Decidiram que o Juca tinha que conhecer a Helena. Os dois gostavam de ler, entendiam de música e de cinema, formariam um par perfeito. Eram – segundo Miguel, que arranjaria o encontro – almas gêmeas que só precisavam se encontrar. E o encontro se deu, na mesa do bar que a turma frequentava. Toda a turma presente, para não perder o acontecimento.
Devidamente instruído pelo Miguel (que recomendara: “Vai leve, ela é sensível”) Juca começou:
– Então você é a Helena. O pessoal fala muito em você.
– E você é o...
– João Carlos. Juca,
– Juca. Muito prazer.
– Me disseram que você gosta muito de música.
– É verdade.
– Bach ou Mozart?
– Prefiro o Beethoven.
– Beethoven. Hmmm. Um pouco bombástico para o meu gosto.
– Como, “bombástico”?
– E cinema? Fellini ou Antonioni?
– Nenhum dos dois, Fellini sempre foi um farsante, e de que adianta ser italiano como o Antonioni e viver agoniado?
– Espera um pouquinho. Fellini farsante?
– Farsante. Farsante!
Helena estava quase levantando da cadeira. Miguel tentou intervir.
– Gente, calma.
Alguém cobrou:
– Ó Miguel, quem foi que pesquisou esse encontro?
Miguel propôs:
– Quem sabe vocês falam sobre literatura? Vocês preferem Hemingway ou Fitzgerald?
– Nenhum deles! – gritou Helena, possessa – Os dois eram homossexuais, só que o Hemingway disfarçava. O cara era o Faulkner!
– Ah, é? Ah, é?! E o Dos Passos?
– Gente – tentou Miguel – e se vocês falassem de política? Em quem vocês vão vo...
– NÃO! – gritaram todos na mesa, temendo que corresse sangue.