De Michelangelo a Picasso, 6 séculos de desenho

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Por Agencia Estado
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Seis séculos do melhor desenho criado a partir do Renascimento estão representados por 45 pequenas e soberbas obras trazidas da Áustria e exibidas na Frick Collection, em Nova York, na exposição Michelangelo to Picasso: Master Drawings from the Collection of the Albertina, Vienna. Elas fazem parte de uma das maiores, mais completas e mais valiosas coleções de obras sobre papel - que tem cerca de 60 mil desenhos e 1 milhão de impressões -, formada a partir do século 18 pelo duque Alberto de Saxe-Teschen. Filho de Frederico Augusto II, príncipe da Saxônia, e casado com MarieCristine, a filha preferida da imperatriz Maria Teresa, o duque Alberto(1738-1822) dividia com sua mulher um refinado gosto por gravuras e desenhos. Sua excelente condição financeira permitia a compra de coleções inteiras de uma só vez, como fez com os desenhos e aquarelas do alemão Albrecht Dürer que pertenceram ao imperador Rodolfo II. Com a morte do duque, sua coleção, que possuía então 14 mil desenhos e 230 mil impressões, passou para o sobrinho dele, o arquiduque Carlos da Áustria. Em 1920, esse imenso acervo foi reunido ao da Biblioteca da Corte Imperial, formando então a Graphische Sammlung Albertina (Coleção de Arte Gráfica Albertina). A instituição sobreviveu até ao bombardeio que, em março de 1945, destruiu quase totalmente sua sede no centro de Viena (as obras estavam a salvo, nos cofres de dois bancos). A Albertina continua crescendo e é hoje um fantástico mostruário da arte do desenho, com obras de todas as regiões do mundo, produzidas desde o período gótico até o contemporâneo. A minúscula parcela da coleção exibida nas duas galerias do subsolo da Frick tem desde esquetes até trabalhos finamente detalhados, vistos como obras-primas concluídas. A maioria deles raramente é vista fora da Áustria. Michelangelo to Picasso atravessa todos os períodos representados no acervo vienense, trazendo exemplos de desenhos e aquarelas de mestres do Renascimento como Leonardo da Vinci até grandes nomes da arte contemporânea como Jackson Pollock. Estudos - No hall de entrada da mostra destacam-se três estudos de Da Vinci (1452-1519), Michelangelo (1475-1564) e Picasso (1881-1973). O apóstolo desenhado com ponta de prata sobre papel azul por da Vinci, possivelmente representando Pedro, é um dos poucos estudos que restam feitos para o afresco A Última Ceia. Mais adiante encontra-se um dos mais famosos estudos de nu masculino feito por Michelangelo. A figura em giz vermelho é um dos estudos preparatórios para o teto da Capela Sistina, no Vaticano, e também um dos raros desenhos do gênio italiano, pois ele queimou muitos deles. Ao fundo, como um divisor entre exemplares de arte antiga e moderna em que foram separadas as obras nas duas galerias, está o desenho em giz preto de uma cabeça de mulher feito por Picasso na primeira década do século 20. A modelo foi a então amante do artista, Fernande Olivier. Os traços angulosos sobre o papel serviram de base para uma escultura de bronze e anunciavam as formas do cubismo que o artista espanhol começava a criar. Albrecht Dürer (1471-1528), representado por quatro de suas obras, é o artista com maior número de trabalhos na exposição. Entre eles, chama mais atenção o retrato de um velho desenhado com tinta preta e pincel sobre papel violeta, em 1521, durante visita de Dürer à Holanda. O retrato, que serviu como estudo para o famoso São Jerônimo pintado pelo artista alemão, tem no topo uma inscrição feita à mão pelo autor: "Este homem tinha 93 anos e ainda era saudável e forte em Antuérpia", escreveu Dürer sobre seu modelo. Michelangelo to Picasso, que fica em cartaz na Frick Collection até 18 de junho, pinça outros 38 exemplos da coleção Albertina. Demonstrando as mais diversas técnicas e estilos de desenho através dos séculos, há obras de Rafael, Rubens, Rembrandt, Tiepolo, Van Gogh, Klimt e Schiele, além de uma série de artistas austríacos contemporâneos e ainda ativos como Arnulf Reiner, Franz West e Max Weiler. Para acompanhar a exposição, está à venda o livro Albertina: The History of the Collections and Its Masterpieces. Preparado por Barbara Dossi, curadora-chefe da instituição, e publicado pela Prestel Verlag, o livro apresenta novas pesquisas sobre a história da Albertina ao longo de quase 250 anos, mais a reprodução de dezenas de obras do seu acervo.

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