Descobrindo a América no CCBB do Rio

Material, principalmente cerâmica, data de dois milênios antes de Cristo até perto da chegada dos colonizadores

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Por Agencia Estado
Atualização:

As culturas da América pré-colombiana não se resumiam aos incas (que viviam onde hoje é o Peru), maias e astecas (México), mas era um amálgama que cobria os dois lados da Cordilheira dos Andes e se espalhava até o Brasil. A mostra Louco por ti América, que começa hoje para convidados no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio traz um acervo de 11 instituições públicas e uma coleção particular para mostrar que, além disso, esses povos não poderiam ser chamados de primitivos seja qual for a conotação que se dê a esse adjetivo. "Comprovadamente, a América andina era povoada 18 mil anos antes de Cristo, embora descobertas do lado brasileiro, de 20 ou 30 mil anos, indiquem que se pode falar em períodos anteriores", explica a curadora da exposição, a arqueóloga Márcia Arcuri, doutora pela Universidade de São Paulo (USP), com mestrado na Inglaterra, onde trabalhou com a coleção pré-colombiana do Museu Britânico. "Eram povos com uma organização social e um modo de ver a vida sofisticado e, ao contrário do que se pensa, não eram aliteratos. Os desenhos encontrados em seus objetos, às vezes repetidos ou colocados em série, indicam que eles usavam uma escrita que ainda não conseguimos decifrar." O material exposto em dois andares do CCBB data, no máximo, de dois milênios antes de Cristo até próximo à chegada dos colonizadores. A mostra foi organizada em cinco módulos, para fins didáticos, já que a cultura desses antepassados não era compartimentada como a atual. "E os descendentes deles estão aí, embora a colonização tenha dividido o território em países diferentes, como é o caso do Brasil e do restante da América Latina", conta Márcia, que se especializou na organização político-religiosa dos astecas, que viviam no México. "Mas aqui o desconhecimento sobre o assunto é muito grande, mesmo nos meios acadêmicos. Tanto que, quando eu dizia meu tema de estudo, me perguntavam o que eu tinha achado do Peru (onde viveram os incas)." A maioria dos objetos expostos é de cerâmica, trabalhada com uma sofisticação que indica amplo domínio dessa técnica. São objetos de uso diário e ritual, geralmente ornados com desenhos cujo significado ainda está em estudo por historiadores, arqueólogos e antropólogos. No CCBB, estão divididos cinco blocos: Cosmovisão (como se representava e entendia o mundo), Vida em Sociedade e Assentamento, Sociedade e Religião, Política e Sociedade e Sociedade e Comunicação=Linguagem. "Os objetos poderia estar num ou noutro bloco, pois as atividades religiosas e cotidianas se misturavam", avisa Márcia. Ela evitou, no entanto, dar muita informação em textos. "É melhor que os objetos falem por si. Informação demais pode cansar o público e provocar um efeito contrário ao que se deseja." Louco por ti América fica no Rio de Janeiro até 29 de janeiro. Depois, em fevereiro, a exposição vai para o CCBB de Brasília e, em 13 de maio, chega a São Paulo.

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