Didi Mocó completa 40 anos

Renato Aragão festeja longevidade de seu personagem e promete sustentá-lo "enquanto o público quiser". Dia 8, chega aos cinemas seu filme mais recente

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Por Agencia Estado
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Didi Mocó, um dos personagens brasileiros mais populares, está completando 40 anos nesta quinta-feira. A festa começou no domingo, quando Renato Aragão, seu criador, reuniu no estúdio que leva seu nome boa parte da direção da Rede Globo, onde ele encontrou abrigo há 23 anos, e do elenco que dividiu com ele a telinha da televisão e a telona dos cinemas. Não faltaram docinhos, "Parabéns pra Você" e o bolo de aniversário. "Chegar até aqui foi um sonho. Eu nunca achei que esse personagem ia durar tanto e me trazer tanta alegria", disse um emocionado Aragão, entre abraços dos amigos. Para o público, a festa continua a partir do dia 8, quando estréia em 150 cinemas brasileiros a última aventura de Didi, Um Anjo Trapalhão, baseado no conto Visita de Natal, de Leon Tolstoi. Na verdade, é uma reestréia. Trata-se da ampliação da metragem (de 50 para 70 minutos) e passagem para película do especial de Natal de 1996, apresentado na TV Globo, com o mesmo nome do conto. A Fox do Brasil, responsável pelo lançamento, espera um público de, no mínimo, 2 milhões de pessoas. "É um lançamento grande, como os americanos Endiabrado e Eu, Eu Mesmo e Irene, adiantou o diretor-geral da distribuidora no Brasil, Marcos Oliveira. Anjo e Auto - Não é um tiro no escuro. Visita de Natal foi um grande sucesso da programação de fim de ano da Rede Globo em 1996. Produzido em vídeo, com elenco estelar (Paulo Betti, Regina Duarte, Francisco Cuoco, Débora Secco e a menina Alessandra Aguiar, que na época tinha 9 anos e já era uma estrela havia cinco) tinha tudo para chegar à tela grande, embora Aragão negue que essa tenha sido a intenção na época. Bastou passar para película e aumentar a metragem para deixar o filme com os 70 minutos mínimos exigidos no cinema. Uma trajetória semelhante à de O Auto da Compadecida de Guel Arraes, o maior sucesso de bilheteria nacional deste ano. Vários detalhes se repetem nos dois filmes e não há coincidência nisso. A começar pelo esquema de produção. Ambos foram realizados pela Rede Globo para a televisão e, depois de testados, são relançados pelo braço cinematográfico da emissora. A Fox do Brasil, que distribui Um Anjo, espera alcançar um público de 2 milhões de espectadores, cifra à qual a estréia de Arraes no cinema já chegou. A história de Um Anjo é clássica. Um forasteiro é confundido com um enviado de Deus para reestabelecer a fé dos habitantes. Malandro, ele não desfaz o engano, mas acaba beneficiando aquelas pessoas e realizando seus sonhos. O Auto também é parte de um clássico. É baseado na peça com o mesmo nome, de Ariano Suassuna. Apesar das nacionalidades diferentes, os protagonistas são parentes. João Grilo (do Auto) é primo-irmão de Didi (do Anjo), na nordestinidade e no jeito simplório e esperto de levar a vida e dar a volta por cima. E aí está a receita do sucesso que Renato Aragão experimenta desde 1965. O nascimento de Didi foi por acaso. Ele surgiu em Fortaleza, na TV Ceará, mas quase não veio à luz do dia, ou melhor, aos holofotes, já que seu criador, o cômico Renato Aragão, não pretendia ser ator. Em 1960, o jovem advogado, formado pela Universidade Federal do Ceará, doido por televisão, se contentava em ficar atrás das câmeras, escrevendo. "Eu queria só estar lá no meio de todo mundo, não achava que tinha tipo para ator", contou Renato Aragão. Como ninguém quis o Didi ele criou coragem e encarnou o personagem, que estreou exatamente no dia 30 de novembro, no programa Vídeo Alegre. A inspiração era o cômico Oscarito, então popular