre assim, nas cenas de ação que acontecem ao longo das quase duas horas de duração. Os extremistas em escaramuças com forças do exército filipino e os reféns, em desespero, entre fogo cruzado. A história é baseada num caso real. Mendoza retrata um bando de fanáticos, sem grandes atenuantes. Existem pontos de luz, mesmo porque na convivência forçada, as relações afetivas estão sempre em estado latente. No caso, a relação maternal que a personagem de Isabelle desenvolve com um garoto guerrilheiro. E também a atração sensual, que termina com o casamento entre um sequestrador e uma sequestrada. No mais, tudo é tenso, como se espera que seja num caso deste, arrastado pela recusa do governo filipino em ceder às exigências. No fundo, ninguém se importa com a vida humana, só com suas convicções. É o que Mendoza tem a dizer da política, e parece, não apenas a do seu país.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.