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Denise Fraga volta à Globo, depois do Fantástico

Atriz vive Norma, em programa que mistura humor, pesquisas de atitude e internet

Por Cristina Padiglione
Atualização:

'Norma' é antes de mais nada uma comédia de situação, vulgo sitcom, que excepcionalmente não resulta da compra de qualquer formato internacional, não se baseia em título do passado e tampouco é adaptação de livro, peça ou o que o valha. Norma é uma rara ideia original que surgirá domingo na tela da Globo, após o Fantástico, com todas as condições de aproveitar a interatividade da internet, sem que isso signifique perder audiência para a web. A direção é de Luiz Villaça. O roteiro final, de Maurício Arruda. A cena central, de Denise Fraga. O mesmo trio de Retrato Falado, quadro de maior longevidade do Fantástico, volta à cena em programa solo.

 

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Na web, Norma já tem blog e twitter, onde desabafa sobre seus dilemas (que não são poucos), e busca opiniões alheias para tomar suas decisões. Norma, pobrezinha, só quer ser uma pessoa normal, daí o batismo da personagem. De tanto se achar diferente, virou psicóloga e foi trabalhar com pesquisas. Da média final das aferições que realiza, ela vai resolvendo o que fazer.

 

Atenção: as estatísticas inseridas no script são reais, assim como as pessoas selecionadas para assistir às gravações no cenário do programa. Em determinado momento, Norma tira os óculos e vira Denise. É a atriz quem se dirige à plateia in loco para perguntar: e agora, o que a Norma deve fazer? Separada do marido há nove meses, a personagem quer saber, no primeiro programa, se o seu "luto" deve durar mais que isso, se é normal começar a paquerar e quais armas de sedução deve usar. Norma casou com o primeiro namorado, Cláudio (Cássio Gabus), e está há anos no mesmo emprego. Denise leva em conta o conselho da espectadora que lhe indica um sutiã de bojo. Isso decidido, a atriz recoloca os óculos e volta à cena imediatamente, o que exige certa improvisação e a gravação de um mesmo episódio em várias etapas.

 

"Dá uma trabalheira danada, mas vale a pena", fala Villaça. "Nosso objetivo é ter um programa de que todo mundo participe, que possa divertir e também cutucar o telespectador a comentar o assunto com quem estiver ao lado." O diretor vê no formato de Norma mais um potencial: revelar novos roteiristas. Para início de conversa, dois dramaturgos profissionais, porém novatos em TV, juntam-se à equipe liderada por Maurício Arruda desde o primeiro programa: Sérgio Goldenberg e Sérgio Roveri. A partir de domingo, com a devida divulgação do site - a exposição do endereço, até aqui, foi propositalmente modesta - Villaça espera receber sugestões de diálogos ou ideias de toda espécie, inclusive de estudantes e roteiristas de todo o País que só permanecem no anonimato por falta de oportunidade.

 

Você disse que fica desesperada com o improviso porque é uma atriz "partiturada". Como é isso?

 

É a primeira vez que eu tenho de improvisar, isso pra mim é uma grande novidade, ter de conversar com uma plateia como Denise. Sempre resisti muito em aparecer de Denise. Uma das coisas de que eu gosto muito na profissão é o quanto a gente se esconde, o quanto a gente pode, através do outro, ter uma voz. Isso sempre me fascinou. Mas sempre fiz comédia decorando bem o texto, marcando a forma melhor de falar esta ou aquela frase. Estudo antes, partituro mesmo. Ao mesmo tempo, sou muito tagarela, adoro uma conversa.

 

As perguntas que você faz à plateia são roteirizadas, mas, a partir das respostas do público, você pode se reunir com os roteiristas antes de voltar à cena ou não?

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Eu tenho mais ou menos um caminho de conversa, às vezes essa conversa vai mudar o rumo da próxima cena. Eu posso começar mais ou menos livremente, a gente fala muito de deixar a conversa rolar, de distrair esse comportamental. Mas depois de falar com o auditório eu tenho de voltar para o mesmo instituto (de pesquisas, cenário de trabalho de Norma). O Luiz (Villaça, diretor) na última gravação, me surpreendeu e disse: "Agora volta lá e faz isso que eles disseram a você."

