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Diálogos de latino-americanos

MAM do Rio inicia programa reunindo Carlos Cruz-Diez e Waltercio Caldas

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Na Paris dos anos 60 e 70, Carlos Cruz-Diez travava discussões artísticas com colegas de todas as partes do mundo em bares de Montparnasse e Quartier Latin. Enquanto na capital francesa o venezuelano revolvia aspectos da arte cinética da qual passaria a ser um dos maiores representantes, com o compatriota Jesús Rafael Soto (1923-2005), no Rio o jovem Waltercio Caldas estava imerso em debates sobre o ambiente cultural brasileiro, um diálogo intenso enriquecido com informações que chegavam pelos que viajavam à Europa, e pelos livros de arte.Na quarta-feira, no Museu de Arte Moderna (MAM) carioca, Cruz-Diez, radicado em Paris há 51 anos, e Waltercio, "artista brasileiro que vive no Rio", como já brincou anos atrás, com ponta de orgulho, ao ser indagado num evento internacional sobre sua nacionalidade e local de moradia, puseram-se a conversar sobre suas obras. A convite da Casa Daros, eles abriram o programa Meridianos, que promove até novembro mais quatro encontros de latino-americanos (os próximos são Teresa Serrano e Lenora de Barros, Gonzalo Dias e José Damasceno, Leandro Erlich e Vik Muniz e Julio Le Parc e Iole de Freitas).Com participação do curador do MAM, Luiz Camilo Osório, a tertúlia, pontuada pelo bom humor do venezuelano, cheio de vitalidade aos 87 anos, e a solidez do pensamento de Waltercio, um dos artistas brasileiros de maior renome, foi assistida por um auditório lotado de interessados em obras de arte e no fazer artístico."Nos anos 60/70, o diálogo era intenso. A sensação, no Brasil, era de que havia tudo por fazer. Era um ambiente ávido por ideias, a ponto de eu passar 10, 15 anos conversando com amigos a respeito de nossas dúvidas. A especialização afastou a gente", acredita Waltercio. "Hoje, cada um está voltado a seu telefone, seu ateliê", disse Cruz-Diez, ele próprio dono de um iPhone último modelo, que maneja com destreza admirável.Eles falaram sobre questões artísticas e as contribuições que cada geração deixou para as que se seguiram (são 23 anos de diferença entre os dois). "É reconfortante ver que as gerações mais novas deram sentido ao meu trabalho, já que a minha não o compreendeu. Gosto da ideia de servir de ponto de partida para outras investigações", disse Cruz-Diez. O público já espera pelos próximos.

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