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Curadoria pode renovar o fringe

Mostra curitibana encerra sua 19ª edição com mudanças que devem reconfigurar o perfil de sua programação

Por Beth Néspoli e CURITIBA
Atualização:

Termina amanhã a 19.ª edição do Festival de Curitiba, que talvez tenha apontado o caminho para sua renovação - uma necessária curadoria no Fringe. Única mostra de artes cênicas nacional com espaço sedimentado no calendário cultural do País, vem sofrendo perda de qualidade com o crescimento desordenado da programação paralela. O festival possui duas grades: 27 espetáculos integraram nesta edição a mostra principal, enquanto outros 374 participam do Fringe. Na primeira, recebem cachês; na segunda, pagam para participar. Desde sua criação em 1998, a ideia era que o Fringe fosse espaço aberto, sem curadoria, todos os inscritos teriam o seu espaço. Doze anos depois, o efeito dessa configuração resulta em problemas técnicos pelo compartilhamento das salas por cinco ou seis montagens diárias. Em vez de crescimento, inchaço, o que fica evidente na presença de 209 montagens curitibanas entre as 226 do Paraná. Quem mora na cidade não tem gastos extras com transporte ou hospedagem e pode participar com menos riscos. Não é desonesto um espetáculo intitulado A Tarada do Boqueirão, pois quem é por ele atraído tem expectativa que provavelmente será satisfeita. Comédias com esse grau de apelo - há muitas outras na grade do evento - sempre terão espaço no "mercado" de produtos culturais, mas precisariam da organização de um festival para serem vistas? Aos poucos, a curadoria chega ao Fringe. Primeiro, em 2007, com uma mostra curitibana organizada por quatro companhias numa sala da Universidade Federal do Paraná, na qual se destacou o grupo Armadilha com Os Leões, criação provocante e cuidada que acabou convidada para outros festivais. Depois foi criada, também por iniciativa dos grupos, a Mostra Pequenos Conteúdos, reunindo experimentações de curta duração, reeditada este ano, da qual participou a montagem paulistana Há Um Crocodilo Dentro de Mim, dirigida por Silvana Garcia. Talvez inspirado no resultado positivo dessas iniciativas, o diretor do festival Leandro Knopfholz convidou curadores para dar um "perfil" de programação a algumas salas do Fringe. Chico Pelúcio, ator do Galpão, escolheu 11 espetáculos que tiveram boa recepção, entre eles o mineiro John & Joe, dirigido por Eid Ribeiro, e o paulistano De Como me Tornei Bruta Flor, dirigido por Cibele Forjaz. Beto Andretta, da Cia. Pia Fraus, ficou com outra sala onde se pode ver o premiado A Noite dos Palhaços Mudos, entre outras montagens, todas com linguagem circense. Se essa prática se estender, o Fringe talvez possa ganhar nova e melhor configuração.Valeria apostar numa mostra curitibana. Há boas companhias na cidade, entre elas a dirigida por Marcos Damaceno, que ano passado se destacou com Árvores Abatidas, solo da talentosa atriz Rosana Stavis. A dupla voltou este ano com Psicose 4h48, de Sarah Kane, e levou ao palco uma partitura gestual e vocal elaborada com apuro. Porém, por trazer o sentimento para o primeiro plano da atuação, diluiu a força do texto e dificultou a escuta da pungente dor que expõe.

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