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Daniel Piza escreve sobre cultura

Em Questão de Gosto o jornalista reúne ensaios e resenhas publicados desde 95 na imprensa e comenta a influência de Paulo Francis em seu trabalho

Por Agencia Estado
Atualização:

Quando o assunto é cultura, tudo são escolhas. O jornalista Daniel Piza, editor-executivo do jornal O Estado de S. Paulo, fez as suas, que defende no livro Questão de Gosto (Record, 392 págs., R$ 40). A coletânea reúne ensaios e resenhas publicados, desde dezembro de 1995, na imprensa. O volume chega às livrarias no dia 10. Para Piza, há uma revalorização da crítica cultural no jornalismo brasileiro e mesmo mundial, fenômeno que se inicia depois da queda do Muro de Berlim, em 1989. "A crítica voltou a debater os costumes e a ver as implicações sociais, filosóficas e históricas de um ato de consumo cultural", escreve na introdução. Ele chama esse movimento de revisionismo e o considera positivo. "O passado tem de ser visto com um olho no presente", crê. O papel do jornalista seria o de produzir um pensamento multidisciplinar, que não fique restrito a pequenos grupos acadêmicos. "Paulo Francis, Sérgio Augusto e Ruy Castro foram nomes muito importantes na minha formação e na minha vida", diz. "Foi lendo-os que soube da existência de uma revista chamada New Yorker, que hoje faz parte do meu dia-a-dia." Piza procura, assim, entender fenômenos artísticos e culturais a partir da herança de nomes como Machado de Assis e Euclides da Cunha, para ficar apenas entre os brasileiros, e da observação de comportamentos e do cotidiano. O livro é dividido em grupos temáticos. O primeiro deles é Costumes. Piza aponta, por exemplo, fragilidades do discurso que faz a apologia da diferença e do multiculturalismo, que considera baseado em convocações sentimentais. Acredita, por exemplo, que o eurocêntrico Montaigne, autor de Dos Canibais é citado indevidamente por movimentos que não endossaria. Também nesse grupo de textos, defende que a verdadeira contracultura é a alta cultura, geradora de idéias que depois se espalhariam pela sociedade. Outros grupos de textos são Interpretações do Brasil Literatura Brasileira e Portuguesa, Literatura Internacional, Artes Visuais Brasileiras, Artes Visuais Internacionais, Crítica e Jornalismo, Miscelânea e Aforismos sem Juízo. Freqüentemente associado à imagem de Paulo Francis, Piza diz que agradece a lembrança: "Se alguém pensa que está me atacando, lamento dizer que considero um elogio." Na sua opinião, Francis tinha um dos melhores textos da história da imprensa brasileira. Também vê diferenças entre eles: "Sou menos performático, procuro julgar os fatos depois de compreendê-los." Embora tenha escrito os ensaios e as resenhas imaginando que eles pudessem vir a ser publicados na forma de livro, Piza acredita que a forma permite uma leitura menos apaixonada e mais reflexiva - porque menos fragmentada - do que a das edições no jornal. Facilitaria também uma análise mais criteriosa dos argumentos. "Nos EUA, Gore Vidal, John Updike e Norman Mailer reúnem textos originalmente publicados em jornais em coletâneas; isso não acontece no Brasil porque o mercado editorial aqui quase não existe."

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