Detido há um mês, artista chinês é celebrado em exposições

Família de Ai Weiwei não tem notícia sobre o seu paradeiro desde que ele foi preso.

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Por BBC Brasil
Atualização:

Diversas exposições do artista plástico Ai Weiwei estão sendo inauguradas em diferentes cidades do mundo nesta semana. No entanto, com a ausência do artista, que foi detido pelas autoridades chinesas há mais de um mês, muitas das inaugurações se transformaram em homenagens e manifestações em defesa de sua liberdade. Ai Weiwei é um dos artistas plásticos da China de maior renome internacional. Ele também é famoso por seu ativismo em favor da liberdade de expressão e direitos humanos. No dia 3 de abril, Ai Weiwei foi detido pelas autoridades chinesas quando embarcava de sua cidade, Pequim, para Hong Kong. Desde então, o advogado e a esposa do artista disseram que não tiveram mais contato ou notícias sobre ele. Na semana em que o artista foi preso, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China disse que Ai Weiwei estava sendo investigado por "crimes financeiros" e que sua prisão não tinha nenhuma relação com direitos humanos ou liberdade de expressão. Homenagens pelo mundo Ai Weiwei era esperado nesta semana em Londres, onde duas exposições de obras suas foram inauguradas. Em Nova York, 12 esculturas de Weiwei foram apresentadas ao público. Na vernissage de inauguração das obras, o prefeito Michael Bloomberg elogiou a coragem do chinês. Em Berlim, outra exposição com obras suas foi inaugurada na semana passada. Em frente à galeria de arte, os organizadores colocaram uma faixa que diz: "Onde está Ai Weiwei?" O artista recebeu o título de professor visitante da Universidade de Berlim e membro de honra da academia de artes da cidade. Em Paris, o escultor britânico Anish Kapoor revelou na segunda-feira uma escultura gigante chamada "Leviatã", que foi dedicada ao artista. Ativismo e obra Ai Weiwei, de 53 anos, é um dos mais famosos artistas e ativistas da China. Ele ficou famoso por colaborar no desenho do famoso estádio Ninho de Pássaro, usado na Olimpíada de Pequim, em 2008. Mas mesmo tendo ajudado o governo chinês, ele posteriormente criticou a Olimpíada como um "evento vazio", e não voltado para cidadãos comuns. "Nós temos um governo que, depois de 60 anos no poder, não dá ao seu próprio povo o direito de escolher seus líderes", disse Ai Weiwei à BBC em novembro de 2010. "Esta é uma sociedade que sacrifica os direitos e a felicidade do povo para ganhar lucros." Após o terremoto de Sichuan, em maio de 2008, ele voltou a provocar polêmica. Ai Weiwei, junto com outros ativistas e pais de vítimas, acusou o governo chinês de não ser transparente. A escola teria sido construída com material de segunda mão, resultado de corrupção do governo chinês. Weiwei criou na fachada de um museu de Munique uma escultura com centenas de mochilas de crianças que formavam a frase "Ela viveu feliz por sete anos neste mundo", dita pela mãe de uma das vítimas. Em outubro do ano passado, Ai Weiwei inaugurou em um dos espaços mais nobres da galeria Tate Modern, em Londres, uma obra com 100 milhões de mini-esculturas de sementes de girassol, feitas de porcelana. Segundo ele, a obra exposta no salão Turbine da galeria é uma reflexão sobre a produção em massa nos tempos modernos e o papel do indivíduo na sociedade. As opiniões e atitudes de Ai Weiwei despertaram a atenção das autoridades chinesas. Em 2009, ele disse ter sido agredido pela polícia por ter comparecido ao julgamento de Tan Zuoren, outro ativista chinês. Em dezembro, ele e outros ativistas foram impedidos de deixar o país. A medida foi tomada supostamente com o intuito de esvaziar a cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz ao ativista chinês Liu Xiaobo, que também está preso. Em janeiro, o estúdio de Ai em Xangai foi demolido. As autoridades justificaram que o artista não havia obtido permissão para usar o prédio. Exposições Em Londres, duas exposições com obras de Ai Weiwei foram inauguradas nesta semana. No jardim da tradicional Somerset House, foi aberta a exposição "Círculo de Animais/ Cabeças do Zodíaco", inspirada em esculturas tradicionais do horóscopo chinês. As obras - compostas de 12 cabeças de animais esculpidas em bronze com 1,2 metro por 90cm - são uma recriação dos originais encontrados em uma fonte no século 18 nos arredores de Pequim. A galeria Lisson de Londres vai abrir na sexta-feira outra mostra com a arte de Ai Weiwei. Uma das peças mais polêmicas é uma escultura de uma câmera de segurança, como as que a polícia usa para monitorar as ruas na China. A peça é esculpida em mármore, o material geralmente usado em lápides. As exposições do artista atraíram opiniões diversas em Londres. "Ele é um desses indivíduos raros, que é uma mente incrível e que quer usar a liberdade da arte como instrumento para libertar outras pessoas", disse o escultor britânico Antony Gormley. Já o crítico de arte Alastair Smart afirma que o trabalho de Ai Weiwei pode ser um pouco monótono, sempre usando objetos do passado para refletir sobre o futuro. "É justo dizer, talvez, que a vida de Weiwei tornou-se uma obra de arte", escreve o crítico. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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