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Descubra os centros culturais ao redor do Minhocão, em São Paulo

Junte-se ao movimento que planeja ocupar a região com arte, música, piquenique...

Por Ramon Vitral e Renan Dissenha Fagundes - Divirta-se
Atualização:

Tudo bem se você não quiser escolher um lado na polêmica dos alunos da USP, ou se sair no sol para seguir uma passeata não é exatamente a sua. Há várias outras formas (algumas bem mais festivas) de se engajar: caso clássico do protesto transformado em churrasco em Higienópolis, em maio deste ano, ou de ações bem-humorados do movimento ‘Ocupe’.

 

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Com essa pegada mais cultural e menos militante (mas sem deixar de ser crítico), o festival Baixo Centro quer ocupar a região de Santa Cecília, Campos Elísios, Barra Funda e Vila Buarque, levando atividades culturais para os arredores do Minhocão.

 

Se você é um leitor assíduo do Divirta-se e acompanha nossas reportagens, certamente busca novas e boas formas de aproveitar a cidade. Os organizadores do ‘Baixo Centro’ - um movimento horizontal, sem líderes, formado por vários produtores culturais - querem o mesmo: integrar o espaço urbano na vida dos moradores e utilizar São Paulo melhor: “as ruas são para dançar”, diz o slogan do festival.

 

E mais: você pode dar o seu empurrãozinho à retomada cultural dos bairros do ‘Baixo Centro’. Como? Descubraa seguir mais sobre o festival e como contribuir.

 

HACKEAR O CENTRO?

 

São Paulo está se fechando: há cada vez mais leis restringindo as possibilidades - e, principalmente, os horários - de uso de seus espaços urbanos. Convencidos de que nós, cidadãos, podemos propor as melhores formas de utilizar as ruas, os produtores culturais por trás do ‘Baixo Centro’ acreditam que a cidade precisa ser reaberta, ‘hackeada’.

 

E essa pegada tecnológica tem relação com a origem do grupo, articulado em torno da Casa da Cultura Digital (CCD), um espaço de trabalho em que vários empreendimentos - como o coletivo Garapa, a Esfera (do Ônibus Hacker), e a Agência Pública (veículo que publica o Wikileaks no Brasil) - dividem quatro casas de uma vila operária do início do séc. 20 na Barra Funda. Mas o CCD não é o comando do ‘Baixo Centro’. É apenas seu lugar de nascimento - e uma influência.

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Isso se soma a uma outra influência, mais antiga: a contracultura. Quando amadureciam a ideia do ‘Baixo Centro’, vários de seus organizadores estavam lendo um livro sobre o grupo holandês Provos ( saiba mais abaixo).

 

O resultado prático é um projeto para levar ao entorno do Elevado Costa e Silva dez eventos, em um festival a ser realizado em março do ano que vem. E, seguindo a lógica da internet de unir em rede vários pontos dispersos, criar uma plataforma online para conectar os espaços culturais da região.

 

Mas a realização do festival ainda não está garantida. Enquanto buscam os recursos para viabilizá-lo, os criadores aceitam trabalho voluntário, doações e sugestões. A nossa? Nada de desobediência civil. Vamos ocupar as ruas, mas com a prefeitura do nosso lado.

 

DANÇARINOS DE RUA

 

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O mote dos idealizadores do ‘Baixo Centro’ é que ‘as ruas são para dançar’. O lema foi emprestado do movimento Provos, criado na Holanda em 1965, no despertar da contracultura, e depois materializado em forma de revista. Contrário ao tráfego de veículos motorizados em Amsterdã, o grupo distribuiu pela cidade 50 bicicletas, pintadas de branco, para uso público. A ação se tornou símbolo do movimento e inspirou o uso de cores na expressão de ideais da contracultura ao redor do mundo - como o verde dos hippies de São Francisco. A história do Provos virou livro, publicado no Brasil pela Conrad (R$ 31).

