15 de abril de 2011 | 00h00
A atriz, encerrada sua fala, começa a sair da personagem. Mas Júlia percebe que continua sendo filmada. Por um momento, ela não sabe exatamente como reagir. Olha para a câmera, para trás da câmera. Olha para os lados, crispa as mãos, os lábios e a câmera, inflexível, não desliga. É o toque de gênio do filme.
Documentário, ficção? Amor? se constrói no limite entre ambos. Um filme nas bordas, como se diz. Eduardo Coutinho tem trabalhado nesse registro, do qual Jogo de Cena é o melhor exemplo. Num certo sentido, Amor? é cria de Jogo de Cena. A mesma importância conferida à palavra. François Truffaut, um ficcionista romântico, que desconfiava do próprio romantismo gostava de mostrar apaixonados divididos entre o gesto impulsivo e a palavra consciente. Júlia representa, naquele momento, o limite.
Temos a personagem, a atriz, o diretor. Cada um marca sua presença. As duas primeiras têm limites fixados pelo último. A atriz desnuda-se, fragiliza-se. Amor? tem vários níveis. Atração fatal é a leitura mais óbvia. Há coisas muito mais ricas. Depende do olho e da sensibilidade de quem vê.
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