Denise Stoklos põe o Brasil em foco

A performer, autora e diretora estréia Solos do Brasil, projeto que apresenta os trabalhos de 15 atores-criadores motivados a pensar os problemas do País e expressá-los dentro da metodologia do Teatro Essencial

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Por Agencia Estado
Atualização:

Denise Stoklos não está mais sozinha em seu trabalho de divulgar a cultura de espetáculos-solo - a partir de amanhã, às 21 horas, quando estrear o projeto Solos do Brasil, 15 atores-criadores vão exibir, em programas individuais, todo o aprendizado absorvido durante um longo período de convivência com a performer, autora e diretora. "Os espetáculos encaixam-se no momento político em que vivemos", comenta Denise. "É o resultado de um clamor." Os trabalhos, apresentados em espetáculos de 20 minutos em média, revelam uma visão particular do País, partindo de problemas mais próximos de cada um para chegar a uma preocupação que é de todos. "O processo sempre visou a criar a auto-estima e a originalidade", comenta Denise. Durante nove meses, os 15 atores de diversas regiões do País (selecionados entre cerca de 2.000 candidatos) submeteram-se a um intenso processo para conhecer e absorver o Teatro Essencial, metodolodia criada por ela e que usa um mínimo de elementos cênicos e explora ao máximo o corpo e a voz do ator. "É a partir da gestualidade, da voz, suas tensões e reflexões, que o ator consegue reunir as melhores qualidades para atuar", diz a diretora que já ministrou workshops (inclusive em Nova York), mas jamais participou de um curso tão longo. O assunto que orientou a pesquisa de cada ator foi o Brasil e tinha como objetivo levar os artistas à reflexão e investigação dos problemas do País, colocando-os como presença crítica diante das principais questões que afetam a vida do povo brasileiro. Assim, a obra de determinados autores (Padre Vieira, Euclides da Cunha, Milton Santos, Caio Prado Jr., Hélio Pelegrino entre outros) foi oferecida como incentivo para a reflexão e discussão. "Foi importante também a participação do trabalho do filósofo Luís Fuganti, que evita o ressentimento e incentiva a ação", comenta Denise, que foi auxiliada ainda por Antonio Abujamra, Luís Louis, Hugo Rodas e Gianni Ratto na preparação do grupo. A dedicação dos 15 atores não surpreendeu a diretora ("Ator brasileiro é extremamente interessado em se aprofundar em novas técnicas"), mas sim o resultado final - em cada solo, Denise visualizou algo que, se era inicialmente estranho, na verdade demonstrava a utilização da criatividade. "Em alguns momentos, é possível notar a influência do meu trabalho, mas, de uma maneira geral, todos adotaram caminhos próprios", conta Denise, que só participou do projeto depois da confirmação de que todos seriam remunerados - o que foi possível graças ao patrocínio da Petroquisa e ao apoio do Sesc e da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Os solos de amanhã serão apresentados pelos paulistas Silvana Abreu, Miguel Rocha e Tiche Vianna. A primeira inspirou-se na obra de Clarice Lispector para apresentar Micro-Revolução de um Ser Gritante, que trata das diversas revoluções presentes nas escolhas. O segundo, em Eu Quero Ver o Sol Nascer não do Jeito Que Vejo, descreve atos de violência e racismo em sua comunidade. E Tiche homenageia, em Instrangeira, os "guerreiros" que enfrentam inimigos invisíveis no Brasil. O segundo programa, que estréia sexta-feira, traz o trabalho de Danilo Souto Pinho, do Ceará, Sui Generes Brasil, um panorama da estrutura social e política do País; Jaqueline Valdívia, de Santa Catarina, mostra, em Araponga Valdívia, o reencontro com a essência humana por meio de elementos perturbadores como o medo da morte; o pernambucano Jorge Baía, em Dedicatória, revisa as próprias incertezas diante do poder exercido pelo Estado, Igreja e pelo capital; Cláudia d´Orey, do Rio, encena Acorda (Junto ou Separado); e o baiano Fábio Vidal trata dos ciclos da vida na figura do Erê. O terceiro programa, no sábado, começa com Simone Faro, de São Paulo, com Ecos, sobre as instâncias ecológicas da existência humana. Em seguida, Jô Rodrigues, também de São Paulo, explora a força transformadora da arte em É Possível... É Possível, Sim. Depois, mais um paulista, Sílvio Paulino dos Santos, mostra, em Exclusão, a trajetória de um artista que pinta a ilha de Manhattan. O programa termina com o paraense Taynã Azevedo e Agorijá, que evidencia a urgência de um tempo não-cronológico para as relações humanas. O último programa, domingo, traz Moro Solo, do baiano Roberto Salles, a história de um solitário; Oferenda aos Santos Excluídos, de Jefferson Monteiro (SP), que é "um grito da arte"; e Carta de um Pirata, de Vinícius Piedade (SP), sobre um jovem que troca o lar por um navio pirata. Solos do Brasil. De terça a sábado, às 21 horas; domingo, às 20 horas. R$ 12,00. Centro Cultural São Paulo - Sala Jardel Filho. Rua Vergueiro, 1.000, em São Paulo, tel. (11) 3277-3611. Até 3/2. Patrocínio: Petroquisa.

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