Dicas de livros para presentear no Natal

Do Dicionário Houaiss, à vida de JK, o humor e a culinária de Veríssimo, histórias da bossa nova por Ruy Castro e até mesmo a saga imortal de Madame Bovary (na foto, em filme de Claude Chabrol), estão nas das livrarias

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Por Agencia Estado
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Como acontece nos últimos meses do ano, as editoras recheiam as livrarias da cidade de novos títulos. Procura-se cercar o leitor por todos os lados, de literatura à auto-ajuda. Neste segundo semestre, chamou a atenção o elevado número de estudos sobre política brasileira. Mas o maior acontecimento editorial do ano foi sem dúvida o tão esperado lançamento do Dicionário Houaiss. A Onda que se Ergueu no Mar De Ruy Castro Cia. das Letras, 296 págs., R$ 31,50 O autor de Chega de Saudade (1990) volta a contar episódios envolvendo o pessoal da Bossa Nova, o movimento que sacudiu a música brasileira na metade do século. O bom deste livro é que os capítulos podem ser lidos separadamente e a maioria é bastante divertida. Um deles, por exemplo, fala sobre o terremoto que sacudiu o território nacional quando Brigitte Bardot - no auge da juventude e fama - resolveu passar as férias em Búzios com um namorado brasileiro e se apaixonou pelos acordes de João Gilberto e a poesia de Tom Jobim. Castro também, é claro, presta sua homenagem e defesa aos delírios de João Gilberto em um capítulo inteiro. Manias como a de só comer o mesmo prato no almoço há quase uma década e sempre sem arredar um pé do seu apartamento. Madame Bovary. De Gustave Flaubert Nova Alexandria, 431 págs., R$ 38 Uma obra-prima que não envelhece nunca. Fúlvia Moretto á autora dessa competente tradução da trágica história de Charles e Emma Bovary. A obra é considerada o embrião do romance moderno pela clareza e análise psicológica de um caso de adultério retirado da vida real. Charles é médico de aldeia viúvo. Conhece se apaixona pela filha de um fazendeiro, Emma. Ela é a típica garota romântica que se entope com livros de aventura amorosa para fugir à vidinha de província. Casa-se com Charles e acaba arrumando um amante. A publicação da obra valeu ao autor processo do Estado sob acusação de ofensa moral e religiosa, mas o acusado foi absolvido. Os autos estão incluídos nesta edição. JK, O Artista do Impossível. De Cláudio Bojunga Objetiva, 800 págs., R$ 53,90 O autor passou dez anos consultando arquivos e entrevistando dezenas de pessoas que conviveram com Juscelino Kubitschek para escrever a melhor biografia até agora já feita sobre o ex-presidente mineiro, idealizador e construtor de Brasília. Há detalhes curiosos como o relacionamento amoroso de JK com a mulher de um deputado federal e uma exaustiva análise sobre o acidente que o matou na Via Dutra em 1976. Dezenas de personagens da história política, econômica e cultural brasileira desfilam pelo livro. Entre eles, ganha destaque o governador Carlos Lacerda, o maior inimigo político de JK e que, antes de morrer, declarou que ele foi o maior estadista da história brasileira. Bojunga traça um amplo painel da vida brasileira durante o século 20. A Mesa Voadora. Por Luis Fernando Verissimo. Objetiva, 156 págs., R$ 51,90 Dois dos melhores prazeres da vida reunidos em 47 textos do maior cronista brasileiro: humor e comida, boa comida. De um confit de cannard num bistrô francês escondido num beco do Quartier Latin até um legendário pastel de beira de estrada no Rio Grande do Sul, Verissimo diverte e convoca a gula dos leitores. Os textos foram escritos ao longo de anos de incansável peregrinação por restaurantes, botecos e lanchonetes no Brasil e no exterior e agora foram reunidos pela Objetiva, que está lançando toda a obra do autor. De garçons mal-humorados a restaurantes memoráveis, Verissimo está em plena forma - literária, bem entendido. Uma história imperdível é a caça ao melhor bistrô francês e a carta de provocação a um amigo que sonhava achá-lo. A Estratégia de Lilith. De Alex Antunes Conrad, 222 págs., R$ 19,80 A Lilith do título refere-se à mulher que precedeu Eva no Paraíso e que não aceitou a submissão do Velho Testamento. Por isso ela teria sido convertida em força do mal. O livro, que segue a linha de uma literatura pop cheia de referências à cultura do autor, conta a história de um jornalista, o próprio Alex Antunes, que trabalha em um sumplemento cultural de um grande jornal paulista. Ele vive bem, cheio de regalias e jabás, como CD´s, livros, shows de graça, etc. Mas o negócio vai mal quando é demitido pela chefe e amante. Sem namorada e trabalho fixo, ele começa uma jornada por rituais xamânicos e passeios norturnos por pontos de prostituição de São Paulo. A obra, um painel da cidade nos anos 80 e 90, fica no limite entre a ficção e o realismo. Sr. William Shakespeare. Por Márcia Williams Ática, 40 págs., R$ 27,90 A escritora inglesa Marcia Williams quis mostrar como o povo ficava arrepiado quando uma peça de Shakespeare estreava no Globe Theatre. Depois de estudar bastante a época elisabetana, quando o dramaturgo escrevia e encenava suas peças, resolveu levar as mais importantes obras dele para os quadrinhos. Sua intenção era transportar os leitores de hoje para o teatro londrino. As histórias do livro são contadas em três níveis. Há o texto original falado, a narração em legendas do enredo e os comentários e palpites da platéia. O resultado é um Shakespeare didático sem perder a originalidade. Algo raro em adaptações que se destinam tanto a adultos quanto para crianças. A edição reproduz o cartaz original da temporada com as peças. Dicionário Houaiss. Org. Antonio Houaiss Objetiva, 3.008 págs., R$ 115 Desde que foi lançado há cerca de três meses, divide com o Aurélio a preferência dos brasileiros. O Houaiss é mais gordo e completo que o rival. Em seus quase quatro quilos, estão relacionados 228.500 verbetes, 28,5 mil a mais que o Aurélio. Como todo dicionário que se preze, antes mesmo de ser lançado já provocava polêmica. Há quem o ataque por conter expressões e vocábulos ingleses em excesso. E, em Bauru, gerou protesto em razão do verberte sobre o sanduíche homônimo. Mas são questões menores. As vendas do Houaiss dispararam, mostrando que havia uma lacuna entre os léxicos de língua portuguesa no Brasil. Dicionários podem não ser tão charmosos e sedutores quanto um romance ou biografias, mas tem sua utilidade garantida entre os leitores.

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