Daniel Galera lança romance 'Barba Ensopada de Sangue'

PUBLICIDADE

Por AE
Atualização:

Durante um baile dominical, aquele em que todos os habitantes de uma cidade pequena se encontram, repentinamente faltou luz. Dez minutos depois, com a situação restabelecida, um homem surge estirado no chão, morto por várias facadas. Ninguém se surpreende - na verdade, o silêncio impera. Conhecido por seu temperamento irascível, o falecido não deixa saudade e o desaparecimento de seu corpo se torna um caso insolúvel para a polícia, pois não há vestígios tampouco algum depoimento que ajude elucidá-lo."Meu pai contou essa história há muitos anos, quando costumávamos passar o verão em Garopaba, no litoral catarinense", relembra o escritor Daniel Galera. "Nunca soube se era algo realmente verdadeiro ou um daqueles mitos que marcam uma sociedade." O certo é que a história não saiu de sua cabeça e anos depois inspirou "Barba Ensopada de Sangue", livro que a Companhia das Letras lança até sábado.Trata-se de um dos melhores romances brasileiros deste ano e certamente um ponto alto na carreira de Galera, sempre lembrado como um dos mais promissores entre os jovens autores nacionais. O tom musical da prosa e o modo como os diálogos - precisos e rápidos - servem de contraponto à ação, como bem observou o argentino Ricardo Piglia, transformam "Barba Ensopada de Sangue" em um livro muito forte, "a um tempo engenhoso e desprendido, alternando o grau zero e o alto grau de escrita", na opinião de outro autor, Francisco Bosco.O assassinato foi o ponto de partida. A lenda dizia se tratar de um cidadão de Garopaba, mas Galera preferiu transformá-lo em um gaúcho, Gaudério - há uma grande incidência deles morando na cidade catarinense. O escritor também viveu uma temporada lá, cerca de um ano e meio, fazendo anotações, germinando ideias, destrinchando o local. "Não pretendi apresentar um retrato fiel da cidade, mas utilizar sua geografia como espaço vital para o desenvolvimento da história."Assim, o romance acompanha a trajetória do protagonista (cujo nome não é revelado), um professor de educação física, que decide viver em Garopaba. O que o motiva é uma história contada pelo pai antes de seu suicídio, sobre o misterioso desaparecimento do avô, Gaudério, que morava na cidade catarinense - ele foi supostamente assassinado daquela forma, esfaqueado durante o blackout acontecido durante uma festa dominical. Aparentemente, foi enterrado como indigente em uma cova sem identificação, mas há também a versão de que seu corpo foi atirado ao mar.Acompanhado de Beta, cadela do falecido pai, o professor empreende a busca pela verdade, mergulhando em um isolamento geográfico e psicológico. No período passado em Garopaba, ele faz algumas amizades, desperta paixões, mas, principalmente, transforma-se em ''persona non grata'' por conta da investigação. Pior: sua incrível semelhança física com o avô perturba a população, especialmente os mais velhos, que conheceram Gaudério.Em seu quarto romance, Daniel Galera, paulistano nascido em 1979, consolida a estatura de um escritor sério, robusto, tranquilo, como bem adjetiva o português Gonçalo M. Tavares. Sua escrita fluente não perde o prumo mesmo com digressões ou revisões de perspectivas, independentemente do personagem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.BARBA ENSOPADA DE SANGUEAutor: Daniel Galera. Editora: Companhia das Letras (424 págs., R$ 39,50).

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.