 

É o seu primeiro programa-solo na Globo. A pressão aumenta, em relação a um quadro no Fantástico?

 

Não é que haja pressão, mas ser responsável por um horário da grade é outra coisa. Mas a equipe de Norma é um pessoal que vem trabalhando junto há anos e fazia muito tempo que a gente queria fazer um programa. Esta equipe gerou uma turma de São Paulo que fez Retrato, Dias de Glória, Te Quiero America. No Norma, a proposta era, desde o início, uma sitcom. No começo, era só essa mulher que trabalha com pesquisas, a gente teria esses dados, que forrariam de realidade o programa, mas o Luiz, carpinteiro que é, não sossega enquanto não cria um negócio novo. Faz tempo que ele fala, e o Maurício (Arruda, roteirista final) também, dessa coisa de juntar internet e TV.

 

Esse vaivém para gravar um mesmo episódio em várias etapas dá mais trabalho, não?

 

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É exaustivo, a gente está trabalhando como nunca. Agora mesmo, gravando, tinha um esboço da cena que foi alterado pela interferência das pessoas no auditório. O Maurício e o Luiz fazem aqui uma colcha de retalhos rápida para inserir o que aquele espectador disse. A gente quer falar de cotidiano, de dilemas: por que você sente ciúmes do marido, se foi você quem pediu o divórcio? É sempre bacana tocar nesses assuntos, e com humor, o melhor veículo de comunicação que existe. A gente quer rir de si mesmo e levar o pessoal a comentar com a pessoa que está do lado.

 

Até que ponto é possível trabalhar com a intervenção da internet?

 

A gente tem aprendido e ainda vai aprender muito com o programa, ele vai produzindo ramificações. Outro dia, eu em cena, conversando com a plateia e ouvindo um rapaz falando de ciúmes, me lembrei de um vídeo do YouTube de uma mãe ursa com ciúme do filho. Podíamos inserir na tela do cenário aquele vídeo: são coisas que a gente vai descobrindo que podem ser feitas. Agora começamos a inventar umas brincadeirinhas para fazer com a plateia. No segundo programa, sobre essa divisão de tarefas - as mulheres de terninho no escritório e os homens cuidando da casa - perguntamos à plateia: "Qual é o homem que realmente divide as tarefas com as mulheres em casa? O que você faz?" E a gente botou ali uma mesa de passar roupas e pediu para um homem passar.

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O que a Norma tem de Denise?

 

É um pedaço de Denise, hoje tenho uma segurança maior, tenho de me lembrar dos tempos em que eu era mais insegura. A Norma é uma mulher meio infantil, não menininha, mas que duvida da própria capacidade de fazer as coisas, por isso ela precisa de ajuda, por isso se guia tanto por pesquisas. Hoje em dia, até assistindo a jogo de futebol a gente esbarra em estatística: tem não sei quantos por cento de ataques na área, não sei quanto de defesa, essas coisas. As estatísticas são quase um guru oculto na vida da gente, do tipo: "Ok, filha, pode fazer isso porque 73% das mulheres também fazem."

 

Qual sua relação com a internet?

 

Sou bem low profile, escrevo umas coisas no Word, mando e-mails, fotos, mas com essa história do blog (da Norma), só agora entendo realmente por que as pessoas passam horas na frente do computador. É fascinante essa chance de ver as ideias de todo mundo, criar esse lugar onde se dá espaço para as histórias e que faz refletir.

 

Alguém percebeu que Norma tem um ‘quê’ brechtiano e você está fazendo Brecht no teatro. É coincidência?

 

É, e eu também vejo essa coisa de Brecht, mas nem queria falar porque fica parecendo exibição de erudição, mas quando tiro os óculos e viro o ator, esse distanciamento é mesmo brechtiano. Mesmo quando eu estou de Norma, todo mundo sabe que é a Denise que está ali, vale a pena quando você fala as coisas que quer dizer.

 

Você e o Luiz são casados e trabalham juntos. Passam o tempo confabulando sobre o que pode virar pauta ou em algum momento decretam: "Vamos parar de trabalhar"?

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A gente dá uns bloqueios, sim. Tem umas horas em que a gente brinca de vaca amarela porque senão só fala de trabalho, mas como é um trabalho muito prazeroso, eu brinco que quem nos contrata ganha porque não paga hora extra.

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