Deu no NYT: Caetano é "revolucionário", e seu livro, "formidável"

Deu no NYT: Caetano é "revolucionário"

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Recém-publicado nos Estados Unidos, o livro Verdade Tropical, do cantor e compositor brasileiro Caetano Veloso, foi elogiado na edição de domingo do The New York Times Literary Suplement. "Imagine um cantor e compositor surgido nos anos 60 capaz de combinar a poética e a política de Bob Dylan, a sedução melódica de Burt Bacharach, o visual de um ator francês e o pensamento de Susan Sontag nos seus tempos de Partisan Review", sugere o resenhista Gerald Marzorati, diretor editorial da The Times Magazine. Para ele, Caetano é a pessoa capaz de reunir essas qualidades. O jornal, além de publicar o artigo sobre Tropical Truth - A Story of Music and Revolution in Brazil (Alfred A. Knopf), também transcreveu o capítulo de introdução à obra, do próprio Caetano Veloso. Segundo o resenhista, a devoção dos fãs a Caetano guarda semelhança com a de Elvis: os dois são tratados pelo primeiro nome. Marzorati também diz que Caetano é uma referência para quem se debruçou sobre os estudos do pós-colonialismo. Afirma que, numa trajetória similar à de Salman Rushdie, Caetano, "que chegou aos 60 anos no começo de 2002", viveu num mundo absorvido por questões de centro (EUA e Inglaterra) e periferia (o restante do mundo). "Sua música, ou muito dela, pode ser considerada como uma resposta inventiva a essas questões." "Se os historiadores e críticos, daqui a 75 ou 100 anos, concluírem que a música popular tem tanta importância quanto nós acreditamos que ela têm - e se as fronteiras entre ´aqui´ e ´lá´, para não dizer nada sobre ´alto´ e ´baixo´, continuarem a ser esgarçadas por incursões dos dois lados -, Caetano deve ser lembrado como um dos grandes compositores de nossa era", complementa o artigo. Depois de apresentar o autor de Tropical Truth, Gerald Marzorati explica que o livro é "essencialmente" uma memória de um artista ainda em atividade sobre os anos 60. "É um livro formidável", escreve, embora reconheça que sua leitura possa ser um tanto difícil para não-familiarizados com a música brasileira. Isso não o impede, em seguida, de afirmar que "esse é um trabalho não convencional, que combina autobiografia, crítica cultural e profunda sabedoria musical", e que "nunca houve nada assim" escrito por alguém que gravou músicas como as de Caetano ou que subiu ao palco usando roupas de plástico. Para exemplificar a gama de assuntos que Caetano é capaz de tratar, ele cita um trecho em que o compositor passa a discutir o papel da liberação sexual e mesmo da "indeterminação" sexual na construção dos popstars, discutindo obras e comportamentos de nomes como Simone de Beauvoir, Mario Vargas Llosa, Cristopher Lasch, Carmem Miranda e Andrew Sullivan. "O coração do livro", escreve Marzorati, "é a Tropicália, ou o tropicalismo", um "movimento contracultural de vida curta que no final dos anos 1960 fez ferver a arte, a poesia, o teatro e mais memoravelmente a música pop brasileira". Depois de narrar algumas das histórias que fazem parte do livro, Marzorati lembra a influência do tropicalismo sobre músicos do mundo inteiro, de britânicos a franceses. "A cultura pop globalizada não é nem univocal nem unidimensional como normal e preguiçosamente se acredita. Caetano está nela antes de qualquer um. Nesse sentido, é, certamente, revolucionário."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.