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Descoberto tesouro sacro emparedado em igreja

Seis peças do século 17 foram achadas numa janela da igreja matriz de São Sebastião vedada desde a década de 20

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma bomba no mundo da arqueologia: esta semana, durante as obras de restauração da igreja matriz de São Sebastião, no litoral paulista, uma equipe de técnicos encontrou seis obras sacras incrustadas numa janela da construção que encontrava-se vedada desde os anos 20. As imagens são do século 17 e três delas estão em bom estado. Uma das peças que estavam emparedadas, imagem de Santa Luzia de autor desconhecido, é datada de 1652. De acordo com o arqueólogo Wagner Bornal, que presta serviços à prefeitura de São Sebastião, as obras, feitas em terracota, são raras e sua recuperação deverá ser acompanhada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. As obras encontradas são uma N. Sra. Com Menino (com cerca de um metro e meio de altura), uma Santa Luzia (a obra datada), um Santo Antônio, um santo "Bispo" (vestido de bispo) além de fragmentos de um Cristo crucificado e de um São Sebastião. Podem ter vindo da Europa, mas também existe a hipótese de terem sido feitas por mestres locais. "Talvez essas imagens possam estar relacionadas com a igreja antiga", afirmou o arqueólogo. Construída no século 17, a igreja sofreu inúmeras reformas e numa delas, no começo deste século, três janelas de sua capela-mór foram fechadas com pedras e tijolos. Mas o interior ficou oco, e foi onde os operários encontraram as imagens. "A obra datada é muito rara, mesmo para colecionadores, e pode ajudar no estudo da arte sacra pelos traços fisionômicos da imagem", disse Bornal. Ele acredita que as peças possam ter sido depositadas na janela vedada pelos próprios padres ou por quem reformou a igreja. Após o restauro, as obras deverão ir para o Museu de Arte Sacra de São Sebastião ou ficarem expostas na própria igreja. A decisão caberá ao bispo diocesano de Caraguatatuba, D. Frei Fernando Mason. As obras de restauração da igreja matriz de São Sebastião estão sendo bancadas pela Petrobras e a Volks, e estão orçadas em R$ 800 mil. A Prefeitura repassou R$ 100 mil, a Volks entrou com R$ 400 mil e a Petrobras, com R$ 300 mil. Há alguns meses, antes da decisão das empresas de investirem no projeto, a igreja ameaçava ruir e foi interditada aos fiéis pelo bispo da região. Tombada pelo Condephaat (Conselho de Desenvolvimento do Patrimônio Arquitetônico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo), ela é um dos mais importantes bens culturais do município, ao lado do casario colonial da região (composto por 29 casarões), também tombado. A interdição aconteceu em novembro de 98. Desde então, as missas passaram a ser realizadas no salão paroquial anexo. O projeto inicial de restauro foi elaborado na Divisão Municipal de Patrimônio Histórico, em 97, pelos arquitetos Fernanda Palumbo e José Roberto de Souza, e aprovado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Em meados de 98, o projeto original recebeu "ok" do Condephaat e, em 25 de fevereiro do ano passado, o Ministério da Cultura aprovou a restauração da Igreja, que tem o apoio da Lei Rouanet. Segundo informações da prefeitura de São Sebastião, a igreja foi erguida em um terreno doado por sesmeiros. Em 1636, com o desenvolvimento do povoado e o reconhecimento da capela, São Sebastião é elevada à categoria de vila. Em 1819, começou a primeira grande reforma custeada com recursos locais. Também no início do século 20, a igreja sofreu várias intervenções, com conseqüentes descaracterizações. Na década de 40 o altar-mór foi substituído e a madeira trocada por alvenaria. Em 1950, a igreja ganhou novos vitrais. Em 53, os altares laterais deram lugar a outros de marmorite e gesso. O ano de 1992 foi marcado pela destruição dos altares de cedro. A Igreja Matriz foi construída com pedra e cal. Na sua forma original (sem torre), a fachada e a planta-baixa têm inspiração jesuítica, com composição renascentista, moderada e regular, inspirada no espírito severo da Contra-Reforma, segundo o Iphan. O frontão reto, triangular e com volutas é modelo de transição entre o Renascimento e o Barroco. A planta da nave com capela-mór mais estreita é o modelo mais comum no Brasil colonial. A nave possui esteios eqüidistantes de sustentação da cobertura, uma solução arquitetônica rara no Brasil, mas comum nas missões da Bacia do Prata. O aspecto atual da igreja é resultado das obras de 1819. O atual restauro visa a devolver o estado que o prédio adquiriu nessa última reforma, do século 19. Também serão refeitos os sistemas elétrico e hidráulico.

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