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Destaque da Mostra Árabe, 'Constantino' traz busca familiar

Filme de Otávio Coury recria uma voz que vem de longe, mas também é feito de muitos silêncios

Por LUIZ CARLOS MERTEN - O Estado de S.Paulo
Atualização:

Na Abertura das Mostra Mundo Árabe de Cinemas, a curadora da retrospectiva Mapeando a Subjetividade, Rasha Salti, disse que fazer filmes na Síria é mais do que simplesmente difícil. Quando se trata do registro emergencial de situações como as que o país vive agora, esquecem-se as condições técnicas e vale tudo na busca da urgência captada (e eternizada). Mas se o filme é de ficção ou mais elaborado, a situação se complica, e muito. Que o diga o diretor brasileiro Otávio Coury. Ele apresenta hoje, 20h30, no Cinesesc, seu novo filme, Constantino. É o nome de seu bisavô. No próprio filme, Coury conta como lhe chegou a informação sobre a existência desse ancestral que praticamente desconhecia. Otávio Coury descobriu um livro com a indicação de que se tratava da obra completa de Daud Constantino al-Khoury. Traduzindo-o, descobriu que o bisavô foi poeta e dramaturgo. E partiu em busca de informações sobre ele. Memória, identidade, interação. São temas que a Mostra Mundo Árabe avaliza e o próprio Otávio Coury tratou antes em Cosmópolis. Mas lá o filme não era dele, ou só dele. Outros autores compartilhavam a visão da imigração e da pluralidade de vozes na cidade grande, São Paulo. Agora é. Uma história de sua família, sobre suas origens, em Homs. Coury foi atropelado pela realidade, isto é, pela dificuldade de filmar na Síria. Ele imaginou que faria um filme meio ao acaso, sobre os encontros fortuitos que poderia ter em busca do legado do bisavô. Obter autorização para filmar, formar uma equipe, tudo era tão difícil que o que conseguiu fazer teve de ser extremamente planejado. O filme que o público vai ver é resultado desse planejamento. A dificuldade revelou-se, acredita Coury, positiva. Há muitas informações sobre o bisavô, sua família, mas também sobre o teatro e a poesia sírios. E há toda uma preocupação de linguagem. Constantino recria uma voz que vem de longe, mas também é feito de muitos silêncios. É um filme que o espectador terá de vivenciar e preencher, propõe o diretor.

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