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Direto, falava de equívocos e pedia revisões

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Por Redação
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Com cada interlocutor Mário de Andrade tinha um tipo de diálogo, dependendo da relação preestabelecida. A Anita Malfatti, uma irmã mais velha, dizia diretamente se achava que ela ia num caminho equivocado. Independente, a pintora reagia com firmeza. Portinari era o pintor e intelectual de sua admiração; Tarsila não era uma destinatária única - no período de seu relacionamento com Oswald de Andrade, Mário lhe escrevia sabendo que os dois leriam. Com todos, estabelecia negociações em relação aos percursos traçados. Ele insistia na defesa de uma identidade brasileira nas artes, exigia que aquela geração deixasse um legado. "Desafio vocês a voltarem ao Brasil", instigava Tarsila e Oswald em sua estada europeia. Discutia o projeto artístico do modernismo, por vezes em dezenas de páginas, visualizando-as como espaço de reflexão a ser avaliado futuramente. "Para o Mário, a correspondência era um projeto intelectual. Ele tinha a dimensão que as cartas serviriam para a posterior compreensão do modernismo", diz o pesquisador Marcos Moraes, do IEB-USP. "Ele participou dos processos de criação através do que escrevia. Quando um artista mandava um croqui e o submetia a Mário, ele ajudava em sua formação." Moraes tomou como projeto de vida a reunião de todas as suas cartas. O trabalho de análise da correspondência passiva (ele como destinatário), desencadeado pela curadora do acervo, Telê Ancona Lopez, vem de 1995, passados 50 anos da morte de Mário - como ele havia pedido, para que se preservasse a intimidade dos remetentes. / R.P.

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