Dicionário Houaiss chega batendo recordes

Depois de 16 anos, lançamento concretiza sonho do filólogo, morto em 1999, e chega às prateleiras superando os concorrentes em páginas, verbetes e amplitude

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Por Agencia Estado
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Um lançamento para criar um novo conceito: a partir de sexta-feira, quando as livrarias de São Paulo e do Rio de Janeiro receberem seus primeiros exemplares, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa inicia uma forma diferenciada das obras de referência. São 2.924 páginas contendo 228.500 verbetes, números que superam as edições tradicionais do mercado, como o Aurélio (160 mil verbetes) e o Michaelis (200 mil). A previsão de preço é de R$ 125 e a distribuição no restante do País deve ocorrer a partir da próxima semana. "O diferencial não está apenas na quantidade superior de verbetes, mas principalmente na amplitude e na precisão de cada um", comenta Roberto Feith, proprietário da editora Objetiva, que publicou a obra, tornando-a seu empreendimento mais ousado - o investimento beira os R$ 5 milhões. "Até hoje, nenhum dicionário foi tão preciso ao apontar a origem de cada palavra, além de registrar o primeiro registro de seu uso no idioma português." A novidade é uma das principais atrações do Houaiss. Assim, termos como "camelô" têm, além de seu significado (vendedor ambulante de coisas de pouco valor), a origem (do francês "camelot", de 1821) e a primeira aparição no Brasil (a revista humorística Careta já a utilizava em 1917). Outro diferencial é um maior número de sinônimos, suplantando novamente os rivais ("cachaça", por exemplo, tem 422 referências distintas, colhidas entre expressões populares). As inovações, porém, implicam sacrifícios - o Houaiss não apresenta citações literárias, ou seja, exemplos da utilização dos vocábulos por escritores, como ainda fazem seus concorrentes. A decisão é explicada em uma longa introdução: as citações implicariam um aumento considerável de páginas, o que encareceria a obra. O Houaiss levou 16 anos para ficar concluído e é fruto do trabalho de uma equipe formada por mais de 150 especialistas brasileiros, portugueses, angolanos e timorenses, com formações distintas (lexicógrafos, etimólogos, redatores, professores e revisores, entre outros). Começou com a ambição do filólogo e diplomata Antônio Houaiss, que iniciou o projeto em 1985, com o compromisso de fazer o mais completo dicionário da língua portuguesa. O projeto foi interrompido em 1992, por falta de recursos, e só foi retomado cinco anos depois, quando foi criado o Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia, que firmou um acordo com a Objetiva para conclusão da obra. Quando o filólogo morreu, em 1999, o dicionário estava 70% concluído. "Pudemos terminar porque Houaiss preparou um manual de redação com cem páginas, contendo todas as suas orientações", conta Mauro Villar, também filólogo e sobrinho de Houaiss, responsável pela conclusão da obra. Estrangeiros - A finalização, aliás, só foi possível graças à fixação de objetivos - como a fixação do prazo (segundo semestre deste ano) e do número de verbetes (228 mil). "Só estouramos um pouco quanto aos verbetes", observa Villar, que manteve a determinação de não apresentar nenhum preconceito contra os vocábulos de origem estrangeira, apesar das constantes manifestações contrárias aos estrangeirismos. "Os dicionários são espelhos, pois refletem a constante movimentação de um idioma vivo", comenta ele, lembrando que nenhuma língua está isenta. "O inglês, por exemplo, detém 40% de palavras originadas do francês e nem por isso está descaracterizado." O filólogo elogia o acabamento do dicionário, que foi editado na Itália. O motivo, segundo Feith, é que nenhuma gráfica brasileira apresenta condições de editar o dicionário em apenas um volume. "Fizemos diversas pesquisas e constatamos que o público prefere um tomo só." Depois de diversas pesquisas internacionais, descobriu-se uma gráfica italiana que, além de garantir a edição, oferecia ainda um tipo de acabamento na lombada que oferece mais durabilidade. Finalmente, a impressão revelou-se mais clara e o volume não ficou tão pesado, porque as páginas têm uma gramatura inferior da dos demais, ou seja, são mais finas. Villar está em Lisboa, onde comanda uma equipe de oito pessoas, que prepara a versão lusitana do dicionário, que será ligeiramente diferente da edição lançada aqui. "A língua portuguesa é a única no mundo que vergonhosamente tem dois idiomas, daí a necessidade desses ajustes", reclama. Em Portugal, o Houaiss deverá ser lançado no próximo ano. Antes, porém, serão lançados no Brasil uma versão em CD-ROM (outubro) e um dicionário escolar (novembro).

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