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Denise Weinberg gosta de personagem complexo

Por Agencia Estado
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A atriz Denise Weinberg construiu uma sólida carreira no teatro vivendo uma série de mulheres marcadas pela opressão, como Vestido de Noiva e A Serpente, de Nélson Rodrigues, A Megera Domada, de Shakespeare, O Acidente, de Bosco Brasil. "Montei um repertório do qual me orgulho, mas sentia ainda a necessidade de representar um personagem mais complexo", comenta. O momento chegou quando a diretora Ticiana Studart a convidou para viver o papel principal de As Lágrimas Amargas de Petra von Kant, um dos mais vigorosos textos escritos pelo alemão Rainer Werner Fassbinder, que estréia no dia 21 de março, no Teatro Augusta. O desafio estava lançado - Petra leva sua vida ao limite de sentimentos extremos, exigindo uma atuação que retrate com vigor sua queda vertiginosa. Mais: o texto foi montado em 1982 por Celso Nunes, que conseguiu de Fernanda Montenegro a consagração definitiva de sua maturidade artística, transformando o espetáculo em um marco. "Eram desafios que, no início, me aterrorizaram", conta Denise. Mas, como precisava de uma transformação vertiginosa, aceitei. Com isso, a atriz consolidou sua saída amistosa do Grupo Tapa, um dos mais importantes do teatro nacional e com o qual esteve ligada durante 21 anos. E iniciou o estudo de um estilo de interpretação que ainda desconhecia. A atuação segue a linha de direção de Ticiana, que pretende construir a montagem entre o expressionismo alemão e o pop americano. Por isso, não queremos o realismo naturalista, mas algo com uma expressão diferente, como fazem os alemães e os ingleses, explica a diretora que, para isso, comanda ensaios diários no desativado teatro do Jóquei Clube, no Rio, onde o espetáculo está sendo gestado - a mudança da estrutura para São Paulo está marcada para 13 de março. As Lágrimas Amargas conta a história de Petra von Kant, desenhista de moda bem-sucedida, que se apaixona por Karin Thimm (Débora Secco), jovem da classe baixa com pretensões de ser modelo. Petra é continuamente ferida pela moça, que se recusa a renunciar a seus amantes masculinos, inclusive seu marido. Com isso, a desenhista abandona a sólida atitude inicial para viver em eterna insegurança em relação aos sentimentos de Karin. Como em toda a obra de Fassbinder, a dor está misturada ao prazer, em uma vida de sujeiras e crueldades, conta Ticiana que, depois de consultar o tradutor do texto, Millôr Fernandes, decidiu fazer uma pequena alteração no final. "Petra termina em pé, com luz própria, mostrando que ainda é um ser humano viável", conta a diretora, apontando esse aspecto como uma das diferenças essenciais em relação à montagem de 1982. Sua recuperação é tão forte que Marlene, a ajudante, interpretada por Miwa Yanagizawa, decide partir, ao perceber que Petra não é mais opressora. As distinções continuam com as novidades que Ticiana prepara para a montagem, como levar referências do cinema para o teatro - na passagem do terceiro para o quarto ato, há um salto no tempo da história de seis meses. A elipse será sugerida por meio de imagens projetadas em uma tela, revelando as mudanças no cotidiano das personagens (Petra, por exemplo, já está um espectro do que foi). "Será um tempo de respiração na peça", comenta a diretora, que convidou Rogério Gomes, diretor de televisão, para produzir as imagens, buscando até uma iluminação semelhante à dos filmes de Fassbinder. Volume alto - A ambientação será em 1969, como prevê o original, o que vai refletir no figurino e na trilha sonora, recheada de canções melancólicas de Nina Simone, românticas de The Platters e Beatles em volume alto. Outra novidade será uma exposição sobre a obra de Fassbinder, que estará em exposição na entrada do Teatro Augusta. Será um trabalho único, apesar do nosso grande respeito pela montagem de 1982, lembra Denise Weinberg, já desfeita da incômoda comparação com a memorável atuação de Fernanda Montenegro. Todos textos permitem uma nova leitura, senão ninguém mais encenaria Hamlet. Um sinal dos bons ventos, acredita ela, veio em um pacote presenteado por um amigo, que o encontrou em 1982: o texto da peça com anotações feitas por Fernanda. Ali é possível perceber como ela trabalha sua respiração ao dizer as frases, conta Denise. Um amuleto.

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