como o Didi, nas chanchadas que lotavam os cinemas brasileiros. Ao contrário do personagem, o autor tinha bagagem. Deu-lhe pitadas de Carlitos (o humor patético), de João Grilo (a esperteza nas emergências), de Macunaíma (o esforço para não fazer nada) e até do Magro (companheiro do Gordo, o cinismo nas situações difíceis). O sucesso foi imediato e, três anos depois, em meados de 1964, Didi já fazia sucesso no humorístico A E I O Urca, da TV Tupi. "Eu achava que tinha vindo para o Rio só para passar um tempo. Queria ver como era a Cidade Maravilhosa e voltar logo para cuidar da minha vida", contou Renato Aragão. Nada disso aconteceu. No ano seguinte, já estava na TV Excelsior, a emissora de maior prestígio e audiência da época, no programa Adoráveis Trapalhões. Os companheiros variavam, entre o então cantor de Jovem Guarda, Wanderley Cardoso, o cômico Renato Corte Real e o lutador de telecatch Ted Boy Marino. O programa era sucesso popular e fracasso de prestígio. Já nessa época, Renato Aragão descobriu o cinema. Enquanto Glauberes Rochas e Cacás Diegues discutiam o País com o Cinema Novo, Didi escrachava em Na Onda do Iê Iê Iê, lançado em 1965, paródia dos filmes dos Beatles recém-lançados no Brasil. Como a bilheteria não era controlada, não se sabe o tamanho do público, que deve ter sido grande, já que nos quatro anos seguintes Didi voltou à telona. Não lançou filme em 1970 e 1971, mas a partir de 1972, até 1991, não faltou um ano. Pelo contrário, às vezes apareceu com dois títulos a cada 12 meses. Na televisão, o sucesso continuava, alternando a decadente TV Tupi com a Record em sua era pré-Igreja Universal do Reino de Deus. O namoro com a TV Globo foi longo e a união consumou-se em 1976, quando então Didi já tinha como companheiros Dedé, Mussum e Zacharias. Daí, o céu foi o limite. Toda tardinha de domingo era hora de assistir aos Trapalhões. O programa tinha uma fórmula: esquetes ingênuos do quarteto, que continuava a brilhar no cinema. A alta cultura se rendeu, em 1981, quando Caetano Veloso fez música para eles e os elogiou publicamente. Aí sim, já se podia ver livremente e comentar em voz alta as estripulias do grupo nas rodas intelectuais do País. "Na verdade, acho que o Didi nunca foi nem será tão bom como o Oscarito, sua inspiração original", costuma dizer Renato Aragão, sempre modesto. "Mas, para as outras pessoas, ele é muito mais popular, muito mais conhecido e um personagem verdadeiramente brasileiro." Nesta década - Os anos 90 não foram tão generosos com o grupo. Em meados da década, Zacharias e Mussum morreram e a TV Globo entendeu que era melhor deixar de produzir o programa. Há controvérsia sobre a decisão, até porque a reprise dos mais de 500 programas feitos entre 1977 e 1993 foi um tremendo sucesso, campeã de audiência de 1994 até o ano passado, quando saiu definitivamente da programação. No seu lugar, entrou o dominical Programa do Didi, seguindo o mesmo esquema dos Trapalhões, mas com elenco variado. O fato é que Didi deu a volta por cima. Renato Aragão comanda uma empresa, fundada em 1977, que leva seu nome e tem centenas de empregados. Sua família (irmão, filhos, cunhada, etc.) está toda agregada em torno da produção audiovisual. Além disso, ele é sucesso também em Portugal, onde produziu programas de 1994 a 1997. Se neste ano o filme de Renato Aragão vai ser uma reprise, o de 2001, Um Cupido Trapalhão, começa a ser produzido em março e a Fox já saiu na frente na briga pela distribuição. "Hoje me divido entre o programa da Globo e o filme anual", disse Renato, na festa de aniversário de Didi, prestigiada até por candidato a presidente (pelo PPS), o também cearense Ciro Gomes. Aos 65 anos, ele não pretende parar. "Enquanto o público quiser, eu serei o Didi Mocó."

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