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Diogo Vilela estréia "Cauby! Cauby!" em São Paulo

O ator é o protagonista do musical que, depois de temporada no Rio, será apresentado a partir deste sábado no Teatro Procópio Ferreira

Por Agencia Estado
Atualização:

O sucesso não impediu que o ator Diogo Vilela escapasse de um ligeiro período depressivo, depois de encerrada a temporada de "Tio Vânia". Era 2003 e ele se sensibilizou com o clássico de Chekhov, que trata do fracasso do homem contemporâneo. Mas o período foi breve e a recuperação começou de uma forma inesperada: Vilela assistia a um programa de TV quando se concentrou em uma entrevista do cantor Cauby Peixoto. "A câmera foi fechando no rosto dele e eu fui ficando tocado com sua sensibilidade, sua fala baixa e discreta, seu carisma", conta o ator. O resto já é história: depois de três anos de preparação Diogo Vilela estreou, em 2005, o musical "Cauby! Cauby!", no Rio. Com dez atores em cena, cinco músicos e mais de 120 figurinos, o espetáculo foi visto por mais de 23 mil pessoas e neste sábado inicia temporada em São Paulo, no Teatro Procópio Ferreira, com fôlego para repetir a dose. Apesar de embalado, Vilela sabe que a estréia terá um gosto especial: será a primeira vez que Cauby assistirá à sua apresentação. "Estou preparado para as lágrimas, pois espetáculos bonitos sempre me fazem chorar", disse o cantor que, a convite do Grupo Estado, se encontrou com Vilela para conversar sobre o espetáculo. Parecia uma reunião de velhos amigos - depois de conversarem reservadamente em um canto, Vilela entregou um saco com balas para Cauby. "São ótimas para as cordas vocais", disse o ator que, em cena, não busca imitar o cantor. "Faço uma síntese do artista, ainda um dos mais queridos do Brasil." Para chegar a isso, ele passou três anos em estudos, leitura de livros, entrevistas e alguns encontros com o próprio Cauby, que passou a confiar no ator depois da certeza de que não se tratava de um projeto depreciativo. "Não têm fofocas, apenas a minha história", disse o cantor. Com dramaturgia e direção de Flávio Marinho, "Cauby! Cauby!" narra, em dois atos, a história do menino pobre de Niterói, que sonhava em ser príncipe e acabou se transformando em "uma das figuras mais especiais do show business brasileiro, dono de estilo e voz inconfundíveis", como define Marinho. "Cauby contrapõe a exuberância de sua presença cênica com uma discretíssima vida pessoal." Como têm um registro de voz semelhante, Diogo Vilela e Cauby Peixoto descobriram enfrentar a mesma dificuldade ao cantar certas músicas. "Em algumas canções, eu só consigo começar nos agudos", comentou o cantor, apoiado pelo ator, cuja voz é de barítono. "Eu sinto também essa obrigação, que se torna ainda mais difícil quando a canção tem de ser representada", observou Vilela. Se há alguma dúvida sobre a semelhança das vozes, ela cai por terra quando ator e cantor são questionados sobre a música mais difícil de interpretar. "Para mim, é ´New York, New York´, pois, além de marcar a abertura de uma cena, é uma melodia com diversas modulações", responde Vilela para, em seguida, soltar o vozeirão e cantar alguns versos. Cauby abre um sorriso. "Realmente, é muito parecido", diz ele, que enfrenta dificuldade mesmo em "Bastidores", que pede mais voz. "Quer ver?", pergunta ele e, aparentemente sem nenhum esforço, manda os primeiros versos. Com o espetáculo, Vilela e Flávio Marinho, autor do texto e também diretor, não pretendem apenas fazer uma homenagem mas revelar um pouco do homem ocultado pela figura do cantor. "E sem pudor do kitsch ou do glamour, sem medo da melancolia ou da autocrítica", acrescenta o dramaturgo. Eles, porém, fizeram questão de manter a liberdade poética e de criação e respeitar os mistérios da vida de um artista que já marcou a história da música popular brasileira. "Quando comecei, fui bem orientado por meu empresário, Di Veras, desde a escolha das roupas até o relacionamento com as fãs", contou Cauby, que chamou a atenção em 1949, quando apareceu na "Revista do Rádio". Dois anos depois, gravou o primeiro LP. Em 1952, mudou-se para São Paulo e logo virou ídolo "Enquanto os outros artistas evitavam contato com o público, eu ao contrário, ia ao encontro dos fãs." Vilela disse fazer o mesmo e, em meio a tanto assédio, passou a colecionar emoções. "Certo dia, depois de uma apresentação, um fã me disse: ?Você é o próprio Cauby!? Fiquei muito honrado", lembrou. Atento ao relato, o cantor abraçou o ator e lhe sussurrou: "Eis a perfeição." Outro ponto semelhante compartilhado por ambos é o lapso de memória - tanto Cauby como Vilela lembraram de casos engraçados em que, durante uma apresentação, simplesmente se esqueceram da letra. "Eu troco muito os versos, especialmente quando as canções tratam de assuntos parecidos", conta o ator, que evita encarar o público para não atrapalhar a concentração. Aconteceu, certa vez, com "Bastidores" e "Ninguém É de Ninguém". E o que fazer? "Quando vem aquele branco, eu apelo para o ?nãnãnã? até voltar a letra na memória", diverte-se. Cauby também passou por diversos apuros, especialmente diante de novas canções. Para escapar, apela para a experiência: aponta o microfone para a platéia e deixa os fãs cantarem até refrescar a memória. "Nunca falha", comenta o cantor, que se apresenta às terças-feiras no Bar Brahma, em São Paulo. "Cauby é uma figura muito teatral em cena, o que explica a paixão que ainda desperta em fãs de diversas idades", observa Vilela que, aos 48 anos, eleva o nível de seu trabalho de intérprete ao viver um mito de 75 anos. Cauby! Cauby!. 120 min. 16 anos. Teatro Procópio Ferreira (670 lug.). R. Augusta, 2.823, (11) 3083-4475. 6.ª, 21h30; sáb., 21 h; dom., 18 h. R$ 90. Até 17/12. Estréia neste sábado

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