 

FESTIVAL DOS FESTIVAIS

 

Conheça alguns dos eventos sugeridos pelos organizadores. E não seja tímido, apresente as suas

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PRETÉRITO PERFEITO

 

O Teatro Paiol - um dos pontos de partida para a articulação que acabou virando o ‘Baixo Centro’ - foi aberto em novembro de 1969 pelo atores Perry Salles e Miriam Mehler. Na época, o Elevado ainda não fora construído e a região de Vila Buarque e Santa Cecília era mais segura e frequentada por um público em busca de cultura. “O centro era ótimo naquela época. Era uma região de teatros”, afirma Miriam, que hoje tem 76 anos e ainda trabalha como atriz. Na década de 80, o comando do teatro passou para Paulo Goulart, mas o espaço não resistiu à degradação dos arredores, causada em grande parte pela construção do Minhocão. Fechou no começo dos anos 1990, virou cinema pornô e hoje está à venda. Um grupo de produtores culturais, muitos deles envolvidos no ‘Baixo Centro’, quer reformar e reabrir o Paiol, com uma administração coletiva. Miriam diz que acha “fantástica” a iniciativa. “Eles são jovens, e corajosos”, afirma. Com o trabalho, o Paiol pode voltar a ser um centro de cultura da região, como foi há 40 anos.

 

 

PRESENTE COMPLEXO

 

A antropóloga e cineasta Maíra Buhler lançou em 2007 o documentário Elevado 3,5 (foto). Codirigido por Maíra, João Sodré e Paulo Pastorelo, a produção apresenta a história do Minhocão e o cotidiano de alguns dos cidadãos que moram na vizinhança dos 3,5 km da construção. A ideia da produção veio durante a época de faculdade, quando ela e seus colegas de direção tinham um laboratório de fotografia na região e perceberam o potencial cinematográfico do local. Na opinião de Maíra, o Minhocão é uma cicatriz no meio da cidade: “Como obra é uma tragédia, mas sua construção desvalorizou os arredores e permitiu que pessoas que não teriam como habitar o Centro mudassem para lá”. Defensora da integração social consequente da inauguração do Elevado Presidente Costa e Silva em 1970, ela ressalta a necessidade da melhoria da qualidade de vida dos habitantes do entorno. “É preciso cuidar da área, desde que isso não seja sinônimo de exclusão de moradores ‘desagradáveis’ para o Estado e sim fruto de um diálogo democrático”, diz Maíra.

 

 

VEM DANÇAR

 

Para os organizadores do ‘Baixo Centro’, o festival (e o próprio movimento) só faz sentido se você quiser que ele aconteça - e fizer algo para torná-lo viável. Natural, portanto, que em vez de sair atrás de patrocínio junto a empresas ou de uma verba oficial, eles tenham optado pelo financiamento colaborativo. A ferramenta escolhida foi o Catarse, site brasileiro criado no começo do ano. Como o americano Kickstarter, o site mais conhecido do gênero, o Catarse permite financiar projetos bacanas com a ajuda do próprio público-alvo. Cada ideia tem 90 dias para se viabilizar. Se 100% do valor pedido não for captado, os doadores recebem seu dinheiro de volta. O Baixo Centro tem até 18/1 para levantar R$ 54.747. Abra a mão, vai: bit.ly/bcentro.

R$ 56 milé o valor pedido no Catarse para fazer o festival ‘Baixo Centro’. O orçamento total é de R$ 96.280 e está detalhado no site, para facilitar doações em espécie. Se um projetor for emprestado, o valor do aluguel é cortado do valor total.

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R$ 10é o valor mínimo para participar do financiamento. Mas há recompensas para quem doar mais: R$ 20 garante ao doador foto no site e no carrinho multimídia; R$ 50 dá direito a mais uma camiseta e ao livro ‘CulturaDigital.BR’.

 

R$ 15 milé o valor indicado para empresas, que prevê como contrapartida uma página exclusiva de patrocínio no site, 50 camisetas e uma performance do carrinho multimídia. Para garantir a pulverização das doações, apenas duas cotas neste valor estão disponíveis.

 

Faça +Dinheiro não é a única forma de contribuição. Você pode doar materiais e até trabalhar. Entre em contato no Facebook ou no grupo de emails.

 

Saiba +Quer saber mais sobre o ‘Baixo Centro’? Assista aos dois vídeos já divulgados pelos organizadores do evento: um teaser do festival e ‘as ruas são para dançar’.

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