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Dercy comemora 100 anos com DVD e atuação em peça

Atriz animou a platéia do espetáculo Pout-Pourrir, em cartaz no Rio

Por Agencia Estado
Atualização:

A atriz Dercy Gonçalves completa 100 anos em 23 de junho e foi preciso uma trupe de jovens comediantes (talentosíssimos, mas desconhecidos) ter a iniciativa de comemorar a data em cena, numa récita do espetáculo Pout-Pourrir, em cartaz há sete meses no Teatro dos Quatro, mas só às quartas-feiras. Dercy lotou a sala na quarta-feira, 18, com gente de todas as idades, de crianças a senhoras de cabelos brancos e bengala, e fez todos rirem com suas tiradas surpreendentes e espontâneas. E aproveitou a oportunidade para vender seu DVD, Dercy 100, presente de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-todo poderoso da Rede Globo, seu amigo desde os anos 60. Dercy chegou cedo ao teatro e repassou sua participação com os diretores de Leandro Goulart e Afra gomes. Ela foi entrevistada numa paródia do programa de Marília Gabriela (Luiz Aguiar, impagável) e contou um pouco de sua vida: "Fugi de casa aos 14 anos, com uma companhia de teatro (de Maria Castro) que passou por Santa Maria Madalena, onde nasci, no interior do Estado do Rio. Eu só queria cantar e achei maravilhoso que me pagassem por isso. Mas era tão inocente que achava que o mundo era só a minha cidade", disse ela. "Desde então, passei por tudo que se pode imaginar, mas sempre fui feliz porque encontrei portas abertas e não guardei mágoas. Se hoje me imitam fico contente, mas acho bobagem. Ninguém copia outra pessoa, cada um é único." Reproduzir o humor cáustico de Dercy é difícil, até porque ela fala aos borbotões. De moto próprio, não vai comemorar o centenário porque acha que "100 anos é tempo demais para uma pessoa viver". Mas não recusará convites, como o da trupe de Pout-Pourrir, autêntico besteirol que acaricia a inteligência do público, com uma seleção de esquetes bem no estilo de Dercy: politicamente incorreto, ferino e muitísssimo bem interpretado. A professora de power-axé, que só está ali para cumprir as cotas raciais (Rô Sant´Anna), o clone de Renata Sorrah (Márcio Machado) e a a freira passista de escola de samba (Mariana Santos) e a Barbie Trash, doidona (Cristina Fagundes), entre outros, são o preâmbulo perfeito para a entrada triunfal de Dercy. "Adorei estar no meio desses meninos, que me pagam para sair de casa", disse ela no camarim, antes do espetáculo. "Dinheiro é muito bom porque dá liberdade, conforto e me permitiu criar minha filha (Dercymar, que lhe deu dois netos e outros dois bisnetos) e ter a vida que escolhi", completou depois no palco, durante a entrevista com a Marília Gabriela fake. Aliás, é excelente piada a dúvida da atriz sobre o sexo e/ou a opção sexual da entrevistadora. Foi ensaiado, mas Dercy faz a supresa parecer real. O público, que já aplaudiu de pé, logo na chegada, repetiu a dose demoradamente no fim do espetáculo quando ela, parodiando Roberto Carlos, jogou as flores oferecidas pela produção para a platéia. 100 ou 102? Dercy não é a única estrela a dar uma canja. Carlinhos de Jesus fez um padre, ensinando a passista/freira a sambar, a diarista Cláudia Rodrigues esteve lá e, na semana que vem, será a o músico e ator Zeu Brito (que canta Soraya Queimada em Meu Tio Matou um Cara). Cristina Pereira vai levar seu espetáculo Tan-Tãn, sucesso da década passada, e Patrycia Travassos deu um conto para ser adaptado, com a participação dela. Chamar Dercy para a comemorar os 100 anos foi um golpe de mestre como publicidade para uma trupe que se desespera com a falta de ressonância de seu espetáculo nos meios de comunicação cariocas. "A gente arriscou achando que seria muito difícil porque todo mundo aqui é fã dela. Dercy é uma referência para qualquer ator, ainda mais comediante. Mas ela foi super acessível, generosa, e nos deu esse presente em seu centenário", comentou Afra Gomes antes do espetáculo. O público lotou a sala, adorou o espetáculo e, finalmente, a mídia carioca tomou conhecimento deles. Mas a própria Dercy tem dúvidas se está mesmo fazendo 100 anos. Segundo ela, seu pai, pobre e viúvo, esqueceu-se de registrar os filhos e, quando o fez, declarou o mesmo ano para o nascimento três dos sete que teve. "Acho que eu nasci mesmo foi em 1905, portanto já estou quase com 102 anos", diz a atriz, com uma vitalidade invejável, mesmo para a metade de sua idade, e uma voz que dispensa microfone. A amizade com Boni é antiga. Ele conta, na contra-capa do DVD ter sido ela a responsável pelo consolidação da Rede Globo nos anos 60. "Foi com o sucesso no programa da Dercy, aos domingos, que a Globo conseguiu promover seus outros programas", escreve ele. Dercy 100 é um documentário/homenagem com 40 minutos, em que a atriz conta, numa longa entrevista sua vida e sua trajetória no cinema, teatro e televisão (com cenas ótimas das chanchadas que fez nos anos 50 e 60) e amigos seus (Yoná Magalhães, Chico Anysio, Marco Nanini etc) fazem uma entrevista coletiva que ela responde rápida e certeira. Hoje, Boni e Dercy estão afastados da Rede Globo (ele tem emissoras no interior de São Paulo e ela é contratada do SBT, mas pouco atua). "O Silvio Santos me paga para ficar em casa, mas eu queria atuar" diz ela. "Feliz foi a Nair Belo que morreu em cena, na Globo."

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