Datena se lança como poeta

O polêmico apresentador prepara um livro de poesias e crônicas sobre seqüestros, assassinatos e outros assuntos tirados de seu antigo telejornal na Record. A inspiração, diz, vem de autores como Sartre, Nietzsche e Saramago

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Por Agencia Estado
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Quem o vê sisudo, enchendo a tela ao narrar o cotidiano de bangue-bangue de São Paulo, não poderia acreditar que, por atrás de toda aquela indignação, esconde-se um homem sensível. "As pessoas se espantam mesmo. Mas a lua, que inspira tantos poetas e amantes, também tem seu lado obscuro, pouco conhecido. E eu tenho o meu, que vou revelá-lo agora para o público", filosofa José Luiz Datena, apresentador do Brasil Urgente da Band. Pois o mais polêmico nome do jornalismo policial vai lançar um livro de poesias e crônicas daqui a um mês. Inicialmente, a obra seria apresentada na Bienal do Livro que acontece em maio, no Rio de Janeiro. Mas, aproveitando o estardalhaço na mídia por conta da mudança do apresentador da Record para a Band, os editores decidiram antecipar o lançamento. Com o nome ainda indefinido - falou-se em Brasil em Alerta e A Luta pela Cidadania - o livro terá 96 páginas, 40 fotos de Raquel Guedes (a mesma que ilustrou Estação Carandiru de Dráuzio Varella), custo aproximado de R$ 25 e publicação pelo selo Célebris da Editora Rideel. Para escrever o prefácio da obra, foi convidado ninguém menos do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As poesias de Datena vão tratar dos casos do cotidiano, todos inspirados em manchetes do seu antigo telejornal na Record, Cidade Alerta (clique aqui para ler 174). O apresentador vai transformar em versos emocionados o caso do ônibus 174, do cirurgião plástico assassino Farah Jorge Farah e até mesmo a morte do casal von Richthofen pela filha Suzane. Ela, por exemplo, será representada por uma foto de um anjo caído, seguida de uma poesia do jornalista. O livro será dividido em cinco capítulos, cada qual com um artigo da Constituição e uma crônica de Datena como introdução. Em seguida, vêm as poesias, todas ilustradas com uma foto. O primeiro capítulo, A lei do mais forte, falará sobre agressão e lembrará crimes que chocaram o público. O segundo, O grito dos excluídos, trata sobre as necessidades básicas dos brasileiros que vêm sendo desrespeitadas. As gerações perdidas aborda o problema dos jovens delinqüentes. Finalmente, O mal-estar da população trata de saúde e O futuro na contramão mostra problemas da cidade, como enchentes. Como uma espécie de epílogo, entra um texto, Profissão Coragem, que arremata com a visão do apresentador sobre o cenário brasileiro. A seguir, José Luiz Datena revela ao JT um pouco mais sobre seu lado poeta: Quando começou a escrever poesia? José Luiz Datena - Na adolescência. Naquela época, o amor, o namoro era uma expressão diferente, mais emocional. Aos 15 anos, era um rapaz muito tímido e costumava me declarar e arranjar namoradas por meio de poesias de amor. E dava certo? (Risos) Sempre dava certo. Conheci minha esposa aos 15 anos e a conquistei justamente graças à poesia. Nos casamos quatro anos depois e estamos juntos até hoje. De vez em quando ainda escrevo poesias para ela. Sou romântico. Quando escreve suas poesias? À noite, mas este livro fiz também logo após apresentar alguns programas, na Record, ainda inspirado e indignado pelos acontecimentos que acabara de narrar. Como surgiu a idéia de escrever um livro? Sempre escrevi poesias, textos, mas acabava guardando. Há dois anos, pensei em conciliar minhas poesias com os fatos que narrava. Vim escrevendo até que, há dois meses, um rapaz da manutenção apagou sem querer as poesias do computador. Em 60 dias, tive de relembrá-las. Em que autores se inspira? Em vários. Gosto de Sartre, Nietzsche e Saramago. Como as pessoas reagiram ao descobrir seu lado poeta? Todos ficam surpresos, mas gostam do que escrevo. É uma satisfação mostrar esse meu lado oculto.

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