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Debate marca o lançamento de livro com artistas que reinventam o registro do real

'Fotografia na Arte Brasileira – Século XXI' apresenta o trabalho de 39 artistas

Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

Organizado por Isabel Diegues e Eduardo Ortega, o livro Fotografia na Arte Brasileira – Século XXI, que será lançado neste sábado, 24, com debate na Galeria Pivô, cruza as fronteiras da fotografia tradicional para apresentar o trabalho de 39 artistas que usam o suporte de maneira pouco convencional. O objetivo da publicação, segundo os organizadores, "não é o de defender nenhuma vertente específica da fotografia de arte, mas revelar a vastidão de práticas e pensamentos desse território". A ampliação do campo de ação da fotografia é justamente o tema do debate que precede hoje o lançamento do livro, mediado por Isabel Diegues. O encontro conta com a participação da veterana fotógrafa Claudia Andujar e dois representantes da nova geração, o mineiro Pedro Motta e o manauense Rodrigo Braga.

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O conceito de campo ampliado ou expandido foi cunhado em 1979 pela crítica e ensaísta norte-americana Rosalind Krauss, inicialmente aplicado à escultura. Nesse ensaio, ela questionava o que conhecemos convencionalmente como escultura, defendendo um modelo mais elástico para entender obras tridimensionais. De modo similar, os organizadores do livro questionam as fronteiras da fotografia, ao investigar o trabalho de artistas que transitam por outros territórios e fazem uso de diversas práticas (pintura, escultura, cinema, vídeo, colagem, performance), "contaminando" a linguagem fotográfica. Ou seja, examinam a foto não só como documento ou registro do mundo, mas reinvenção do real, no espaço entre a abstração e a representação.

O tema é abordado em dois ensaios do livro, que trata basicamente do papel da fotografia na era digital, caracterizada pela profusão de imagens manipuladas. Ricardo Sardenberg fala sobre o lugar da fotografia na história. Janaína Melo analisa a produção contemporânea, tratando, por exemplo, da relação corpo e linguagem nas fotos de Cris Bierrenbach e performances de Lenora de Barros, da reinterpretação da paisagem nas imagens de Caio Reisewitz ou do diálogo entre fotografia e pintura no trabalho de Cássio Vasconcellos, igualmente presente na obra de Miguel Rio Branco. Ou nas fotos de Luiza Baldan, jovem carioca de 34 anos que registra interiores com a precisão de um Gordon Willis (fotógrafo que morreu esta semana e trabalhou com Woody Allen e Coppola).

O livro traz obras de nomes consagrados, como Vik Muniz, além de jovens como o mineiro João Castilho, cujo monocromatismo remete aos filmes do russo Sokurov. Não é apenas a saturação cromática que conduz a esse parentesco, mas a tentativa de narração de Castilho, que recorre a polípticos para sugerir uma história. De modo semelhante, o carioca Marcos Chaves, de 53 anos, ao usar objetos fora de seu contexto original, cria uma narrativa que subverte o significado desses ‘objets trouvés’ duchampianos. É o caso da foto Rio Olímpico (2010), em que um trecho da Baía de Guanabara vira uma academia de ginástica improvisada com pesos feitos de lata de cimento.

A imagem é uma das 150 reproduções do livro panorâmico sobre artistas de diferentes regiões do Brasil. De Luiz Braga, nascido há 58 anos em Belém e um dos mais renomados fotógrafos da paisagem amazonense, a Vera Chaves, veterana de Porto Alegre que começou sua carreira como gravadora, o livro reúne um elenco de profissionais dedicado à experimentação, entre eles o paulistano Marcelo Zocchio, engenheiro e ex-fotojornalista que realizou há dois anos uma série original, Repaisagem. Pesquisando fotos antigas de São Paulo, Zocchio fotografou novamente os lugares e justapôs digitalmente as imagens, criando uma metrópole híbrida, em que o passado convive com o presente.

Num tempo bergsoniano, também Alexandre Sequeira, de Belém do Pará, fez com que a imagem virtual dos moradores do vilarejo de Nazaré do Mocajuba, nunca antes fotografados, convivesse com ambientes reais, imprimindo sobre toalhas, redes e lençóis o retrato de corpo inteiro, em tamanho natural, de seus modelos. Num registro mais épico, Rodrigo Braga, de Manaus, retoma a paisagem bíblica, arcaica, violenta, encenando uma relação corpo a corpo com a natureza, como em Comunhão 1 (2006), em que se enterra até o pescoço ao lado de um bode. Entre outros artistas conhecidos, o livro reúne Cao Guimarães, Eustáquio Neves, Kenji Ota, Mauro Restiffe, Rosângela Rennó, Rubens Mano e Vicente de Mello.

FOTOGRAFIA NA ARTE BRASILEIRA – SÉCULO XXIAutores: Isabel Diegues e Eduardo Ortega.Edit.: Cobogó (400 págs., R$ 168).

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