Deborah Colker estréia novo espetáculo em Berlim

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Por Agencia Estado
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A coreógrafa e bailarina Deborah Colker é responsável por uma química considerada por muitos como algo impossível: promover a rara convivência entre a dança contemporânea profissional e o gosto popular. Seus espetáculos, além de atrair enormes platéias, normalmente terminam com aplausos emocionados. O fato chamou a atenção da diretora artística da Komische Oper de Berlim, Adolphe Binder, que convidou a artista brasileira para criar um espetáculo especialmente para sua companhia. Apesar de nunca ter trabalhado com um grupo grande dançando ao som de uma orquestra ao vivo, Deborah aceitou o desafio. O resultado é Ela (Sie), que estréia em grande escala no sábado. "Foi um misto de felicidade e medo quando recebi o convite", conta a coreógrafa, comandante de um grupo de dez bailarinos que vão dançar ao som de 57 músicos, sob a regência de Mathias Foremny. "É a primeira vez que realizo uma nova montagem para o exterior." A atração de Binder começou no início de 2002, quando convidou Deborah para realizar um trabalho para outubro daquele ano. "Eu estava estreando o 4x4 (que volta no dia 21, no Teatro Sérgio Cardoso), cujo acabamento foi muito difícil, e acreditei que não seria possível", conta. "Fiquei arrasada, mas tive de recusar." Outro motivo era o curto período reservado para a criação - Deborah teria no máximo nove meses, quando normalmente gasta no mínimo um ano no processo de criação. A coreógrafa acreditava que tinha desprezado uma grande chance profissional quando novamente foi surpreendida por Adolphe Binder - em outubro, Deborah e sua companhia apresentavam o espetáculo Casa na cidade de Hamburgo quando recebeu um novo convite. "Fui a Berlim onde, durante quatro dias, conheci toda a estrutura deles, o que me convenceu a aceitar." A programação, no entanto, era muito mais apertada: Deborah teria de estrear o espetáculo em quatro meses e, mais grave, precisava apresentar uma criação nova. "Tentei convencê-la a apresentar o Casa, mas Binder foi irredutível", conta a coreógrafa, que negociou um meio-termo - o espetáculo começa com uma coreografia nova, de 20 minutos, e, em seguida, é encenado o Casa. Deborah, ao lado do cenógrafo Gringo Cardia, seu habitual colaborador, trabalhou febrilmente para criar um trabalho sobre o desejo. Como pela primeira vez utilizou um libreto, a coreógrafa fez inúmeras pesquisas até se decidir pelo repertório: Ravel (o primeiro movimento do Concerto para Piano e Orquestra em si maior), Górecki (primeiro e terceiro movimento de Three Pieces in Old Style for String Orchestra) e Ravel (Le Jardin Feerique). O centro do cenário é dominado por uma árvore de 7 metros de altura. No chão, listras verdes simulam o solo. "A primeira bailarina a entrar representa o desejo e sua presença provoca confusão entre os demais, despertando ambição e inveja", conta Deborah, que elaborou uma coreografia plena de sensualidade e erotismo. "Há cenas em que os dançarinos se enroscam no chão, em movimentos muito sexy." Outro detalhe do cenário é a colocação de um banco ao fundo, onde os bailarinos que não estão em ação ficam sentados, como se fossem uma platéia observando os demais. E, quando a orquestra iniciar os primeiros acordes de Ravel, será a transição para o começo de Casa. Além da apresentação do sábado, Ela (Sie) voltará à cena em outras nove datas, em Berlim. O espetáculo deverá ser filmado pelo diretor Murilo Salles, que prepara um documentário sobre artistas que vivem intensamente seu trabalho. "Quero trazer o trabalho para o Brasil em 2004, uma vez que não posso apresentá-lo em outros países europeus durante dois anos por obrigação contratual."

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