Designer defende aliança com propaganda

A exposição dos trabalhos da Duffy Design, na Panamericana em São Paulo, apresenta 18 anos de atividade integrada entre agência publicitária e escritório de design

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Embalagens, anúncios na televisão, decoração da loja, websites ou cartões de visita: onde a marca de uma empresa aparece, ela deve falar com a mesma voz. Esse é, basicamente, o argumento do designer Joe Duffy, presidente do escritório americano Duffy Design, para defender que publicitários e designers trabalhem juntos. Isso raramente acontece, porque na atual estrutura de funcionamento da publicidade, os publicitários ficam responsáveis pelos anúncios e os designers, por logotipos e embalagens, em atividades bastante separadas. Joe Duffy esteve no Brasil na última semana para dar uma palestra e inaugurar a exposição Duffy Design: Uma Única Voz, na Panamericana Escola de Arte e Design, uma retrospectiva de dezoito anos de atuação de seu escritório, que atende clientes como Coca-Cola, McDonald´s, BMW, revista Time, Nikon e Armani. A Duffy Design é uma unidade da agência de publicidade Fallon, que por sua vez é controlada pela multinacional Publicis Groupe, um dos maiores conglomerados de publicidade do mundo. A Duffy é representada no Brasil pelo escritório da Fallon em São Paulo. Para Duffy, a marca de uma empresa é como uma pessoa, que deve expressar a mesma personalidade sempre que aparecer. "A marca não pode falar de uma forma, digamos, cômica, num anúncio de televisão e de forma dramática na embalagem, isso confunde o consumidor", diz Duffy. Segundo ele, apesar de essa ser uma idéia bastante simples, não costuma ser seguida pela maior parte das empresas - o trabalho de designers e publicitários normalmente ocorre separadamente. "Digamos que você viu um anúncio de cerveja e resolveu experimentá-la, mas você pode mudar de idéia se, ao chegar no supermercado, a embalagem não lhe agradar. É apenas um exemplo, mas é por isso que é tão importante que designers e publicitários trabalhem juntos", explica Duffy. Para ele, as coisas ficam mais complicadas porque existe um certo ceticismo e ciúme entre designers e publicitários. "Falo assim de modo geral, ainda que eu conheça muitos designers e publicitários que se respeitam mutuamente", observa. Designer tem que desenhar As imagens da Duffy Design têm uma mensagem sempre muito clara e direta. "Você não deve colocar no design nenhum elemento a mais do que o estritamente necessário. Você tem de ser tão simples e direto quanto possível", diz Duffy. Ele acha que o design atual está poluído, congestionado, confuso, e isso se deve bastante ao computador, que hoje todo designer usa. "Depois que se passou a fazer design no micro, com ferramentas extremamente poderosas, ficou muito fácil ir acrescentando mais um elemento, outro, e camadas sobre camadas de detalhes. Muitos designers pulam essa etapa do desenho à mão, de criação de um esboço e vão direto para o computador, e o resultado é um design carregado", explica. Para ele, é essencial que o designer desenhe à mão, porque um esboço a lápis é a maneira mais rápida de se expor uma idéia, de forma muito simples, e discutir se ela é viável. "Infelizmente desenha-se cada vez menos", lamenta Duffy. Depois dessa fase é que se continua o trabalho no micro, até sua finalização, por isso é importante que o designer também domine as ferramentas do computador, que trazem produtividade. Criatividade em tempo integral "Criação não é um trabalho, é um modo de vida", defende Duffy. "Você não chega às nove, senta à sua mesa e começa a ser criativo. Pessoas criativas são criativas o tempo todo, pensam em design o tempo todo, é uma forma de ver o mundo", diz Duffy. Para ele, o hábito de folhear outros trabalhos em revistas e livros (as "referências" como se diz em jargão publicitário) é uma armadilha em que muitos designers jovens caem, porque isso acaba gerando repetições e adaptações que não refletem perfeitamente a marca do cliente - funcionam uma vez e depois se esgotam. "Dá muito mais trabalho, toma mais tempo e requer criatividade fazer algo realmente original", diz Duffy, "mas se nunca foi feito, será muito mais interessante." A inspiração, diz Duffy, vem da observação do mundo: a natureza, pinturas, música, a cidade etc. Talento é algo inato, diz ele. Alguém nasce com o dom e pode cultivá-lo indo a boas escolas e trabalhando com outros designers, mas não se pode simplesmente "decidir" tornar-se designer. Serviço Duffy Design: Uma Única Voz De segunda a sexta, das 9h às 21h; sábado, das 9h às 13h. Entrada gratuita. Panamericana Escola de Arte e Design. Rua Groenlândia, 77, telefone: 11-3885-7890. Até 9 de maio

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.