Designer inglês é destaque no Fórum Internacional de Arquitetura Cênica

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Por Agencia Estado
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Convidado pelo cenógrafo J.C. Serroni para abrir o Fórum Internacional de Arquitetura Teatral - encontro de cenógrafos do Brasil e do exterior, no Sesc Vila Mariana, com o objetivo de debater os caminhos da arquitetura cênica -, o inglês Iain Mackintosh surpreendeu ao buscar no passado a inspiração para a arquitetura teatral contemporânea e dar prioridade, acima de qualquer quesito tecnológico, à relação público/artistas. O encontro teve início na terça-feira, com a palestra de Mackintosh, e encerra-se neste sábado à noite. Diretor da Theatre Projects Consultants - o maior escritório de consultoria em arquitetura cênica do mundo, com escritórios em Londres, Connecticut e Cingapura -, Mackintosh e sua equipe criaram, reconstruíram ou converteram centenas de teatros em países como Inglaterra, Holanda, Canadá, Estados Unidos e México. Formado em filosofia pela Universidade de Oxford, Mackintosh ganhou na Quadrienal de Arquitetura Cênica realizada em Praga, no ano passado, a medalha de ouro pelo melhor teatro construído no mundo na década de 90: a Ópera de Glyndebourne, na Inglaterra. Diante desse currículo, seria de se esperar um discurso enfático sobre a importância do arquiteto cênico especializado. "Não convidem arquitetos famosos para construir seus teatros; talvez seja melhor deixar essa tarefa a cargo de um ator, que melhor compreenderá a relação da companhia com seu público", brincou. Tampouco defendeu a construção de edifícios modernos e flexíveis - podendo ser utilizados como arena ou palco italiano - plenos de recursos tecnológicos como palcos giratórios, sofisticadas mesas de luz, acústica perfeita e assentos confortáveis. Evolução - Mackintosh apoiou sua palestra na exibição de 200 slides de plantas baixas ou fotos de teatros do mundo inteiro, desde as arenas gregas até os mais modernos teatros da Broadway. E procurou mostrar que a evolução do espaço cênico ao longo do tempo, longe de contribuir para o envolvimento do espectador no fenômeno teatral, esfriou a relação público/representação. "Um teatro que evoluiu e se transforma é democrático; um monumento que vai durar muitos anos é fascista", foram algumas frases de sua autoria também projetadas em slides. "Atualmente os diretores e atores preferem espaços alternativos aos edifícios teatrais e essa não é uma questão somente do Brasil, mas universal", afirmou Mackintosh, em entrevista à reportagem, após sua palestra no Sesc Vila Mariana. "Isso porque os arquitetos tornaram o edifício teatral um espaço frio, sem vida". Segundo ele, a arquitetura cênica caminhou no sentido de separar atores e público. Mesmo depois de ter abandonado as arenas ao ar livre ou os tablados armados nos pátios internos das construções medievais, as representações seguiram sendo feitas em teatros nos quais platéia e palco eram igualmente iluminados - o que incluía o público no espetáculo, fazendo da ida ao teatro uma celebração coletiva, uma ocasião para se ver gente reunida. Nesses teatros, o público tomava todas as paredes laterais. Mesmo a tradicional arquitetura dos teatros de ópera, aquela típica dos "teatros municipais" brasileiros, apresentava um grande proscênio (a parte da frente do palco próxima do público) o que permitia uma importante "área de interseção" entre espectador e ator. O surgimento da luz elétrica trouxe recursos como a criação de focos de luz sobre os atores. O resultado foi o escurecimento da platéia e o recuo do proscênio, não mais "necessário" para a boa visão. Os antigos teatros passaram por reformas para diminuir o proscênio. "A conseqüência é a péssima visão das cadeiras laterais", diz Mackintosh. A partir daí, surge o teatro moderno, em forma de leque. Um teatro de paredes vazias - sem gente nas laterais -, palco distante, cadeiras confortáveis e individuais, platéia silenciosa e escurecida. Um espaço frio e não mais o caloroso local de celebração dos primeiros tempos. "A função da arquitetura teatral é canalizar a energia do ator para o público e vice-versa", afirma. Em seus projetos de reformas teatrais, ele não raro propõe a colocação de cadeiras nas laterais dos teatros e o avanço do palco em direção à platéia. "A visibilidade pode não ser tão boa nas cadeiras laterais quanto nas centrais, mas, em compensação, o espectador paga menos por esses lugares". Cores - Ele também defende o retorno ao vermelho e dourado no ambiente teatral. "Um estudo científico provou que essas duas cores predispõem o público a rir ou emocionar-se mais rapidamente do que o cinza ou preto". Por meio de alguns slides Mackintosh mostrou ainda que as atuais cadeiras reclináveis ocupam muito espaço - oito assentos reclináveis ocupam o mesmo espaço de 15 cadeiras comuns - e afastam os espectadores uns dos outros. "Quanto mais espaços vazios, mais difícil é a propagação do som, o que provoca problemas de acústica". Mackintosh exprimiu ainda sua opinião sobre os sofisticados teatros da Broadway. "Casas de 2 mil lugares são empreendimentos comerciais feitos por empresários interessados em lucros; a inovação jamais ocorreu num teatro com mais de 600 lugares", afirma. Mas então não é vantajoso poder desfrutar de recursos como palcos giratórios e teatros de múltiplos usos? "O problema de se conseguir coisas ao simples toque do botão A, B ou C é que sempre vão faltar os botões D, E ou F", argumenta. Entre os teatros brasileiros cuja arquitetura conhece, elogia a "beleza experimental" do Oficina e a ambiência do Sesc Pompéia, com seu formato de vila, permitindo reunir num mesmo local várias atividades artísticas. "São raros os arquitetos que conseguem fazer uso poético do concreto, como Lina Bo Bardi". E afirmou ter muita vontade de conhecer de perto o Theatro José de Alencar, em Fortaleza, que considera belíssimo.

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