Da sala de aula direto para a cama

Javier Drolas, de Medianeras, vive professor seduzido por aluna em A Menina Sem Qualidades, produção da MTV

PUBLICIDADE

Por JOÃO FERNANDO
Atualização:

Com mais de uma década de experiência nos palcos, o argentino Javier Drolas, de 41 anos, teve seus momentos de calouro quando veio ao Brasil para gravar A Menina Sem Qualidades, séria produzida pela MTV Brasil, com estreia marcada para amanhã, às 23 horas. O ator relembra que pôs os pés no set sem saber muito o que fazer."Cheguei no dia da leitura e depois tive quatro dias de folga. Pedi para ir ao set um na véspera para ver como era tudo, a estética. Não conhecia os atores, isso me deu uma perspectiva virgem", contou o artista, conhecido por aqui pelo longa hermano Medianeras, exibido em 2011. Por não ter fluência no português, ele teve receio. "O idioma poderia ser uma barreira, mas havia uma vontade de comunicação. Sou o clichê do ator que se diz tímido", diverte-se.A história da atração - baseada no livro homônimo da alemã Juli Zeh e adaptado para a TV pelo diretor Felipe Hirsch - gira em torno de Ana (Bianca Comparato), uma adolescente com inteligência acima da média que sofre com seus dilemas e a diferença de intelecto em relação aos colegas de escola, com quem tem uma relação tensa, com fortes agressões físicas. A vida da protagonista se transforma quando Alex (Rodrigo Pandolfo), com perfil semelhante, chega ao colégio. Os dois se envolvem e começam um jogo psicológico em que dominam poucos alunos. Ela também seduz Tristán, professor de espanhol vivido por Drolas.O personagem, também argentino, carrega as lembranças ruins de seu passado como militante de esquerda na ditadura, reforçadas a todo tempo por sua mulher, Bianca, interpretada por Inês Efron, mexicana criada nas imediações de Buenos Aires, que atuou ao lado de Ricardo Darín em XXY (2007), de Lucía Puenzo, que também esteve no elenco de Medianeras. As cenas do casal são as poucas em que Javier Drolas não se arrisca no portunhol. "Perguntaram se eu queria um coach. Mas o Tristán é argentino. Queria falar o melhor português, mas não foi possível. A pronúncia é muito diferente, tem sons nasais. Não consigo entender a diferença entre avô e avó", conta rindo, ao pronunciar ambas as palavras com o mesmo som fechado do 'o'.Apesar de ser muito jovem durante a ditadura militar argentina, o ator garante não ter tido problemas na hora de buscar os sentimentos dos militantes. "Vivemos de perto esse medo. Meus pais tiveram amigos desaparecidos, presos e torturados", disse ao Estado em sua passagem por São Paulo, na terça. Uma das referências do artista para entender o mesmo período no Brasil foi o filme O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias (2006), de Cao Hamburger. "Era a Copa de 1978, em que vivemos um paralelo entre o horror e a euforia. Um pouco macabro."Drolas acredita que o envolvimento de Tristán com Ana se dá pelo passado sofrido do professor. "Ele vê nela um fogo que relembra a juventude militante", palpita. Os dois contracenaram em sequências de sadomasoquismo. "Quando montaram tudo, vi a Bianca amarrada. É uma imagem forte, mas isso ajudou a entender a cena, pois não havia ensaio." Mesmo com as cenas fortes que teve em A Menina Sem Qualidades, Drolas afirma ter ficado impressionado de verdade com os diálogos ao assistir às passagens da série. "As cenas mais densas, como as em que ele a vê sofrer são as que mais me aterrorizaram", exagera.Com uma carreira consolidada no teatro na Argentina, o ator tem apenas três longas no currículo, além de poucos trabalhos na TV. Em São Paulo, porém, teve seus momentos de celebridade ao receber pedidos para tirar fotos com fãs nas ruas. "No primeiro dia aqui, eu estava no metrô e me pararam: 'Você não é o cara do Medianeras?", diz, em uma de suas poucas frases em português com sotaque.Drolas relata que, assim como no Brasil, em seu país ainda é preciso de financiamento público para executar projetos culturais e filmes. "Com a mudança para o formato digital, as coisas estão ficando mais baratas, Mas fazemos muita coisa com ajuda do Incaa (Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais)", explica. Segundo ele, a situação por lá não está boa. "Dizem que os períodos de crise são bons para a criatividade. Porém, eu prefiro não experimentar mais crises", desabafa, insatisfeito com a gestão de Cristina Kirchner. "Eu seria mais afeito ao governo se visse uma luta mais decisiva contra a corrupção e pela educação."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.