Desgaste emocional de atores mirins é preocupante

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Por Agencia Estado
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Na opinião da professora Maria Thereza Fraga Rocco, titular da Faculdade de Educação da USP, a decisão do juiz Siro Darlan, da 1ª Vara da Infância e Juventude do Rio, em tirar de cena as crianças, foi justa em função do contexto em que os atores mirins estavam sempre envolvidos, mas perdeu um pouco seu sentido pelo fato da proibição de estender também a todos os menores de idade do elenco (Carla Diaz, intérprete da garotinha Rachel, Samuel Melo, Tide, e Júlia Almeida, Estela). "Acho que poderia ter tido um efeito muito maior se tivesse sido apenas direcionada às crianças. As crianças maiores já têm poder para discernir o que é vida real ou não, principalmente a adolescente Júlia, que é filha do Manoel Carlos. Considero que mantê-los afastados das gravações é um abuso de autoridade", ressalta a professora, que não concorda com a "Rede Globo" em classificar a proibição como "censura". "Vejo isso como uma proibição calcada numa lei, mas a emissora está usando seu poder para se levantar contra um órgão legal. Fiquei decepcionada ao ver pessoas que eu admirava muito do ponto de vista político, como a Marieta Severo e o Arnaldo Jabor, associarem essa determinação judicial ao que ocorreu no Brasil nos tempos da censura. Os artigos 220, 221 e 222 da Constituição tentam regulamentar os meios de comunicação e trata-se de uma orientação intelectual dada a uma emissora de TV e, que se não for respeitada, pode até resultar na não renovação da concessão da emissora", destaca. O estresse emocional ocasionado pelas gravações é um dos motivos levantados pela professora como fundamentais para que se obedeça a liminar judicial à risca. "A maioria das cenas que a Nina (Júlia Maggessi) aparecia eram as violentas discussões entre a Clara (Regiane Alves) e o Fred (Luigi Baricelli), num completo estresse emocional. Tirando uma cena ou outra em que ela aparecia abraçando a avó (Helena, vivida por Vera Fischer), essa garotinha só surgia em cenas que envolviam uma tensão emocional. Mesmo que não sejam os pais verdadeiros, presenciar discussões como aquelas podem surtir um efeito devastador no psicológico das crianças", aponta a professora, lembrando que foi por causa de cenas como essa - em que a personagem de Regiane Alves repetiu 19 vezes a cena em que sofria um acidente, depois de brigar com o marido na frente da filha - que a primeira intérprete da garotinha, Larissa Honorato, teve de ser substituída. "O juiz tem toda razão quanto à proibição por causa da exposição das crianças em cenas que trazem um conteúdo violento", ressalta a professora, apontando que as cenas de conotação violenta também ocorriam durante a participação dos gêmeos Nattan e Andrei Beltrão, que se revezam no papel de Bruninho, filho da Capitu (Giovanna Antonelli). "Em algumas cenas, o garotinho foi tirado do colo da mãe pelo próprio pai, que tem um comportamento altamente agressivo, e em outras, ele presencia a mãe chorando por causa de seus problemas pessoais. A criança assiste aquilo tudo e, às vezes, dá pra perceber que ela fica assustada, já que ainda não dispõe do poder de decisão para definir se aquilo é real ou não", salienta a professora. Para Maria Thereza, que também atua como colaboradora do Núcleo de Telenovelas da USP, a televisão encanta muitas pessoas e acaba incentivando famílias a investirem na carreira precoce de seus filhos. "Muitos pais e mães de hoje em dia sonham com seus filhos aparecendo na TV, mas o problema é que nem todas as famílias são suficientemente esclarecidas para avaliar o quanto essa exposição demasiada pode prejudicar uma criança, tanto pelo desgaste físico, quanto emocional", comenta. O fato de muitas crianças ganharem salários até maiores do que de seus pais, de acordo com a professora, é um dos motivos para que as famílias insistam em mantê-las atuando.

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